Esse encontro é mais importante do que qualquer outro que a ONU possa organizar, pois trata-se, no fundo, de discutir as estratégias de salvaguarda da vida contra as ameaças que pesam sobre ela. Desde a Cúpula da Terra ou Eco-92 do Rio de Janeiro o tema tem ganhado centralidade e recebeu inúmeros documentos oficiais especialmente o Protocolo de Cartagena sobre a Biosegurança do ano 2000 e 2003.

O documento preparatório para Curitiba organizado por especialistas da ONU e do Ministério do Meio Ambiente para o contexto brasileiro define assim a biodiversidade: "o conjunto de toda a vida do planeta Terra, incluindo todas as diferentes espécies de plantas, animais e micro-organismos (estimadas em mais de 10 milhões de espécies), toda a variabilidade genética dentro das espécies(estimada em 10 a 100 genes por espécie) e toda a diversidade de ecossistemas formados por difererentes combinações de espécies; a biodiversidde inclui os serviços ambientais responsáveis pela manutenção da vida na Terra, pela interação entre os seres vivos e pela oferta dos bens e serviços que sustentam as sociedades humanas e suas economias".

Estudando-se os vários documentos ficamos surpresos pela minuciosidade das iniciativas em favor da vida. Até se assumiu uma abordagem sistêmica e holística na consciência de que todos os ecossistemas são interdependentes; o próprio ser humano com sua diversidade cultural é reconhecido como parte integrante. Somente nesta perspectiva integral se preserva a natureza e se garantem benefícios para os seres humanos de forma justa e equitativa.

Por que o cuidado pela preservação da biodiversidade? Porque os estudos dos últimos anos sobre o estado da Terra nos deram as reais dimensões das ameaças que pairam sobre o sistema da vida. O tipo de civilização que se impôs nos últimos trezentos anos, hoje globalizada, implica uma exploração ilimitada de todos os recursos do Planeta, uma extinção aterradora de espécies (mais de três mil por ano), um modo de produção que estressa todos os ecossistemas pois polui os ares, envenena os solos, contamina as águas e quimicaliza os alimentos. Nosso padrão de vida é espoliador e consumista, utilitarista e antropocêntico. Vê a Terra como mero baú de onde tiramos recursos que nos são úteis, sem respeito do valor intrínseco dos seres e sem consciência de que formamos com eles uma comunidade cósmica e biótica.

Lamentavelmente quase todas as iniciativas propostas pela Convenção deixa intocado este sistema intrinsecamente destruidor. Largado em sua lógica pode nos destruir a todos. Mas uma exceção é feita. O texto-base da IIª Conferência Nacional do Meio Ambiente de dezembro de 2005 assume claramente a crítica deste paradigma. Realisticamente, ainda dentro do sistema, se empenha para reduzir sua destrutividade ecológica, apoia as tendências de ruptura com ele e promove formas alternativas de produção e consumo.

Essa visão no pais de maior biodiversidade do Planeta representa significativa esperança de um futuro promissor.