Eduardo Rodríguez

Em um clima de instabilidade política, o Congresso boliviano nomeou, dia 9, Eduardo Rodríguez, presidente da Suprema Corte, como o novo chefe do Executivo no país. No mesmo dia, os parlamentares aceitaram também a renúncia de Carlos Mesa. A decisão, no entanto, está longe de ser a solução para a crise na Bolívia.

As reivindicações dos protestos sociais que balançaram a Bolívia nessas últimas três semanas continuam sem ser atendidas. Recémempossado, o advogado Rodríguez sabe disso e não quer ser o quinto presidente boliviano a cair em quatro anos. Em seu primeiro discurso, já se comprometeu a convocar uma eleição presidencial.

Pela Constituição local, o pleito deve ser realizado dentro de seis meses.

Mas nada indica que o país viverá um clima de tranqüilidade. Indiferente à convulsão social que tomou conta do país, a oligarquia boliviana anunciou que seguirá com a decisão de realizar um referendo sobre a autonomia da província do Departamento de Santa Cruz de la Sierra em 12 de agosto. A região responde por 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e quer controlar esses recursos sem se submeter às leis federais (veja quadro abaixo).

Já os setores sociais mais ativos durante a mobilização social vão manter seus principais pleitos a convocação de uma Assembléia Constituinte e a nacionalização dos hidrocarburetos.

A avaliação é que tem se avançado em direção a esses objetivos. Os movimentos populares conseguiram derrubar Carlos Mesa e, de quebra, impediram que Hormando Vaca Díez (presidente do Senado) e Mario Cossío (da Câmara) assumissem a presidência, já que eram os sucessores naturais do cargo. Ambos representam interesses da elite boliviana e estavam ligados ao ex-presidente Gonzalo Sanchéz de Lozada, deposto em outubro de 2003.

Força

Apesar da morte do trabalhador mineiro Carlos Coro Mayta durante os protestos, os movimentos movimentos sociais demonstraram que têm força para impor suas plataformas. Para o escritor Alex Contreras, da Agência Latino Americana de Informações (Alai), os partidos neoliberais e a embaixada estadunidense registraram três derrotas em um curto período. Primeiro, perderam Lozada; depois, foi a vez de Mesa , e agora, Vaca Diez e Cossío não puderam assumir.

O movimento social boliviano segue, no entanto, com divergências. O grupo mais ameno, ligado ao deputado Evo Morales, do Movimento Ao Socialismo (MAS), já sinalizou que Rodríguez terá um período de trégua para avançar na convocação das eleições e da Assembléia Constituinte.
O novo presidente boliviano procurou também estabelecer diálogo com os oposicionistas mais radicais: os moradores de El Alto, cidade da periferia de La Paz. Dia 12, Rodríguez se encontrou com dirigentes de organizações camponesas e mineiras do município.

Em entrevista coletiva depois da reunião, o presidente disse que "o sistema democrático renova- do tem de atender à agenda" social, que coloca como ponto central a nacionalização dos hidrocarburetos, o principal recurso da Bolívia, país mais pobre da América do Sul, como informa o diário mexicano La Jornada. O dirigente da ativa Federação das Juntas dos Moradores de El Alto (Fejuve), Abel Mamani, disse que serão criadas comissões para discutir a implementação dessa agenda social.

A aproximação do presidente com a população de El Alto permitiu que fossem suspensos os bloqueios nas estradas que passam por La Paz. No entanto, a trégua é momentânea, porque durante a semana devem ser realizados novos protestos em frente ao Congresso cobrando a convocação de uma Assembléia Constituinte. Os manifestantes querem também que o ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozado seja julgado por crime de responsabilidade a respeito da morte de 80 cidadãos durante os protestos de outubro de 2003. (Com agências internacionais)

Direita segue com divisionismo

Apesar de o presidente boliviano, Eduardo Rodríguez, ter conseguido uma trégua com os moradores de El Alto, na periferia de La Paz, o Departamento de Santa Cruz, onde estão os maiores empresários do país, confirmou que vai convocar um referendo para conseguir sua autonomia em 12 de agosto.

A afirmação foi feita pelo presidente do Comitê Pró-Santa Cruz, German Antelo. Outros departamentos, como os de Tarija, Beni e Pando, podem seguir o exemplo da região de Santa Cruz e lançarem consultas internas para obterem autonomia. Essa decisão pode se converter em um grave conflito porque, no fundo, está a discussão do destino dos hidrocarburetos. A forte convulsão social de mineiros e camponeses na empobrecida região ocidental e andina do país teve como demanda central a nacionalização dos hidrocarburetos, mas a oligarquia de Santa Cruz é contra a iniciativa.

Mas os grupos empresariais da região tiveram recentemente um revés porque seu candidato para a sucessão presidencial, Hormando Vaca Díez, presidente do Congresso, foi obrigado a renunciar ao seu direito de suceder o chefe do Executivo, Carlos Mesa. A situação em Santa Cruz continua tranqüila, mas a direitista União Juvenil Cruceñista tem dado sinal de querer atuar como força de choque ao atacar violentamente as manifestantes indígenas. (La Jornada, www.jornada.unam.mx)