Enquanto o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, repetia na Casa Branca que a guerra do Iraque foi “justa”, milhares de pacifistas saíam às ruas de todo mundo, sábado (19), para reiterar a ilegitimidade da invasão, que completou exatos dois anos naquela data. Em São Paulo, os manifestantes fizeram o percurso entre a Avenida Paulista e a Praça de Sé. Em cidades da Itália, França, Inglaterra, Turquia, Bélgica, Alemanha, Austrália, Finlândia, Índia, Argentina e Japão também houve marchas e vigílias de protesto.

A atividade internacional foi planejada durante o 5º Fórum Social Mundial pela Rede Mundial de Movimentos Sociais. No Brasil, a organização coube a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), que une 34 entidades, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Marcha Mundial das Mulheres. Partidos políticos de esquerda, como o P-Sol e o PSTU, também marcaram presença. A militância petista também participou, mas em menor número.

Segundo Antonio Carlos Spis, coordenador de comunicação da CUT, cerca de 6 mil pessoas passaram pela marcha, que foi marcada por simbolismos. Além da tradicional queima da bandeira norte-americana e do boneco gigante de Bush, durante o percurso, atiraram arroz e feijão crus em um restaurante do McDonalds e pintaram a calçada de um posto de gasolina da multinacional britânica Esso, cujo interesses na exploração de petróleo têm sido contemplados pela administração iraquiana pró-Estados Unidos.

O presidente Lula, também lembrado com um boneco gigante, foi bastante criticado por manter forças de ocupação do Haiti. Uma avaliação corrente na esquerda é que o ex-presidente haitiano Jean Baptiste Aristide foi retirado ilegalmente do poder por pressão da Casa Branca e do governo francês. O que mais causa indignação, porém, é que a presença das tropas brasileiras não representa nenhuma garantia de que o país será reconstruído e a situação de extrema miséria do povo haitiano, pelo menos reduzida.

Lula, porém, recebeu também mensagens de apoio. Além dos petistas, Renata Lemos, da União Estadual dos Estudantes (UEE), subiu no caminhão de som e disse que “Hugo Chávez e Lula são dois governos que fazem frente à política dos Estados Unidos de se sobrepor à soberania dos povos”.

Lutas de um, lutas de todos

Ativistas de diversas entidades encontraram no ato contra os dois anos da invasão do Iraque espaço para divulgar suas lutas específicas. Cláudia, do MST, pediu apoio aos cinco lavradores ligados ao Movimento dos Agricultores Atingidos por Barragens (MAB) presos no último dia 12, no município de Campos Novos, em Santa Catarina. A prisão preventiva dos ativistas foi requerida pela Justiça local, que temia a realização de protestos nas estradas por conta da construção de barragens na bacia do rio Uruguai. O MAB acusa a Justiça de criminalizar o movimento social (leia matéria “Suposto protesto motiva prisão de agricultores em SC”).

Outro recado foi dado por Nalu Faria, da Coordenação da Marcha Mundial das Mulheres. Ela convidou os manifestantes a participarem das vigílias que serão organizadas em diversas cidades brasileiras por conta da “viagem” pelo mundo da Carta Mundial da Mulheres para a Humanidade, lançada em São Paulo no dia 8 de março. O documento - que viajará de trem, ônibus, avião, barco, camelo e à pé até chegar em Uagadugu, capital de Burkina Faso, na África, no dia 17 de outubro - contém 31 afirmações que descrevem os princípios básicos da proposta feminista para um mundo sem exploração, opressão, intolerância e exclusão, onde a integridade, a diversidade e os direitos e liberdades de todos e todas sejam respeitados.

Durante esse período, serão realizadas vigílias no dia 4 de abril, quando a carta passar pela Colômbia, e no dia 17 de outubro, quando ela finalmente chegar a Uagadugu. “Será uma forma de chamar atenção para nossa luta. A exclusão e a opressão trazidas pela guerra atingem mais as mulheres, que sofrem ainda exploração sexual”, disse Nalu (leia matéria “Feministas lançam Carta Mundial para Humanidade”).

Guerra foi justa, diz Bush

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, veio a público sábado dizer que a guerra no Iraque foi "justa" e levou liberdade àquele país. Em seu discurso, Bush reconheceu que a guerra obrigou famílias e soldados dos Estados Unidos a fazerem "grandes sacrifícios", mas ressaltou que a reunião da Assembléia Nacional provisória, eleita com maioria da Aliança Unida Iraquiana (xiita), é uma "vitória da liberdade" só possível por causa do "valor" das tropas de ocupação.

O presidente afirmou ainda que a invasão contribuiu para criar as condições à vigência de um regime democrático em Bagdá. Ele atribuiu ao trabalho das tropas de ocupação a confiança que permitiu a ida de 8 milhões de iraquianos às urnas recentemente. Para o presidente norte-americano, os eleitores deram um exemplo de coragem aos outros países da região.