O ato da Coordenação doa Movimentos Sociais (CMS) contra a corrupção e por mudanças na economia nesta terça (16) foi o esperado. Segundo levantamentos, o número de participantes variou de 10 mil e 20 mil pessoas, a depender da fonte informativa. O público era formado basicamente por estudantes (ligados à UNE e à Ubes), sindicalistas ligados à CUT e integrantes dos movimentos da marcha pela reforma urbana, tendo ainda a participação, em menor escala, de militantes do MST.

Para "dar os recados" aos políticos, a manifestação foi ao Ministério da Fazenda e ao Congresso Nacional. Na pauta, os sete pontos da Carta aos Brasileiros, documento lançado em junho e assinado por mais de 100 entidades. Nas falas dos dirigentes no carro de som, principalmente das lideranças da CUT e da UNE, a ênfase foi dada à tríade do combate à corrupção, reforma política e mudanças na política econômica. A crítica à política de alianças do governo, presente na Carta aos Brasileiros e feita no início da crise, parece ter perdido importância, uma vez que foi pouco ou nada citada no ato hoje.

Em frente ao prédio cujo último andar é ocupado por Antônio Palocci, os dirigentes dos movimentos reproduziram as já conhecidas críticas à política macroeconômica do governo Lula. "O orçamento apresentado pela fazenda e pelo planejamento para o ano que vem é uma vergonha. Não é possível garantir recursos para áreas estratégicas como saúde, educação, moradia, trabalho e reforma agrária com o arrocho fiscal promovido pela equipe econômica", criticou o presidente da UNE, Gustavo Petta.

"Não queremos superávit, queremos alocação de recursos para políticas sociais, para a educação e para o saneamento", pediu Antônio Carlos Spis, da CUT. "Com juros deste tamanho não é possível atender às necessidades do povo brasileiro. Mas só as do
mercado financeiro",
completou João Paulo Rodrigues, do MST.

O presidente da CUT, João Felício, aumentou o coro contra a política econômica, os juros altos, o superávit primário e o salário mínimo baixo. Mas foi contrário o valor de R$ 384 aprovado no senado a partir de uma proposta da oposição. "Não queremos demagogia. Mais que um valor defendido por motivação de disputa política, queremos uma política de recuperação a longo prazo", disse Felício.

Em frente ao Congresso, os integrantes dos movimentos bateram forte na necessidade de uma reforma política para "ir à raiz" do problema da corrupção no Brasil. O ponto mais citado foi o financiamento público de campanha, medida que acabaria com a "compra de mandatos" decorrente do financiamento privado. "Em vista do que se perde de dinheiro com o financiamento privado de campanha, seria cafezinho bancar o financiamento público", afirmou Gustavo Petta.

Autonomia sim, mas com afagos ao presidente
Uma das principais preocupações dos movimentos para o ato era não coloca-lo como uma atividade pró-Lula. Ontem, João Paulo Rodrigues, da Coordenação Nacional do MST, fez questão de ressaltar durante coletiva de lançamento do ato que ele não seria "nem contra e nem a favor do impeachment, isso é uma pauta da mídia e das elites".

Mas não faltaram defesas empolgadas de Lula por parte dos dirigentes, principalmente da CUT, da UNE e da Ubes. "Somos contra o afastamento do presidente. Não acreditamos que vai aparecer algo que o envolva. Temos confiança por que nós o
conhecemos",
disse João Felício, presidente da CUT.

Apesar de sustentar que uma possível queda de Lula agora seria um retrocesso para a esquerda, os movimentos fizeram questão de reforçar a necessidade de o governo dar respostas às reivindicações gerais presentes na carta aos brasileiros e às específicas de cada organização.

"O lula precisa entender mais do que nunca que os setores querem derruba-lo, só há uma divergência tática, ou agora ou em 2006. Para ele ter o apoio consistente e sólido dos movimentos sociais e da sociedade brasileira ele precisa sinalizar alterações na política macro econômica. O Lula corre o risco de ficar isolado, enfraquecido e agonizar até 2006 se não se aproximar mais do projeto original que o elegeu em 2002", disse Gustavo Petta, da UNE.

O 3o vice-presidente do PT, Valter Pomar, representando a sigla fez uma fala marcada por uma autocrítica. "O PT tem débito com os movimentos sociais. Nestes dois anos e meio, ele se distanciou ainda mais dos movimentos. E agora, apesar da crise, os movimentos sociais mostram que têm consciência de classe, sabem qual de que lado estão", disse Pomar, que também é candidato à presidência nacional do PT. Ele informou que o PT aprovou na sua executiva o apoio à atividade por unanimidade e que isso "no fundo expressa o apoio do partido às bandeiras do ato". Estava prevista a presença do presidente da sigla, Tarso Genro, que não apareceu. Falaram também os representantes do PC do B e do PSB.

Próximos passos

A avaliação feita pelo presidente da UNE é que o ato não conseguiu mobilizar muitas pessoas de outros estados, mas que teve boa representação. Para levar as reivindicações a outros cantos do país, a CMS prepara uma série de atividades em diversas capitais. No dia 25 será a vez de Salvador, e no 26 os movimentos ocupam a capital paulista. A idéia é capilarizar a análise que a CMS faz da crise e as propostas para sair dela.

Somente ampliando as mobilizações é que a Coordenação vê possibilidade de pressionar o governo para que cumpra a carta ao povo brasileiro e as reivindicações contidas nela.

A CMS é composta por entidades como a Confederação Nacional de Associações de Moradores (Conam), Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Marcha Mundial das Mulheres (MMM), União Nacional dos Estudantes (UNE), União Nacional por Moradia Popular (UNMP), Central de Movimentos Populares (CMP), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e Pastoral da Terra, entre outras.

Carta Maior