A conferência de cúpula com os países árabes foi um êxito inegável. Acordo petrolífero entre Brasil, Argentina e Venezuela é estratégico e muito mais importante do que a divergência entre os fabricantes de eletrodomésticos brasileiros e argentinos.
Reunir, pela primeira vez, os países de duas regiões tão diferenciadas, na cultura e na geografia, foi um inegável êxito. E conseguir que não houvesse, nesse encontro, conflitos maiores, resultado ainda maior. Geralmente a tendência de todos nós - sobretudo da mídia - é a de apegar-se aos incidentes menores, e não perceber o principal. A Conferência de Cúpula dos Países Árabes com os países de nosso continente (e já é hora de abandonar essa denominação incorreta de subcontinente para a América do Sul) constitui, até agora, o mais importante feito da democracia brasileira.
Apesar das declarações em contrário de porta-vozes árabes, os Estados Unidos fizeram o que puderam, dentro dos limites diplomáticos, para esvaziar o encontro. Eles até admitiam bons resultados do ponto de vista dos negócios, mas estavam inquietos com os entendimentos políticos. Não têm muito por que se inquietar, e devem saber, se ainda não sabem, que o Brasil conseguiu evitar pronunciamentos mais fortes contra a política externa de Bush.
Um dos pontos mais delicados é o da condenação do terrorismo. Os israelitas - cujo Estado, na definição de Karl Jaspers, é tanto mais sionista quanto menos hebraico - se sentiram atingidos pela declaração que, a seu ver, favorece os palestinos. Mas, convenhamos, que autoridade têm para condenar o terrorismo, quando os governa o Sr.
Ariel Sharon, um veterano de ações terroristas, como a que massacrou os inocentes de Sabra e Chatila?
Na verdade, não houve uma conferência, mas três. A principal, reuniu os dois blocos de países, mas, paralelamente, os países árabes se aproveitaram para conversar, à parte, seus próprios problemas, e grande parte do tempo foi consumida na conversa entre os sul-americanos.
E, no bojo de tudo isso, a conferência tripartite entre Lula, Chávez e Kirchner. As divergências entre os três não impedirm o principal: a consciência de que é preciso construir uma frente única para a defesa da soberania dos países do continente. E, no que se refere à economia, o acordo petrolífero, entre a Argentina, a Venezuela e o Brasil, é muito mais importante do que a divergência entre os fabricantes de eletrodomésticos brasileiros e argentinos.
O problema fundamental do mundo continua a ser o da energia. Ao se unirem as empresas petrolíferas dos três países para uma estratégia conjunta, Chávez obtém o apoio do Brasil e Argentina em sua situação de fornecedor dos Estados Unidos. Essa é uma operação que não foi ainda avaliada em sua importância estratégica.
A ausência do Presidente Álvaro Uribe, da Colômbia, confirma a interferência norte-americana para frustrar a Conferência. No caso, os colombianos podem alegar que os seus problemas com a Venezuela intervieram na decisão presidencial, mas o fato é que Bogotá, a cada dia mais, se aninha no regaço de Washington.
E não é para menos: o governo colombiano está sob a supervisão dos Estados Unidos, que dele exige subordinar toda ação política ao combate às forças revolucionárias. Manda quem paga.
O saldo, apesar dos adversários do governo, foi excelente. O que se gastou com o encontro será fartamente recompensado, tanto do ponto de vista econômico, quanto do ponto de vista político.
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