Numa entrevista para a revista Valeurs Actuelles, o antigo director da Contra- espionagem Francesa (DST, depois DCRI), Bernard Squarcini declara ter sido contactado pela Síria para propor, em 2012, ao Governo francês uma lista de terroristas franceses operando na Síria, em troca de uma normalização de relações entre os serviços de Inteligência. O ministro do Interior da época, Manuel Valls, teria recusado por razões ideológicas [1].

A maior parte dos comentadores sublinham que se esta informação é exacta, e se o governo francês tivesse aceitado esta proposta, os atentados de Paris, a 13 de novembro de 2015, teriam provavelmente podido ser evitados. O deputado Olivier Marleix, (antigo conselheiro do presidente Nicolas Sarkozy à época onde Bernard Squarcini dirigia a Contra-espionagem), trabalha, portanto, pela formação de uma comissão parlamentar de inquérito afim de lançar luz total sobre estas alegações [2].

As curtas declarações do Sr. Squarcini devem ser especificadas. Em 2012, a Síria havia entrado em contacto com o antigo chefe da Contra-inteligência, com a qual ela tinha mantido boas relações no passado, assim como com um alto-funcionário da polícia no activo. As autoridades sírias tinham proposto fornecer todas as informações, em sua posse, disponíveis sobre o conjunto dos combatentes franceses no país, incluindo, tanto informações sobre os jiadistas como sobre os soldados franceses em missão. Eles pediam em troca a retirada dos soldados franceses em missão e o restabelecimento de relações diplomáticas. O Sr. Squarcini passou a mensagem ao ministro do Interior, Manuel Valls. Este reagiu com entusiasmo e, para mostrar a sua boa-fé, a Síria forneceu, a título preliminar, uma lista de mortos franceses que ela tinha conseguido identificar. No entanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, opôs-se energicamente a este acordo. O Primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault, interditou, então, a Manuel Valls a conclusão do mesmo.

Antigo diretor da Contra-espionagem, Bernard Squarcini tinha feito parte, com o governador (civil- ndT) Édouard Lacroix (ex-Diretor-geral da Polícia Nacional, depois chefe de gabinete de Charles Pasqua) e sob a direcção de Claude Guéant (antigo director-adjunto do gabinete de Charles Pasqua, depois Ministro do Interior), de um grupo que tentou opor-se à guerra contra a Líbia, em seguida contra a da Síria. Este grupo conseguiu negociar a paz entre a França e a Síria aquando da libertação de Baba Amr (fevereiro de 2012) [3]; um acordo ao qual o presidente Sarkozy se juntou, mas que o seu sucessor recusou, posteriormente, respeitar.

Em junho de 2012, o presidente François Hollande arranjou o assassinato do governador Édouard Lacroix. Diversos processos judiciais foram lançados contra Claude Gueant. Bernard Squarcini retirou-se da vida política e criou a empresa de Inteligência económica Kyrnos Conseil (Kyrnos significa “Corso” em grego), muito activa no estrangeiro.

Tradução
Alva

[1«Bernard Squarcini : “Nous sommes entrés dans la terreur et le terrorisme de masse”» («Bernard Squarcini : “Nós entramos no terror e no terrorismo de massas”»-ndT), Louis de Raguenel, Valeurs actuelles, 20 novembre 2015.

[2«Tout n’a pas été fait depuis Charlie pour protéger les Français» («Depois de Charlie-Hebdo nem tudo foi feito para proteger os Franceses»- ndT), François De Labarre, Paris-Match, 20 novembre 2015.

[3« Les journalistes-combattants de Baba Amr » («Os jornalistas-combatentes de Baba Amr»- ndT), par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 3 mars 2012.