Mohammed Yasser Abdul-Ra’ouf Qudwa Al-Husseini

O líder da Autoridade Nacional Palestina, Yasser Arafat, morreu no início da madrugada desta quinta-feira (às 3h30min, horário de Paris), vítima de falência múltipla dos órgãos, em um hospital militar nos arredores da capital francesa. A morte de Arafat, de 75 anos, foi confirmada por ministros da Autoridade Nacional Palestina, e pelo porta-voz do hospital militar Percy, Christian Estripeau.

A morte do líder palestino, que passou seus últimos dias em coma, deve aumentar a incerteza que cerca as tentativas de construir um verdadeiro processo de paz no Oriente Médio. Arafat sempre foi apontado por Israel como um obstáculo para as negociações de paz, mas sua morte pode desencadear um período de desestabilização entre as lideranças palestinas, cada vez mais pressionadas por grupos que defendem ações armadas contra a ocupação de Israel.

Uma vida em luta

Por mais de 40 anos, Arafat foi o líder do movimento de resistência dos palestinos que lutam pelo direito de ter um território e uma nação. Nascido em 1929, com o nome de Mohammad Abdel Rauf Arafat al Qudwa al Husseini, Arafat começou sua luta combatendo nas milícias palestinas que enfrentaram os sionistas que fundaram o Estado de Israel em 1948. Em 1959, fundou o Fatah, movimento nacionalista palestino que daria origem, anos mais tarde, à Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

No início dos anos 60, começou a se tornar conhecido internacionalmente por atentados cometidos contra alvos israelenses em várias partes do mundo. Com o passar dos anos, os atentados começaram a dar lugar a um processo de luta armada contra a dominação israelense, o que acabou por consolidar sua posição de líder da causa palestina. Colecionou inimigos também entre os palestinos, sendo acusado de autoritário e corrupto por seus adversários. O fato é que Arafat tornou-se o símbolo da luta do povo palestino e sua morte abre um período de contornos imprevisíveis em uma região já explosiva.

Uma difícil sucessão

Com o desaparecimento de Arafat, os palestinos têm o desafio agora de encontrar uma nova liderança que possa levar adiante seu movimento de independência. Entre os nomes mais cotados para sucedê-lo, estão o ex-primeiro ministro da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas (também conhecido como Abu Mazen), e o atual primeiro-ministro, Ahmed Korei. Representantes da ala moderada dos palestinos, Abbas e Korei são favoráveis à retomada das negociações de paz com Israel e os Estados Unidos. Em uma reunião feita nesta quarta-feira, líderes palestinos concordaram em promover temporariamente o presidente do Conselho Legislativo palestino, Rawhi Fatouh, em presidente da Autoridade Nacional.

Outros dois nomes cogitados para assumir a liderança da Autoridade Palestina são Marwan Barghouthi e Mohammed Dahlan. As chances de Barghouthi são remotas. Aos 45 anos, ele está preso em Israel (condenado à prisão perpétua), acusado de comandar assassinatos contra israelenses, o que ele nega. Barghouti foi um dos principais líderes da primeira Intifada, ocorrida entre 1987 e 1993, gozando de grande popularidade entre os palestinos. Já Dahlan foi ministro do Interior e chefe da segurança em Gaza, sendo considerado um líder das novas gerações de palestinos que criticaram o estilo centralizador e autoritário de Arafat.

O líder palestino deve ser sepultado em Ramallah, principal cidade da Cisjordânia, no quartel-general onde permaneceu confinado pelo exército israelense por cerca de três anos. Muitos palestinos queriam que ele fosse enterrado em Jerusalém, cidade reivindicada como capital do futuro Estado palestino, o que foi vetado pelo primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon. Antes de chegar a Ramallah, porém, o corpo de Arafat deve fazer uma escala no Cairo, onde deve receber homenagens de líderes árabes da região.