Uma semana antes, em decorrência do furacão Katrina, com ventos de 240 quilômetros por hora, o dique da cidade rompera e as águas do lago Pontchartrain invadiram 80% de Nova Orleans. Nas áreas não inundadas, saqueadores semeiam o terror: matam, estupram, roubam.

A indignação de Nagin se soma à das vítimas do Katrina e da opinião pública estadunidense. Estima-se que 12 mil pessoas tenham morrido. Há milhões de refugiados. Centenas de milhares de casas foram destruídas nos Estados de Alabama, Louisiana e Mississippi, os mais atingidos. As equipes do socorro, enviadas por Bush, chegaram tarde - no dia 3 - e são insuficientes.

No final de agosto, 25 mil pessoas, em sua maioria pobres, que não tinham como sair de Nova Orleans, foram alojadas no estádio Superdome. Soldados, enviados por Bush, não conseguiram administrar o local. Faltaram água potável e comida. Sobraram cenas de violência.

As vítimas do Katrina, em sua maioria, são negras e pobres. Em Nova Orleans, 67% dos 1,3 milhão de habitantes são negros, e 30% vivem abaixo do índice da pobreza. O número de vítimas deve aumentar, pois muitas pessoas se recusam a sair de suas casas e a inundação, que ainda deve durar meses, gera epidemias.

"Faz anos que avaliações científicas alertavam para a vulnerabilidade de Nova Orleans, se obras críticas de reconstrução não fossem realizadas", afirmou John Rennie, da revista Scientific American, em nota à imprensa. Em 2001, a Agência Federal de Administração de Emergência (Fema) havia previsto que, em caso de ventos violentos na cidade, o dique poderia rachar.

Omissão

Os avisos não foram levados em conta pelo governo estadunidense que, no lugar de reforçar a proteção de Nova Orleans, construída abaixo do nível do mar, usou os fundos do Fema para os da luta contra o terrorismo, considerada prioridade política de Bush. Em 2004, os diretores da Agência haviam feito um pedido de 744 milhões de dólares para investir em obras de prevenção a inundações na Louisiana. Pressionados pelo governo, no início de 2005, reduziram o pedido para 62 milhões dólares, dos quais só receberam 15%.

Em meados de agosto, a passagem do Katrina pelo sul dos Estados Unidos foi anunciada. Durante dez dias, até o dia 28 de agosto, o governo não enviou ajuda especial para evacuar as cidades que seriam atingidas, principalmente Nova Orleans. Prefeitos e governadores haviam mandado pedidos de socorro. Não obtiveram respostas de Bush.

A omissão do governo é criticada em todos os veículos de comunicação, até mesmo os tradicionalmente alinhados com o Partido Republicano, que integra o presidente. É o caso do jornal The Washington Post e da CNN, que estampavam, em suas páginas na internet, no dia 6, "a culpa de Bush" e "o fracasso do presidente".

Brasil de Fato