Diante de milhares de apoiadores que lotaram a Praça Caracas, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, admitiu que até agora seu governo cumpriu apenas "superficialmente" seus compromissos e que, entre outras coisas, "acabará com os latifúndios" do país.
O anúncio foi feito dia 27, em frente ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), após a cerimônia de entrega dos resultados do referendo no último dia 15, do qual Chávez saiu vitorioso.
A contagem final dos votos dos 9.789.637 venezuelanos que esperaram em quilométricas filas por até 14 horas, foram 59,25% pelo "Não" (a favor da continuidade do mandato presidencial) contra 40,74% pelo "sim", que optaram por antecipar a saída do presidente. Na maior eleição da história do país, onde o voto é facultativo, o indíce de abstenção que ultrapassava os 40% caiu para 30%.
Ao receber o documento que ratifica seu mandato até 2007, o presidente venezuelano reiterou seu compromisso com a Constituição do país e mais uma vez a oposição à "respeitar os resultados do referendo".
Imediatamente a oposição que acredita em uma "megafraude" emitiu um comunicado dizendo que só reconhecerá os resultados se os votos forem contados "um a um". A aliança opositora diz considerar "forçada" a ceremonia, já que os resultados estão sendo questionados "por amplos setores do país e pelo ex-presidente (colombiano) César Gaviria".
A aliança entre a oposição e osecretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), César Gavíria, foi restabelecida na última reunião da organização. O ex-presidente colombiano afirmou que três dos cinco reitores do CNE foram "partidistas" e dificultaram o trabalho da observação durante o referendo.
Chávez aproveitou a cerimônia, da qual não participaram os reitores Ezequiel Zamora e Sobejía Mejía, admitidos pela oposição como seus apoiadores, Chávez qualificou de "indigno", "irresponsável" e "mentiroso", ao secretário-geral da OEA.
"Em sua ambiguidade começou a elucubrar e contar histórias que são absolutamente falsas", criticou Chávez. "Irresponsável. Diz isso porque não pode conseguir uma só razão para atacar o referendo".
Após a cerimônia do CNE, o presidente venezuelano seguiu para a Assembléia Nacional, onde foi homenageado pelos deputados venezuelanos.
O duplo discurso de Gavíria
O secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), César Gaviria, protagoniza, ao lado da opositora Coordenadora Democrática, a avalanche de duplos discursos e de contradições sobre o referendo que ratificou o mandato do presidente venezuelano.
Durante o encontro da OEA, dias 25 e 26, onde foi aprovada a resolução que avaliza a vitória do presidente venezuelano, Gaviria, após assegurar a transparência dos resultados e que houve "total controle dos sistemas de votação" afirmou que o Poder Eleitoral "decidiu por línhas partidistas todo o tempo".
Para secretário-geral da OEA, Chávez teve maioria na eleição da Assembléia Constituinte, em 1999, porque há "uma enorme concentração de amigos do presidente e de seu partido no Tribunal Supremo e no Conselho (Nacional Eleitoral)".
Mesmo frente a tais "constatações", para o secretário-geral da OEA, o referendo de 15 de agosto, "produziu um resultado supramente claro que a OEA e o Centro Carter consideramos como reflexo da vontade do povo venezuelano", disse Gavíria, dia 26, diante dos 34 representantes dos países que integram a organização.
O posicionamento simpático à grupos de oposição e o posterior aval de Gavíria ao pleito foi uma surpresa tanto para a oposição, quanto para os setores ligados ao governo. Há muito a intrínseca relação do secretário-geral da OEA com o governo dos EUA tem refletido em suas ações na Venezuela, à favor da derrocada do presidente venezuelano.
Na madrugada de 16 de agosto, enquanto era esperado o resultado do referendo, no interior do Palácio Miraflores o clima era de incerteza, não só pelos números finais da votação. Gaviria, ameaçava não reconhecer os resultados prestes a ser divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), como relatou o jornalista brasileiro, Bob Fernandes (que esteve no interior do Palácio) na revista Carta Capital.
Não havia provas de fraude ou de qualquer tipo de irregularidade. O chefe da missão da OEA, Valter Pecly Moreira, havia avalizado a lisura do processo eleitoral, o qual acompanhou durante toda a preparação das mesas e fiscalização das máquinas. O ex-presidente estadunidense, Jimmy Carter, presidente Centro Carter também assegurou que a observação internacional não havia detectado nada que indicasse manipulação dos resultados. Ainda assim, Gavíria ameaçava endossar o coro já ensaiado pela oposição de que o processo havia sido fraudulento. Sem respaldo, o secretário-geral da OEA, a frente de sua última missão pela organização, optou por seguir os resultados.
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