Primeira reunião do Grupo no hotel Bilderberg (1954)

Desde 1954, una centena de eminentes personalidades da Europa Ocidental e da América do Norte reúnem-se anualmente – à porta fechada e sob condições de rigorosa segurança – no seio do Grupo de Bilderberg. A reunião dura 3 dias e nada se publica sobre os temas tratados.

Depois do desaparecimento da União Soviética, alguns periodistas começaram a interessar-se pelo Grupo de Bilderberg. Vários autores viram nele o embrião de um governo mundial e das principais decisões políticas, culturais, económicas e militares da segunda metade do século XX, uma interpretação que Fidel Castro retomou. Nada permite, no entanto, confirmá-la ou desmenti-la (ver artigo a respeito sobre a Nova Ordem Mundial para ter uma ideia do que isto implica).

Com desejo de perceber o que realmente é, e o que não é o Grupo de Bilderberg, dei-me ao trabalho de buscar documentos e testemunhos. Tive acesso a todos os seus arquivos correspondentes ao período que vai desde 1954 até 1966 e a muitos documentos posteriores e pude conversar com um dos seus antigos convidados, que conheço de há muito tempo. Nenhum jornalista, nem mesmo os bem-sucedidos autores que popularizaram os actuais clichés, tiveram acesso a tantos documentos internos do Grupo de Bilberberg.

Eis aqui o que consegui descobrir e compreender.

A primeira reunião

Setenta personalidades provenientes de 12 países participam em 1954 na primeira reunião do Grupo, um seminário de 3 dias, de 29 a 31 de maio, que se desenrola perto de Arnhem, nos Países Baixos. Os convidados repartem-se entre dois hotéis vizinhos mas os debates desenvolvem-se no estabelecimento principal por cujo nome se conhecerá o Grupo.

Os convites, feitos em papel timbrado do Palácio de Soestdijk [Uma das quatro residências oficiais da família real dos Países Baixos. Nota do Tradutor.], apresentam termos bastante vagos: «Prezaria muitíssimo a sua presença no congresso internacional, sem carácter oficial, que terá lugar nos Países Baixos em fins do mês de maio. Este congresso visa apreciar um certo número de questões de grande importância para a civilização ocidental e tem como objetivo estimular a goodwill [em português, “boa vontade”] e o entendimento recíprocos graças ao livre intercâmbio de puntos de vista». Os convites têm a assinatura do príncipe consorte dos
Países Baixos, Bernhard zur Lippe-Biesterfeld, e vêm junto com várias páginas informativas de índole administrativa sobre o transporte e o alojamento. O máximo que permitem perceber é que haverá delegados dos Estados Unidos e de 11 Estados de Europa Ocidental e que se realizarão 6 sessões de trabalho de 3 horas cada.

Dado o passado nazi do príncipe Bernhard, que foi membro da cavalaria SS até ao seu matrimónio, em 1937, com a princesa Juliana, e o contexto do mccarthysmo daquela época, resulta evidente que as «questões de grande importância para a civilização ocidental» têm que ver com a luta contra el comunismo.

No próprio lugar do encontro, os dois presidentes da reunião – o empresário norte-americano John S. Coleman e o ministro cessante de Relações Exteriores, (Negócios Estrangeiros), da Bélgica Paul van Zeeland – atenuam a dúvida dos convidados. Coleman é um militante do livre mercado enquanto que o ministro Van Zeeland é um partidário da Comunidade Europeia de Defesa (CED) [1]. Finalmente, os participantes verão, num extremo da tribuna, Joseph Retinger, a eminência parda dos britânicos. Tudo parece, pois, indicar que as monarquias holandesa e britânica apadrinharam a realização da reunião em apoio à Comunidade Europeia de Defesa e ao modelo económico de capitalismo de mercado livre por oposição ao antiamericanismo que promovem comunistas e gaulistas.

As aparências, no entanto, são enganadoras. Não se trata de fazer campanha a favor da CED, mas sim de mobilizar as elites a favor da guerra fria.

A personalidade escolhida para convocar os convidados foi Sua Alteza Real o príncipe Bernhard , porque a sua condição de príncipe consorte lhe outorga um carácter de estado, sem ser no entanto oficial. Por detrás dele esconde-se o verdadeiro promotor do encontro: uma organização intergovernamental interessada em manipular os governos de alguns dos Estados que a compõem.

Naquela altura, John S. Coleman ainda não se tinha convertido em presidente da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, mas acaba de criar o Comité de Cidadãos por uma Política Nacional de Comércio (Citizen’s Committee for a National Trade Policy, CCNTP). Afirma que a liberdade de comércio absoluta, ou seja a renúncia a todos os direitos de aduana, permitirá aos aliados dos Estados Unidos aumentar a sua própria riqueza e financiar a Comunidade Europeia de Defesa, leia-se empreender o rearmamento da Alemanha e integrar o seu potencial militar na OTAN.

Os documentos significativos em nosso poder demonstram, sem embargo, que o CCNTP a única coisa que tem de “cidadão” é o nome. Trata-se na realidade de uma iniciativa de Charles D. Jackson, conselheiro da Casa Branca encarregado da guerra psicológica. À cabeça da operação encontra-se William J.Donovan, o ex-chefe da OSS (o serviço de inteligência norte-americano criado durante a Segunda Guerra Mundial), agora encarregue de criar a divisão norte-americana do novo serviço secreto da OTAN, o Gládio [2].

Paul van Zeeland não era só o promotor da Comunidade Europeia de Defensa. É também um político com muita experiência. No fim da ocupação nazi presidiu à Liga Independente da Cooperação Europeia (LICE) que tinha como objetivo a criação de uma união aduaneira e monetária, organização que foi instaurada pelo já mencionado Joseph Retinger.

O próprio Retinger, que funciona como secretário no encontro de Bilderberg, serviu durante a guerra nos serviços secretos ingleses (SOE) do general Colin Gubbins. No Reino Unido, Retinger, um aventureiro polaco, foi conselheiro do governo de Sikorski no exílio. Em Londres, protagonizou o microcosmo dos governos criados no exílio, o qual lhe proporcionou múltiplos contactos na Europa libertada do fascismo.

O seu amigo Sir Gubbins abandonou oficialmente os serviços secretos britânicos e o SOE foi dissolvido. Dirige então uma pequena empresa de tapeçarias e produtos texteis que lhe serve de «cortina». Na realidade, Gubbins está encarregue da criação da divisão inglesa da Gládio. Depois de ter participado em todas as reuniões preparatórias do congresso de Bilderberg, está entre os convidados, sentado ao lado de Charles D. Jackson.
Os participantes ignoram que são de facto os serviços secretos da OTAN que realmente dão origem ao encontro de Bilderberg. O príncipe Bernhard, Coleman e Van Zeeland servem de fachada.

Ainda que jornalistas imaginativos tenham acreditado achar no grupo de Bilderberg a vontade de criar um governo mundial oculto, este clube de personalidades influentes não é senão uma ferramenta de lobbing que a OTAN utiliza para promover os seus próprios interesses. Isto é muito mais sério e muito mais perigoso, já que é a OTAN a que ambiciona converter-se num governo mundial oculto capaz de perpetuar o status quo internacional e a influência dos Estados Unidos.

Além disso, nas reuniões seguintes a segurança do Grupo de Bilderberg não estará a cargo da polícia do país onde se organiza o encontro mas sim de soldados da OTAN.

Entre os 10 oradores inscritos destacam-se dois ex-primeiros-ministros – o francês Guy Mollet e o italiano Alcide de Gasperi –, três responsáveis do Plano Marshall, o falcão da guerra fria Paul H. Nitze e, sobretudo, um poderosíssimo financeiro, David Rockefeller.

Segundo os documentos preparatórios, uma vintena de participantes estão ao corrente do segredo. Conhecem mais ou menos em detalhe quem são os que realmente manejam o show e escreveram de antemão as suas intervenções. Até os menores detalhes estão previstos e não é deixado lugar à mínima improvisação. Por outro lado, os demais participantes, uns cinquenta, ignoram por completo o que se está tramando. Foram escolhidos para que exerçam a sua influência sobre os seus respectivos governos e sobre a opinião pública dos seus países respectivos. Assim, o seminário foi organizado para convencê-los e para levá-los a implicarem-se na propagação das mensagens que se querem divulgar.

Em vez de abordar os grandes problemas internacionais, as intervenções analisam a suposta estratégia ideológica dos soviéticos e explicam o método a seguir para contrariá-la no «mundo livre».

As primeiras intervenções avaliam o perigo comunista. Os «comunistas conscientes» são indivíduos que pretendem pôr a sua pátria ao serviço da União Soviética para impor ao mundo um sistema colectivista. E há que combatê-los. Mas trata-se de uma luta difícil já que estes «comunistas conscientes» estão disseminados por toda a Europa dentro de una massa de eleitores comunistas que nada sabem dos seus sinistros propósitos e que os seguem com a esperança de obter melhores condições sociais.
La retórica endurece pouco a pouco. O «mundo livre» deve enfrentar o «complô comunista mundial», não só de forma geral mas dando também resposta a problemas concretos vinculados aos investimentos norte-americanos na Europa e à descolonização.

Finalmente, os oradores abordam o problema principal que, segundo afirmam eles, os soviéticos estão explorando em seu próprio benefício: por razões culturais e históricas, os responsáveis políticos do «mundo livre» empregam argumentos diferentes nos Estados Unidos e na Europa, argumentos que por vezes se contradizem. O caso mais emblemático é o das purgas que organiza o senador McCarthy nos Estados Unidos.
Estas são indispensáveis para salvar a democracia, mas o método utilizado é visto na Europa como uma forma de totalitarismo.

A mensagem final é que não há negociação diplomática nem compromisso possível com os «Vermelhos». Há que impedir, custe o que custar, que os comunistas logrem desempenhar um papel na Europa Ocidental. Mas será necessário actuar com astúcia. Como não se podem prender e fuzilar, haverá que neutralizá-los com discrição, sem que os eleitores se deem conta. Ou seja, a ideologia que se desenvolve no encontro é a da OTAN e da Gládio. Nunca se dirá ali que se recorreria a fraude eleitoral nem que os indecisos seriam assassinados, mas todos os participantes admitiram que, para salvar o «mundo libre», havia que por as liberdades entre parêntesis.

Ainda que o projecto da Comunidade Europeia de Defesa (CED) fracasse 3 meses más tarde devido aos golpes que lhe assestaram tanto deputados comunistas como «nacionalistas extremistas», ou seja os gaulistas, o seu objetivo não era na realidade apoiar a criação da CED nem nenhuma outra medida política em particular mas sim divulgar uma ideologia no seio da classe dirigente e transmiti-la depois, através da dita classe, ao resto da sociedade. Objetivamente, los cidadãos da Europa Ocidental dispunham de cada vez mais informação sobre as liberdades que não tinham os habitantes da Europa Oriental, mas tinham cada vez menos consciência das liberdades que eles mesmos iam perdendo na Europa Ocidental.

O Grupo de Bilderberg converte-se numa organização

Um segundo congresso é organizado então em França, de 18 a 20 de março de 1955, na localidade de Barbizon.

Pouco a pouco vai impondo-se a ideia de que estes congressos vão realizar-se anualmente e que é necessário organizar um secretariado permanente. O príncipe Bernhard afasta-se logo que se evidencia a sua participação num caso de tráfico de influência – o escândalo Lockheed-Martin). Cede então a presidência ao ex-primeiro ministro britânico Alec Douglas Home (de 1977 a 1980). A presidência do Grupo de Bilderberg será ocupada posteriormente pelo ex-chanceler e presidente da RFA Walter Scheel (de 1981 a 1985), o ex-governador do Banco de Inglaterra Eric Roll (de 1986 a 1989), o ex-secretário general da OTAN Peter Carrington (de 1990 a 1998) e finalmente pelo ex-vice presidente da Comissão Europeia Étienne Davignon (desde 1999).

O presidente do Grupo de Bilderberg contou durante muito tempo com a ajuda de dois secretários gerais, um para Europa e Canadá – os Estados
vassalos – e outro para Estados Unidos – e o monarca. Mas actualmente existe apenas um secretário, desde 1999.

De ano a ano, os debates tornam-se muito repetitivos. Por isso mudam-se os convidados. Há sempre um núcleo central que se encarrega de preparar o seminário de antemão e outros personagens que vêm pela primeira vez, e aos que se inculca a retórica atlantista do momento.

Os encontros anuais reúnem actualmente mais de 120 participantes, um terço dos quais são membros do núcleo. A aliança atlântica seleciona-os segundo a importância dos seus contactos e a sua capacidade de influência, independentemente das funções que exerçam na sociedade, e continuam a ser membros do núcleo central quando mudam de ocupação.

Vejamos a lista exacta do dito núcleo, incluindo os membros do Conselho de administração, que servem de vitrina para os convidados, e alguns dos membros que se mantêm menos visíveis para não assustar os novos.

Étienne Davignon, Secretário-Geral do Grupo Bilderberg

Conselho de administração

Josef Ackermann Banqueiro suíço, diretor do Deutsche Bank, vice-presidente do Forum de Davos.
Roger C. Altman Banqueiro norte-americano, ex-conselheiro das campanhas eleitorais de John Kerry e de Hillary Clinton, diretor do banco de negócios Evercore Partners Inc.
Francisco Pinto Balsemão Ex-primeiro ministro social-democrata de Portugal (de 1981 a 1983), presidente fundador do principal grupo português de televisão privada SIC. (T)
Fran Bernabè Banqueiro italiano, actual proprietário de Telecom Italia (T)
Henri de Castries Presidente-diretor geral da companhia francesa de seguros AXA
Juan Luis Cebrián Diretor do grupo espanhol de imprensa escrita e audiovisual Prisa.
W. Edmund Clark Banqueiro canadiano, Presidente do Toronto-Dominion Bank Financial Group
Kenneth Clarke Ex- vice presidente da British American Tobacco (de 1998 a 2007), chanceler e ministro britânico da Justiça, vice-presidente do Movimento Europeu UK.
George A. David Presidente-diretor geral da Coca-Cola.
Étienne Davignon Homem de negócios belga, ex-vice presidente da Comissão Europeia (de 1981 a 1985), actual vice-presidente de Suez-Tractebel.
Anders Eldrup Presidente-diretor geral da companhia dinamarquesa de gás e petróleo DONG Energy.
Thomas Enders Diretor da Airbus.
Victor Halberstadt Professor de economia na universidade holandesa de Leiden, conselheiro de diversas empresas como Goldman Sachs y Daimler-Chrysler.
James A. Johnson Financeiro norte-americano, foi um dos principais responsáveis do Partido Democrata e esteve entre os artífices da investidura de Barack Obama. É vice-presidente do banco de negócios Perseus.
John Kerr of Kinlochard Ex-embaixador do Reino Unido em Washington, vice-presidente do grupo petroleiro Royal Dutch Shell (T)
Klaus Kleinfeld Presidente-diretor geral alemão do gigante norte-americano do alumínio Alcoa.
Mustafa V. Koç Presidente-diretor geral da holding Koç, a empresa mais importante da Turquia.
Marie-Josée Drouin-Kravis Editorialista sobre temas económicos na imprensa escrita e audiovisual de Canadá. Investigadora do extremadamente militarista Hudson Institute. É a terceira esposa de Henry Kravis.
Jessica T. Mathews Ex-diretora de assuntos globais no Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos. Actual diretora da Fundação Carnegie.
Thierry de Montbrial Economista, diretor fundador do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI) e da World Policy Conference.
Mario Monti Economista italiano, ex-comissário europeu para a concorrência (de 1999 a 2005), co-fundador do Spinelli Group para o Federalismo europeu.
Egil Myklebust Ex-presidente do patronato norueguês, diretor da Scandinavian Airlines System (SAS).
Matthias Nass Diretor adjunto do diário alemão Die Zeit
Jorma Ollila Homem de negócios finlandês, ex-presidente-diretor geral de Nokia, actual presidente do grupo petroleiro Royal Dutch Shell.
Richard N. Perle Ex-presidente do Conselho de Consulta de Defesa do Pentágono, é um dos principais líderes dos chamados straussianos (os discípulos de Leo Strauss) e, portanto, importante figura dos neoconservadores.
Heather Reisman Mulher de negócios canadiana, Presidente-diretora geral do grupo de edição Indigo-Chapters.
Rudolf Scholten Ex-ministro das Finanças da Áustria, governador do Banco Central.
Peter D. Sutherland Ex-comissário europeu irlandês para a concorrência. Foi posteriormente diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Actual presidente de Goldman Sachs International. Ex-presidente da secção europeia da Comissão Trilateral e vice-presidente da European Round Table of Industrialists, actual presidente de honra do Movimento Europeu na Irlanda.
J. Martin Taylor Ex-deputado britânico, Presidente-diretor geral do gigante da química e da actividade agroalimentar Syngenta.
Peter A. Thiel Chefe de empresa norte-americano, Presidente-diretor geral da PayPal, presidente da Clarium Capital Management e, devido a essa posição, acionista da Facebook.
Daniel L. Vasella Presidente-diretor geral do grupo farmacêutico suíço Novartis.
Jacob Wallenberg Banqueiro sueco, é administrador de numerosas companhias transnacionais.
Henry Kissinger, principal responsável das pessoas a convidar no seio do Grupo Bilderberg

Membros dissimulados do núcleo

Carl Bildt Ex-primeiro ministro liberal da Suécia (de 1991 a 1994), ex- enviado especial da União Europeia e posteriormente da ONU nos Balcãs (de 1995 a 1997 y de 1999 a 2001), actual ministro sueco de Relações Exteriores. (T)
Oscar Bronner Presidente-diretor geral do diário austríaco Der Standard.
Timothy C. Collins Financeiro norte-americano, diretor do fundo de investimento Ripplewood. (T)
John Elkann Presidente-diretor geral do grupo automobilístico italiano Fiat (o seu avô Gianni Agnelli foi durante 40 anos um dos promotores do Grupo de Bilderberg. Herdou a fortuna familiar aquando da morte, por causas naturais, do seu avô Giovanni e da prematura morte do seu tio Edoardo, que se tinha convertido ao Islão xiita. Existe a convicção, em fontes policiais, que Edoardo foi assassinado para que a fortuna voltasse ao ramo judeu da família).
Martin S. Feldstein Ex-conselheiro económico de Ronald Reagan (de 1982 a 1984) e actual conselheiro económico de Barack Obama. Foi também conselheiro de George W. Bush para a inteligência exterior. Dá aulas em Harvard. (T)
Henry A. Kissinger Ex-conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos e ex-secretário de Estado, personalidade central do complexo militar-industrial norte-americano, actual presidente da firma de consultadoria Kissinger Associates.
Henry R. Kravis Financeiro norte-americano com cargo de gestão do fundo de investimento KKR. É um dos principais angariadores de fundos do Partido Republicano.
Neelie Kroes Ex ministra holandesa dos Transportes, comissária europeia para a concorrência e actual comissária para a sociedade numérica.
Bernardino Léon Gross Diplomata espanhol, secretário-geral da presidência do governo socialista de José Luis Rodríguez Zapatero.
Frank McKenna Ex-membro da Comissão de Vigilância dos serviços de inteligência canadianos, embaixador do Canadá em Washington (de 2005 a 2006), vice-presidente do Banco Toronto-Dominion.
Beatrix des Pays Bas Rainha da Holanda. É a filha do príncipe Bernhard.
George Osborne Ministro britânico das Finanças. Este personagem neoconservador é considerado como um eurocéptico, o que implica que se opõe à integração do Reino Unido na União Europeia, ainda que seja partidário da organização do continente no seio da UE.
Robert S. Prichard Economista canadiano, diretor do grupo de imprensa escrita e audiovisual Torstar.
David Rockefeller É o patriarca de uma grande dinastia de financeiros e o mais antigo membro do núcleo do Grupo de Bilderberg. É também presidente da Comissão Trilateral, organização similar em que participam personagens asiáticos.
James D. Wolfensohn Financeiro australiano que adotou a nacionalidade norte-americana para converter-se em presidente do Banco Mundial (de 1995 a 2005). Actual diretor da firma de consultadoria Wolfensohn & Co.
Robert B. Zoellick Diplomata norte-americano, ex-delegado do Comércio dos Estados Unidos (de 2001 a 2005), actual presidente do Banco Mundial.
David Rockefeller, conselheiro do Grupo Bilderberg

Os membros do Grupo de Bilderberger não envolvem no Grupo as empresas ou instituições em que trabalham. É, sem dúvida, interessante observar a diversidade de sectores em que desenvolvem as suas actividades.

O grupo de influência da organização militar mais poderosa do mundo

A quantidade de temas abordados nos encontros anuais do Grupo de Bilderberg foi aumentando nos últimos anos, em função da actualidade internacional. Mas isso não nos diz nada novo, já que essas discussões não têm em si mesmas nenhum objetivo. Não passam de pretextos para comunicar mensagens. Não tivemos acesso, infelizmente, aos documentos preparatórios mais recentes, pelo que só podemos pois inferir as consignas que a OTAN trata de divulgar através destes líderes de opinião.

A reputação do Grupo de Bilderberg levou alguns a atribuir-lhe capacidades de nomeação. Trata-se de uma tontice, que esconde além do mais a identidade dos que realmente manejam os cordelinhos no seio da Aliança Atlântica.

Diz-se, por exemplo, que durante a mais recente campanha para a eleição presidencial norte-americana, Barack Obama e Hillary Clinton desapareceram durante todo um dia, a 6 de junho de 2008, para negociar o fim da sua rivalidade. Na realidade foram ao seminário anual do Grupo de Bilderberg, na localidade norte-americana de Chantilly, Estado da Virgínia. No dia seguinte, a senhora Clinton anunciava a sua saída da corrida presidencial. Alguns autores concluíram então que a decisão se havia tomado durante a reunião do Grupo de Bilderberg, o que é ilógico na medida em que aquela decisão já era um facto desde há 3 dias atrás devido à quantidade de votos que o senador Obama tinha obtido no comité de investidura do Partido Democrata.

Segundo a nossa fonte, o que sucedeu naquele dia foi outra coisa. Barack Obama e Hillary Clinton reuniram-se em privado para concluir um acordo financeiro e político. O senador Obama reinjectou fundos na caixa da sua rival e ofereceu-lhe um posto na sua administração – a senhora Clinton rechaçou a vice-presidência e escolheu o Departamento de Estado – a troco do seu activo apoio na campanha contra o candidato republicano. James A. Johnson apresentou depois os dois líderes no seminário de Bilderberg, onde ambos asseguraram aos participantes que trabalhariam juntos. Já muito antes, Barack Obama era o candidato da OTAN. O senhor Obama e a sua família sempre trabalharam para a CIA e o Pentágono [3]. Além disso, os primeiros fundos para a sua campanha eleitoral foram proporcionados pela coroa de Inglaterra através do homem de negócios Nadhmi Auchi. Ao apresentar o senador negro ante os participantes do encontro de Bilderberg, a Aliança Atlântica estava organizando à escala internacional as relações públicas do futuro presidente dos Estados Unidos.

Também se reportou que o Grupo de Bilderberg organizou então uma ceia que não estava prevista, fora do marco do seminário, e que se desenrolou a14 de novembro de 2009 no castelo de Val Duchesse, propriedade do rei da Bélgica. O ex-primeiro ministro belga Herman van Rompuy pronunciou um discurso naquela ocasião. Cinco dias depois, Van Rompuy foi eleito presidente do Conselho Europeu. Também neste caso vários autores concluíram erroneamente que o Grupo de Bilderberg o havia «posto no cargo».

Na realidade, o presidente da União Europeia não pode ser uma personalidade que não forme parte dos círculos da OTAN já que – e é importante recordá-lo – a própria União Europeia é fruto das cláusulas secretas do Plano Marshall. E a pessoa escolhida deve contar, portanto, com o aval dos Estados membros da OTAN. Trata-se, por conseguinte, de uma decisão que exige grandes negociações e que não se toma simplesmente durante una ceia entre amigos.

Também segundo a nossa fonte, o presidente do Grupo de Bilderberg, Étienne Davignon, convocou aquela ceia imprevista para propiciar a apresentação de Van Rompuy ante os seus vectores de influência. Aquilo tornava-se mais indispensável ainda na medida em que o homem escolhido para converter-se no primeiro presidente da União Europeia – cargo que acabava de ser criado – era um perfeito desconhecido fora do seu próprio país. Durante aquela ceia, o senhor Van Rompuy expôs o seu programa de criação de um imposto europeu destinado a financiar diretamente as instituições da União Europeia sem ter que depender dos Estados membros. O papel dos participantes no encontro do Grupo de Bilderberg não era outro senão o de dizer depois em todo o lado que já conheciam Herman Van Rompuy e que eram testemunhas das suas qualidades como presidente da UE.

A realidade sobre o Grupo de Bilderberg é portanto menos romântica do que alguns autores de sucesso têm imaginado. O incrível dispositivo de forças militares que garante a sua segurança não se destina tanto a protegê-lo mas mais a impressionar os próprios participantes. Não expressa o poder destes últimos mas apenas lhes demonstra que o único verdadeiro poderio no Ocidente é o da OTAN. Resta por parte dos participantes decidir se a apoiam para que ela os apoie a eles, ou se a combatem e se expõem assim a ser esmagados.

Além do que, apesar de ter desenvolvido nos seus começos uma retórica anticomunista, o Grupo de Bilderberg não era anti-soviético, como tampouco é hoje anti-russo. O que faz é seguir uma estratégia da Aliança Atlântica que não constitui um pacto contra Moscovo mas que está destinada a defender – e de ser possível a esticar – a zona de influência de Washington. No momento da sua criação, a OTAN concebeu a esperança de lograr que a União Soviética se integrasse nela, o qual tivesse implicado o compromisso de Moscovo manter a divisão do mundo que tinha resultado das conferências de Postdam e de Yalta. A Aliança Atlântica acolheu recentemente o presidente russo Dimitri Medvedev na cimeira de Lisboa e propôs-lhe que a Rússia se unisse a ela. Não se trataria pois de uma relação de vassalagem mas sim do reconhecimento da Nova Ordem Mundial, na qual toda Europa Central e Oriental caiu na órbita norte-americana. Uma adesão russa seria de certa forma como uma espécie de tratado de paz: Moscovo reconheceria assim a sua derrota na guerra fria e a nova repartição do mundo.

Nesse caso, o Grupo de Bilderberg convidaria personalidades russas para as suas reuniões anuais. Não lhes pediria que influíssem na opinião pública russa para americanizá-la, mas sim para convencê-la a que renunciasse definitivamente aos sonhos de grandeza do passado.

Tradução
Alva
Fonte
Komsomolskaïa Pravda (Rússia)

[1A CED é um projecto que tinha como objetivo la criação de um exército europeu integrado na OTAN. Foi rechaçado em 1954 pelo parlamento francês, a instâncias dos seguidores do general Charles de Gaulle e do Partido Comunista Francês. Haverá que esperar até 2010-2011 para que aquele projecto comece a concretizar-se graças à conivência franco-britânica no seio da OTAN que dá início à guerra contra Líbia.

[3«La biographie cachée des Obama: une famille au service de la CIA» (2 partes), por Wayne Madsen, Réseau Voltaire, 30 de agosto e 20 de setembro de 2010.