Michelle Bachelet

A socialista Michelle Bachelet, uma médica de 54 anos, e o empresário bilionário Sebastián Piñera, do partido de direita Renovação Nacional, disputarão o segundo turno das eleições presidenciais chilenas no próximo dia 15 de janeiro. Com a quase totalidade dos votos apurados, Bachelet tinha 45,87% dos votos, contra 25,48% de Piñera. Em terceiro lugar, Joaquin Lavin (aliado do ex-ditador Augusto Pinochet), com 23,25%. O candidato do Partido Humanista, Tomas Hirsch, que recebeu os votos da extrema-esquerda, ficou com 5,4% e já anunciou que não vai apoiar a candidata socialista no segundo turno.

Apesar de ser apontada como a grande favorita, Bachelet não terá vida fácil no segundo turno. Se somadas, as votações dos dois candidatos de direita chegam a quase 49% dos votos. Essa aliança de votos não é automática, pois muitos apoiadores de Lavin sentiram-se traídos pelo lançamento da candidatura de Piñera, um empresário que se apresenta como a nova cara da direita chilena. Mas Lavin já ofereceu seu apoio a Piñera para enfrentar Bachelet no segundo turno.

A candidata socialista tenta o quarto governo da Concertação pela Democracia, liderada pelo Partido Socialista, desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990. Apesar de não conseguir a vitória no primeiro turno, esta é a primeira vez que os socialistas obtiveram maioria no Senado. Na Câmara, a coalizão de centro-esquerda aumentou sua maioria, elegendo 75 deputados contra 54 da oposição. Ao comentar os resultados do primeiro turno, Bachelet assegurou que não ocorrerá uma “volta atrás” após sua vitória, mostrando confiança no resultado no segundo turno.

Em um tom de auto-crítica, ela reconheceu que talvez sua mensagem não tenha chegado com a força suficiente para conseguir a maioria absoluta de votos nas eleições de domingo. Há alguns meses atrás, Michelle era apontada como a grande favorita para ser eleita ainda no primeiro turno.

A candidata socialista pretende conversar com os partidários de Tomas Hirsch, uma vez que seus 5,4% de votos garantiriam uma vitória a Bachelet com mais de 51%. Em 2000, Ricardo Lagos venceu a eleição também em segundo turno graças aos votos de setores de esquerda que não estavam com ele no primeiro turno. Apesar da perspectiva de uma vitória no segundo turno por uma margem esquerda, ela mantem o otimismo.

“Estamos perto de um acontecimento histórico: uma mulher à frente do Chile. Serei a primeira presidente eleita da América do Sul”, disse Bachelet, ainda no domingo. Médica pediatra, ex-ministra da Saúde (2000-2002) e da Defesa (2002-2004), ela é filha de um general próximo ao ex-presidente Salvador Allende. O ultra-conservador Joaquin Lavín foi o grande derrotado da disputa . Piñera, por sua vez, consolidou-se como a grande surpresa das eleições, superando a candidatura mais tradicional da direita chilena. Aos 56 anos, é acionista majoritário da empresa aérea LAN. Ele conta com o apoio de boa parte do empresariado chilena.

Se, no terreno econômico, a disputa eleitoral chilena não é marcada por grandes polêmicas programáticas, no plano simbólico, a figura de Michelle é uma novidade na vida política do país, que sempre foi governado por homens (como de resto é o caso de toda a América do Sul). Sobrinha do ex-presidente Salvador Allende, assassinado pelos militares durante o golpe de Estado de 11 de setembro de 1973, a escritora Isabel Allende defendeu a candidatura de Bachelet, dizendo que ela simboliza o nascimento de um novo país, “mais justo e um pouco menos machista”.

Em entrevista concedida ao jornal O Globo , Allende disse que as mulheres são a coluna vertebral do país e que Michelle Bachelet encarna esse espírito. “Ela representa a continuidade do governo de Ricardo Lagos, um pensamento político que é o da maioria e a reconciliação do país”, declarou. “Ela não quer torturar seus torturadores, ou assassinar os assassinos de seu pai (que morreu vítima da tortura em 1974). Ela pensa no futuro, nos jovens. Mas não esquece o passado, porque o viveu intesamente”, acrescentou Isabel Allende.

Abstenção foi superior a 12%

A abstenção nas eleições presidenciais chilenas deve ficar por volta de 12,45%, um número superior aos 10,6% registrados no primeiro turno de seis anos atrás. A expectativa é que a participação eleitoral melhore no segundo turno. Em relação às eleições parlamentares, os números foram um pouco mais satisfatórios: cerca de 12,49% dos eleitores na votaram, um índice menor do que os 13,5% registrados nas eleições de 2001.

Os votos nulos e brancos, por sua vez, mantiveram a tendência verificada nas últimas eleições. Nas presidenciais, os votos nulos chegaram a 2,5% e os brancos a 1,17%. Nas parlamentares, com 97% das mesas apuradas, os nulos chegaram a 4,96% e os brancos a 2,95%. Apesar de a participação eleitoral no Chile ser historicamente superior à média dos outros países latino-americanos, pelo menos um milhão de eleitores não votaram. A estes, somam-se outras 2,4 milhões de pessoas que não se inscreveram nos registros eleitorais, principalmente jovens entre 18 e 29 anos. No Chile o voto é obrigatório, mas a inscrição é voluntária.

Carta Maior