Na Índia, quase 500 fábricas foram fechadas em 2004 após reduções nas tarifas sobre as importações de produtos industriais, que causaram invasão de importados mais baratos;
 No Brasil, a eliminação de barreiras comerciais contribui para que as transnacionais expulsem os pequenos - No Paquistão, a competição estrangeira no setor pesqueiro está tirando 300 mil pescadores locais do mercado;
 Na África do Sul, a privatização do abastecimento de água ocasionou corte deste serviço para 500 mil pessoas pelo não pagamento de contas, durante um trimestre de 2001. Algumas famílias passaram a utilizar água de rios poluídos, o que causou surtos de cólera.

Estes e outros efeitos das medidas de abertura comercial já em marcha nas nações subdesenvolvidas constam do relatório Trade Invaders (Invasores Comerciais), elaborado pela ActionAid e lançado no dia 7 em Londres (Inglaterra). “A liberalização forçada que ocorreu em vários países já levou ao desemprego e à exclusão, tanto no campo quanto na cidade”, afirma Adriano Campolina, diretor da ActionAid Americas e coordenador da pesquisa.

De acordo com o estudo, as negociações realizadas durante a preparação da 6ª Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) ameaçam a subsistência de milhões de pessoas, já que os países ricos desejam “novos compromissos comerciais que vão abrir suas economias ainda mais à competição internacional”. Para a ActionAid, isso aumentaria a pobreza e a desigualdade nas nações periféricas, ao contrário do que está estabelecido no mandato regulatório da Rodada de Doha, pauta de negociações no âmbito da OMC criada em 2001 cujo argumento é o da liberalização como caminho para o desenvolvimento.

“O mundo está pleno de exemplos de que o livre-comércio não é uma solução para tal”, discorda Campolina. O diretor da ActionAid defende um comércio regulado de forma multilateral e voltado à promoção do desenvolvimento e à preservação do direito dos países pobres de proteger sua agricultura familiar, seus serviços e sua indústria nascente.

Para Campolina, o provável fracasso nas negociações em Hong Kong é uma boa oportunidade para que as nações periféricas ponham em pauta este outro modelo e para que rediscutam o processo de tomada de decisões na OMC, “profundamente não-transparente e não-democrático”.