Após dois anos de combates, está claro que Exército árabe sírio, concebido para defender o território em caso de guerra convencional, não está em condições de estabilizar o país ao mesmo tempo que prossegue a sua missão principal. Ele venceu sem dificuldade os jihadistas de cada vez que eles se reagruparam, mas ele não tem a capacidade para combater uma guerrilha móvel, que compensa o seu fraco suporte popular com uma poderosa ajuda logística estrangeira.

Finalmente, a Síria resolveu-se a adoptar uma nova estratégia que deu bons resultados em todo o mundo, logo que uma situação semelhante ocorreu: a criação de milícias populares permitindo às populações assegurar a defesa das suas aldeias ou dos seus bairros, que elas são as únicas conhecer como ninguém. Este «Exército de defesa nacional», cujos membros vêm dos Comités populares, está, é claro, subordinado ao comando do Exército árabe sírio, e é preciso ter cumprido o seu serviço militar para o poder integrar.

Mao Tsé Tung explicava que, para vencer, uma guerrilha deve viver «entre a população como um peixe na água». Ora, o Exército sírio livre mostrou-se incapaz de o fazer. Logo que controla uma zona comete todo o tipo de violências e os habitantes revoltam-se contra ele.

Para chegar à vitória, o Exército árabe sírio deverá ser bem sucedido lá onde os jihadistas falharam: mover-se «na população como um peixe na água». Embora saído da população, já que é um exército de conscritos, ele não consegue vencer por si só porque a sua organização centralizada o corta das realidades locais. Deverá pois apoiar-se numa força intermédia, que lhe sirva de interface com a população local, em cada povoado e em cada bairro.

Além disso, O Exército de defesa nacional está submetido a uma estrita disciplina. Armas e uniformes apenas são entregues a voluntários, jovens homens e jovens mulheres, escolhidos a dedo. Segue-se que os aventureiros alistados, aqui e ali, por líderes locais para garantir a segurança possível, devem juntar-se a esta milícia ou voltar para casa. Assim, desde que o Exército de defesa nacional foi organizado nos povoados ou nos bairros, os eventuais abusos cometidos por estes aventureiros acabam. O fenómeno das Shabias-(milicianos irregulares conotados com o poder- NdT)- desaparece.

No Próximo-Oriente, o exemplo que salta imediatamente à vista é o Basij-e Mostaz, afim iraniano, que serviu já de modelo ao Hezbolla libanês. Teerão, que recusa envolver os seus Guardas da Revolução no território sírio, aceitou receber recrutas do Exército de defesa nacional e de os formar. Isto não era garantido, visto que os Iranianos têm de se adaptar a recrutas que só raramente serão xiitas, e que não têm a intenção de se converter.

É um acontecimento que modifica profundamente os dados da geopolítica regional. Por um lado, porque, esta força paramilitar rapidamente estabilizou as aldeias e os bairros onde ela está já implantada e, sobretudo, porque agora o Basij e o Hezbolla têm ao lado um “pequeno irmão ” tendo a mesma formação que eles, mas, sendo misto e multi-confessional, educado no espírito laico do Baath e não no da Revolução islâmica.

Ora, quando um dos objectivos principais da guerra promovida pelos Ocidentais contra a Síria era a de instalar no poder um governo que rompesse com o Hezbolla e o Irão, como o reconheceu o próprio Burhan Ghalioun numa entrevista ao Wall Street Journal, é exatamente o efeito inverso que é obtido. A resistência comum conduziu ao reforçar deste bloco apesar das diferenças religiosas e políticas.

Há oito meses, Sayyed Hassan Nasrallah revelou que durante a guerra dos 33 dias, o ministro da Defesa sírio da altura, o general Hassan Tourekmani, supervisionava pessoalmente no Líbano o dispositivo das armas da Resistência. Depois, ele declarou que o Hezbolla não deixaria cair os seus irmãos de armas do Exército árabe sírio, no caso em que se encontrassem em dificuldades. A criação do Exército de defesa nacional vai, seguramente, reforçar esta aliança por estreitos laços pessoais que ultrapassam os das simples escolhas políticas.

Isto terá, certamente, também um efeito de retorno para que o braço armado do Hezbolla integre mulheres, e se abra às numerosas confissões existentes no Líbano.

Tradução
Alva
Fonte
Al-Watan (Síria)