As conseqüências das agressões sofridas no lar - se é se pode chamar assim uma casa onde há violência - requerem custos econômicos enormes, são despesas com médicos, apoio social e psicológico, abrigo, entre outros. Mas, o preço da violência ultrapassa o valor financeiro.

Dinheiro não é o empecilho para que isso seja solucionado. Melhor se fosse. O custo a ser levado em consideração é o pessoal e o social do sofrimento das vítimas.

Freqüentemente, a sociedade enxerga as agressões que acontecem dentro da casa do vizinho, por exemplo, como um problema localizado e, preferem não se interferir. Esse pensamento é bastante comum, já que não imaginam a ligação que há entre a violência daquela casa e a que ocorre na esquina. A agressão cometida num ambiente familiar não é menos grave, ou merece tão ou mais a atenção das pessoas.
Além disso, as pessoas não costumam projetar as conseqüências da educação dada àquela criança agredida na casa do vizinho na sociedade. Pessoas que sofreram violência na infância, quando crescem, reproduzem essa atitude, tornando-se adultos violentos. A violência não é hereditária, mas sim aprendida.

A família como base do desenvolvimento humano deve ser o ponto de partida para uma criança receber orientação e amor. No entanto, diversas famílias proporcionam esse desenvolvimento moldado por agressões gratuitas ou ainda violência justificada supostamente pelo amor.
A perpetuação da violência assegura e reforça as relações de poder historicamente desiguais e injustas entre os membros da família. Seja do homem sobre a mulher ou dos pais sobre os filhos. Reproduz, dessa maneira, uma atitude doente, de geração em geração, que se repete e se agrava através dos tempos.

Esse comportamento está arraigado na cultura e, por conseqüência, na educação de todos; e, sem perceber, as pessoas encaram o problema como algo ‘aceitável’ e ‘comum’. É comum que não só as famílias que sofrem com a violência, mas também toda a sociedade fechem os olhos para as barbáries que estão por todos os lados gritando por socorro. As pessoas recusam-se a enfrentar tal realidade e, por conta dessa omissão - a qual pode ser chamada de cumplicidade -, permitem e até, por que não dizer, encorajam a violência.

É importante ressaltar que a autoridade dos pais na família deve ser fundamentada no respeito e não nas relações de poder exercidas pelos mais fortes sobre os mais fracos. Os pais fazem uso da necessidade que os filhos têm de seus cuidados e, com esse poder, manipulam a relação. O pátrio poder em relação à criança cria uma dependência ainda mais cruel ao passo que o filho fica à espera de amor, mas os pais podem decidir por conceder ou retirar esse sentimento, ou ainda transformá-lo em algo bem perverso.

Os pais são capazes de criar uma confusão imensa nos filhos quando maltratam e dizem que o fazem em nome do amor que sentem por eles. Nesse momento, as crianças chegam a relacionar a dor provocada pelos pais ao carinho que dizem sentir. A criança fica sem defesa pelo fato de tratar-se de alguém da família. Pois, se por um lado aprendeu a desconfiar de estranhos, por outro, disseram-lhe que ‘na família tudo é permitido’. O domínio sobre a criança pode ser exercido facilmente.

Todos os caminhos que levam à discussão sobre como educar os filhos, num momento ou em outro, chegam à violência como ‘solução’. A punição é resultado de tolerância cultural, a sociedade já está acostumada ao castigo físico como procedimento educativo, dentro de uma estrutura de poder autoritária. Tal situação é mantida pela figura do pátrio-poder, que permanece intocável.

Lamentavelmente, o que se ouve com grande freqüência é: ‘um tapinha não faz mal a ninguém’. Tal expressão não se justifica, já toda ação que causa dor física numa criança, varia desde um simples tapa até o espancamento fatal. Embora um tapa e um espancamento sejam diferentes, o princípio que rege os dois tipos de atitude é exatamente o mesmo: utilizar a força e o poder.

Muitos pais dizem crer que uma ‘simples palmadinha’ não é violência e que pode ser um recurso eficiente. No entanto, bater não passa de uma atitude equivocada de descarregar a tensão e a raiva em alguém próximo e que não pode se defender.

A mãe deixa sempre claro que o bebê que ela concebeu é ‘filho dela’ - o uso do indicativo de posse é inevitável e nem sempre traz uma conotação de orgulho e carinho. Muitas vezes, a expressão ‘o filho é meu’ carrega a intenção de mostrar a quem quer que seja que ‘faço o que quiser com ele, é meu’. Isso intimida a sociedade para que não haja interferência naquela relação de posse.
A violência doméstica contra crianças assume contornos nem sempre brutais e evidentes, ou seja, nem sempre deixam marcas físicas. Muitas vezes, são constantes agressões ‘cuidadosas’ - para não marcar, atitudes que humilham, gestos de raiva, negligência e outras violências sutis que também deterioram, destroem, estraçalham, ou, no mínimo, atrapalham o desenvolvimento da criança e deixam conseqüências drásticas, não só no corpo, mas principalmente nas lembranças.

Fonte
Adital (Brasil)
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