Além disso, desde o mês de abril, os zapatistas têm apresentado ao México o que chamam de "outra campanha", que é a caminhada do sub-comandante Marco por todos os cantos do país visando a conscientização de cada mexicano. Segundo o líder zapatista, para os "de abajo" muito pouco importa quem vai vencer a eleição, porque as políticas seguem sendo as mesmas. Daí a importância de o povo conhecer sua história e sua força. "A mudança só vem pela mão do povo organizado", diz o sub.

No meio desse turbilhão, o mês de maio tem apresentado fatos que certamente vão influenciar bastante na decisão de cada eleitor. O mais perverso deles aconteceu no dia três, na cidade de San Salvador de Atenco. Ali, uma proposta de retirada de ambulantes, vendedores de flores, do mercado local, levou os trabalhadores a resistir à ordem. A população, indignada, entrou no conflito e saiu às ruas, trancando estradas e realizando manifestações. A polícia local tentou agir, mas foi rechaçada pelo povo. Como o povoado de Texcoco também entrou no bloqueio, a polícia federal foi chamada e, em pouco tempo, a região se transformava num barril de pólvora. Todos os elementos de uma guerra apareceram na pacata cidade. Tiros, gás, sangue, gritos, terror. No dia quatro, tomado por uma sanha violenta, o exército mexicano ocupou a cidade de forma cinematográfica com mais de três mil homens. O povoado virou uma praça de guerra e a incursão acabou com mais de 100 manifestantes presos. Um garotinho acabou morto.

O episódio em Atenco levantou os movimentos sociais que sairam às ruas protestando contra a violência do governo Fox, o que fatalmente vai respingar no candidato governista. O sub Marco chamou os povos originários a se levantarem contra mais esse ato de repressão aos movimentos de luta. Mas, a brutal batalha de San Salvador de Atenco contra floristas e comunidade ainda reservaria outras facetas. Dias depois, um Centro de Direitos Humanos divulgava que mais de 20 das mulheres detidas pela polícia durante o conflito tinham sido violentadas por policiais. Valentina Palma, uma estudante chilena que estava no local fazendo um vídeo conta como foi abusada nas páginas do jornal La Jornada. "Violentaram a mim e a outras mulheres". Dias depois, outros relatos foram aparecendo e agora o governo anuncia que vai investigar a participação de pelo menos 52 policiais nesses episódios, mas a declaração do presidente Fox deixa bem claro o seu pensamento: " A força pública atuou para trazer a paz".

O caso de Atenco ainda está longe de terminar e nesta semana outro fato deixou os mexicanos certos de que mudanças precisam acontecer no país, e rápido. O governo de Vicente Fox acertou com o governo de George Bush, dos Estados Unidos, um acordo para ajudar na vigilância junto ao muro que separa os dois países, numa ação que faz parte do projeto de controle migratório alavancado pelos parlamentares republicanos dos EUA. Além disso, aceitou que a região seja completamente militarizada, vigiada por mais de seis mil soldados estadunidenses, tornando a faixa fronteiriça ainda mais explosiva.Outra medida tomada nos EUA e que encontrou eco no governo mexicano foi a decisão de construir mais 595 quilômetros de muro na fronteira com o México, o levantamento de mais 800 quilômetros de barreiras para impedir o acesso de carros, e aumentar em duas vezes a altura do muro que já está construído. Segundo o parlamentar estadunidense que apresentou a proposta, Jeff Sessions, "é preciso mostrar ao mundo que as fronteiras estão fechadas e que boas cercas fazem bons vizinhos". Essa medida é uma vitória importante dos deputados e senadores que querem fazer a reforma na lei de imigração, que tem levado milhares de imigrantes às ruas dos Estados Unidos em manifestações inéditas.

Como grande parte dos imigrantes nos Estados Unidos é de mexicanos e a luta contra a loucura separatista do muro da morte é uma bandeira do povo, os movimentos sociais no México estão mobilizados e fazem críticas a posição de subserviência que o governo de Vicente Fox assume. O fato é que o caldeirão está fervendo e quem conhece a história mexicana sabe que debaixo dos sombreros existem olhos vigilantes, à espreita. Muitas vezes, a aparente calmaria só esconde um vulcão prestes a explodir. Quando um povo é submetido sistematicamente a uma violência sem trégua, pode até tardar, mas ele se rebela. O México moderno é reduto de empresas maquiladoras, que exploram e esgotam a vida das gentes e da natureza, é campo de batalha de camponeses e povos originários em luta por terra, trabalho e dignidade. O povo mexicano vai saber responder à violência da base de sua histórica altura.

Fonte
Adital (Brasil)
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