Entre os resgates que mais tem gerado polêmica no país está a desapropriação das terras La Marqueseña, 8.490 hectares no Estado Barinas. Segundo o Inti, as terras estavam sendo subutilizadas. No caso, o solo possuía características favoráves à produção de hortaliças e vegetais, mas estava sendo utilizado apenas para a criação de gado. Isso em 20% da propriedade, pois os 80% restantes estavam improdutivas. A Lei de Terras proíbe a subutilização dos solos por considerar contrário ao alcance da soberania alimentar.

Não foi só a improdutividade. Os supostos donos não puderam comprovar a titularidade da terra, consideradas de propriedade da Nação. Além da Marquesena, outras quatro fazendas foram resgatadas no Estado Apure e uma no Estado Bolívar que faz fronteira com o Brasil.

Reação midiática

Bastaram essas novas ações do governo para a burguesia venezuelana dar início ao bombardeio midiático em defesa da propriedade privada. Todos os supostos analistas de direito e política entrevistados pelos jornais e pela televisão eram integrantes dos governos anteriores aos de Chávez. A manchete do jornal El Universal, dia 19, proclamava: "Pretendem impor ordem de propriedade socialista".

Em entrevista ao jornal venezuelano, El Mundo, José Luis Betancourt , presidente da Fedecamaras (cúpula empresarial), afi rmou que as ações dos organismos governamentais se opõem o processo produtivo do país. As intervenções "atentam contra valores e direitos fundamentais como a libertade e a propriedade, as quais a Fedecámaras jamais renunciará e defenderá", afirmou.

Resposta

A resposta do movimento campesino foi imediata. Orlando Zambrano, da direção do Frente Camponês Nacional Ezequiel Zamora, disse ao Brasil de Fato que Betancourt é um dos "autores intelectuais" dos mais de 140 assassinatos de camponeses ocorridos desde a promulgação da Lei de Terras em 2001. "Betancourt rasgou a Lei de Terras, estimula o assassinato dos camponeses e quer falar de desrespeito à lei? Ilegal é deixar de produzir alimento em terra boa enquanto existem famílias passando fome", afirmou.

Compromisso

Para desespero ainda maior dos latifundiários, dia 20, o presidente Hugo Chávez reiterou seu compromisso em acabar com o latifúndio no país. O presidente afirmou que a concentração de terra prejudica a produção agrícola e que o compromisso de seu governo é colocar em produção os hectares de terreno improdutivos que se encontre em território venezuelano.