Em uma hora como esta, é bom recordar as origens do racismo e por que ele se introduziu tão profundamente na mentalidade das sociedades ocidentais. Durante séculos, a sociedade brasileira foi norteada pela escravidão, que definia que “trabalho é coisa de raça inferior”.

Já que ele veio de novo à tona, através do futebol, é bom lembrar quais são as raízes do racismo atual. No momento em que Lula vai à ilha da Gorée, no Senegal, de onde foram enviados milhões de negros - depois de serem selecionados como carne em supermercado, inclusive pela Igreja Católica -, arrancados de seus países de origem para trabalhar como escravos, produzindo nos nossos países riqueza para os colonizadores europeus, é bom lembrar, antes de tudo, que a escravidão está nas origens do racismo.

A escravidão - o direito reivindicado pelos colonizadores, por meio da força, de utilizar trabalho negro para enriquecerem - define que “trabalho é coisa de raça inferior”. Foi esse o princípio que norteou a sociedade brasileira - entre outras do continente - durante mais de três séculos e até há apenas pouco mais de um século. Nada estranho que fiquem tantas raízes de racismo, ainda mais que desde então, ao não propiciar aos negros, no final da escravidão, condições de desenvolvimento econômico, social, político e cultural.

Posteriormente, fomos influenciados pelas concepções colonizadoras e racistas da ideologia ocidental. Edward Said já demonstrou como a literatura ocidental trata os países da periferia como espaços de barbárie, na categoria indiferenciada de “orientalismo”. Em seguida, Hollywood se encarregou de disseminar essa visão pelo mundo todo.

Afinal, o que é o cinema de “far west” senão a devastadora destruição das culturas e do mundo das populações nativas estadunidenses pelo avanço do processo de colonização realizado pelos “brancos” ocidentais e suas “missões” civilizadoras? De tal forma essa visão apresentada em John Wayne, “o americano indômito”, seu protagonista padrão, era maniqueísta e criminalizadora dos povos nativos. Os agentes do genocídio eram chamados de “mocinhos” e os “peles vermelhas”, automaticamente, de “bandidos”.

O cinema de guerra estadunidense, o que é senão a criminalização das outras raças? É o caso dos asiáticos, como os japoneses na Segunda Guerra e os chineses na Guerra da Coréia, os negros, como nos filmes de “caçada na África”, os árabes, nos mais recentes filmes sobre “terrorismo”, e os latino-americanos, nos filmes sobre “tráfico de drogas”, sobre “contrabando na fronteira”, sobre “imigração ilegal”. Sempre a criminalização das outras “raças”.

Os alemães, que fizeram a maior “limpeza étnica” da história, com o holocausto contra os judeus, os comunistas e os ciganos, foram poupados. O único grande filme sobre o nazismo, filmado nos EUA, foi “O grande ditador”, de Charles Chaplin, que teve que abandonar esse país antes mesmo da estréia do filme, pelo clima insuportável criado nos EUA. Os alemães são poupados porque são idênticos aos estadunidenses: brancos, ocidentais, protestantes.
Em uma hora como esta, é bom recordar as origens do racismo e por que ele se introduziu tão profundamente na mentalidade das sociedades ocidentais.

Agencia Carta Maior