São históricas e abundantes as proclamações dos chefes de Estado em favor da integração latino-americana. Mais recentemente, após a constituição da Comunidade Européia - na qual os verdadeiros interesses das maiorias sucumbiram ante a imposição dos países capitalistas europeus mais poderosos -, o tema ganha nova força, especialmente porque surge dos Estados Unidos a proposta de criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), com sua evidente intenção de anexar as economias latino-americanas.

No entanto, muitos chefes de Estado da região, apesar da retórica do integracionismo, continuam colocando em prática políticas de entreguismo de suas economias à oligarquia financeira internacional. E tangenciam a adoção de medidas, de fato, integracionistas e de valorização da independência da região ante a voracidade das transnacionais. Ou seja, deve ser questionada a validade de uma integração de economias cada vez mais internacionalizadas e controladas por mecanismos diversos, sofi sticados e não questionados.

Exemplo: a economia brasileira já tem 75% de seu PIB controlados por não-residentes. O crescimento econômico será o crescimento da acumulação de uma economia sob o controle de forças externas. E a integração de economias internacionalizadas, sem transformação do modelo econômico, é a confirmação do controle estratégico das transnacionais sobre esses processos de integração das economias de periferia.

Um verdadeiro caminho de integração, com soberania, solidariedade e independência, sem apetites de rapina e questionando os mecanismos coloniais em vigor, vem com a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), que recebeu novo impulso dia 15, por meio de declaração conjunta assinada pelos governos da Venezuela e de Cuba, durante visita do presidente Hugo Chávez a Havana.

Mais que a reiteração de que a Alca é um projeto morto, Fidel Castro e Hugo Chávez rompem com a retórica vazia e consolidam um programa de cooperação que é um verdadeiro exemplo para os povos das Américas. Além da decisão conjunta de promover a Alba, Cuba e Venezuela decidiram ampliar uma cooperação para a área das telecomunicações, incluindo a utilização mútua de satélites. Ficou acertado também que Cuba vai isentar de impostos todos os investimentos de empresas estatais, mistas ou privadas venezuelanas, feitos na Ilha, durante todo o período de recuperação do valor investido.

A partir de agora, navios venezuelanos já têm as mesmas condições que navios cubanos para uso de qualquer porto da ilha. Na área do petróleo, Cuba compromete-se a pagar o preçogarantia mínimo de 27 dólares por barril do combustível importado da Venezuela. Basta lembrar que o sistema de comércio de petróleo, controlado pelas transnacionais, já derrubou o preço do barril a 10 dólares. Qualquer importação, por Cuba, de produtos de origem venezuelana, estará livre de taxas aduaneiras ou não aduaneiras.

O acordo de integração prevê ainda a instalação de bancos estatais nos dois países e a admissão de pagamento em moeda venezuelana na compra de produtos de Cuba. Finalmente, pelo acordo de cooperação, Cuba concederá 2 mil bolsas de estudo por ano para que estudantes venezuelanos realizem o curso superior na ilha, enquanto os 15 mil médicos cubanos que hoje já atendem os programas sociais em território venezuelano estarão à disposição da Universidade Bolivariana da Venezuela para atuar como professores visando ampliar substancialmente o número de médicos integrais venezuelanos.

Enquanto várias armadilhas são lançadas para difi cultar os processos de consolidação seja do Mercosul, ou da Comunidade Sul-Americana das Nações, Cuba e Venezuela demonstram, sem retóricas, que uma nova integração é possível, desde que não submetida aos crivos coloniais do sistema financeiro internacional nem das transnacionais que controlam desde a matriz as economias periféricas, manipulando seus projetos, inventando crises, limitando e transfi gurando drasticamente a “cooperação” em benefício de um comércio dominado por empresas estrangeiras, que transfere todos os lucros para as metrópoles, enquanto os povos seguem rapinados, empobrecidos e vilipendiados.

Editorial de Brasil de Fato