O Brasil, uma vez mais, está desafiado a combater a corrupção política
que se nutre da impunidade. Ela é acobertada pela conivência, que se
torna cumplicidade, usando as estruturas do poder público em benefício de
interesses privados.

A apuração das recentes denúncias é imprescindível. Não pode ser
esvaziada, sob qualquer pretexto. A corrupção consiste não apenas em
delitos individuais, mas em práticas existentes em estruturas da
sociedade, sobretudo no funcionamento do sistema político.
O poder econômico, a multiplicidade de partidos políticos sem programas
definidos e a falta de fidelidade partidária fragilizam sempre mais o
nobre sentido da Política e frustram o voto do eleitor. O atual sistema
administrativo e eleitoral brasileiro favorece o clientelismo e a
corrupção.

A responsabilização, a punição dos culpados bem como a restituição dos
bens subtraídos não deverão, pois, relegar ao esquecimento o desafio
maior: a reforma do Estado e do próprio sistema político.
Normas institucionais, por si mesmas, não são suficientes para frear os
vícios exacerbados pela busca de poder. A sociedade, através de suas
organizações, deve exercer o controle social, vigiando e cobrando a
atuação dos poderes públicos.

Nesse sentido, um passo importante é a urgente regulamentação do Art. 14
da Constituição Federal sobre Plebiscito, Referendo e Iniciativa Popular.
Isso constitui complemento fundamental à reforma institucional,
contribuindo para a mudança da cultura política no país.
A parceria entre um governo democraticamente eleito e a sociedade é
fundamental para colocar o país no caminho da dignidade e da
respeitabilidade. Confiamos, para isso, no discernimento e firmeza da
Presidência da República e demais instituições públicas.
É motivo de esperança reconhecer em nosso país a existência de
iniciativas e de movimentos, com destacada presença de cristãos,
desempenhando papel relevante, através de mobilizações e novas práticas
sociais.

Lembramos aos nossos políticos o que o Espírito nos diz no Livro da
Sabedoria: " Amai a justiça vós que governais a terra " [Sb 1,1].
Conclamamos todo o povo brasileiro a que se una no grande mutirão pela
ética e pela cidadania, para debelar a corrupção e consolidar a
democracia.

Brasília, 23 de Junho de 2005

Pelo Conselho Permanente

Cardeal Geraldo Majella Agnelo
Arcebispo de São Salvador, BA / Presidente da CNBB

Dom Antônio Celso Queirós
Bispo de Catanduva, SP / Vice-Presidente da CNBB

Dom Odilo Pedro Scherer
Bispo Auxiliar de São Paulo, SP / Secretário-Geral da CNBB