Já que, em 1991, o Bush pai fracassou na invasão do Iraque, e em 2003 o Bush filho faz questão de bancar o garotão que chama no braço o vizinho que teve desavença com seu pai. Há pouco, seis generais dos EUA vieram a público manifestar que a ocupação do Iraque é um beco sem saída, e Donald Rumsfeld, secretário da Defesa, um irresponsável. A única saída, aliás, é a que os EUA conheceram no Vietnã: a derrota vergonhosa, após anos de destruição e mortes.

Devido a essa incontida sanha criminosa de Bush, os eleitores, mundo afora, criam vergonha na cara. Na Itália, acabam de dar um chute no traseiro de Berlusconi. O riquinho mimado fez beicinho e bateu o pé: "Daqui não saio, daqui ninguém me tira" Eis novamente comprovada a minha tese de que nada seduz mais o ser humano que o poder. Muito rico, dono do maior sistema de mídia da Itália, que envolve de emissoras de TV a grandes editoras, Berlusconi teimou em não largar o osso do poder. Em vão, pois a vontade das urnas falou mais forte.

Romano Prodi, líder da coligação de centro-esquerda, é o vitorioso. Bush, que só é democrata quando o seu candidato vence, como o demonstra a vitória do Hamas na Palestina, está tão decepcionado com os italianos quanto por ocasião da vitória de Zapatero na Espanha, pois sabe que perdeu mais um aliado e, em breve, a Itália trará de volta para casa as suas tropas que se encontram no Iraque. Na Europa Ocidental restará à Casa Branca o apoio solitário de Tony Blair que, invertendo a história, faz do Reino Unido uma neocolônia dos EUA.

Pesquisa recente do jornal USA Today e do Instituto Gallup revelou que metade dos estadunidenses prefere que seu governo respeite a autodeterminação dos povos e se concentre em seus negócios internos. Há três anos apenas 1/3 dos pesquisados tinha essa opinião. E 64% são a favor do retorno das tropas acantonadas no Iraque.

Na América Latina, Bush também presta inestimável serviço a favor do fortalecimento de nossas democracias. O eleitorado latino-americano rechaça as velhas oligarquias políticas, subservientes à Casa Branca, como foi o caso de FHC, cujo ministro das Relações Exteriores tirava os sapatos toda vez que punha os pés à porta de Tio Sam. O ministro Celso Amorim, atual chanceler brasileiro, se nega a fazer o mesmo, pois o governo Lula, ao recusar a Alca e exigir da OMC que puna os EUA pelos subsídios ilegais à indústria algodoeira, resgata a nossa soberania.

Lula, Chávez, Kirchner, Tabaré, Morales, René Preval e Michelet são sintomas de melhores tempos e maior democracia na América Latina. E isso numa conjuntura desfavorável a que se aplique de novo ao Continente o purgante que a Casa Branca, em nome da democracia, nos enfiou goela abaixo no passado: ditaduras civis e militares nos anos 40 e 50 (Stroessner, no Paraguai; Duvalier, no Haiti; Somoza, Na Nicarágua; Pérez Jiménez, na Venezuela; Batista, em Cuba etc) e nos anos 60 e 70 (Brasil, Argentina, Uruguai, Chile etc).

Hoje, os oligarcas já não têm força para dar golpes, como se comprovou recentemente na Venezuela, e os generais golpistas estão de barbas de molho, como no Brasil, ou no banco dos réus, como no Uruguai, na Argentina e no Chile. Os EUA encontram-se demasiadamente atolados no Iraque, no Afeganistão e, agora, no Irã, para pensarem em desembarcar seus marines em nossas plagas.

Nos próximos meses, outras eleições canalizarão, segundo as pesquisas, expressiva quantidade de votos a candidatos presidenciais progressistas,como Humala, no Peru; Obrador, no México; Daniel Ortega, na Nicarágua. Para que tal avanço seja assegurado é fundamental a reeleição de Lula, pois o Brasil joga um papel estratégico no Continente, servindo de anteparo às agressões da Casa Branca à Venezuela e de advogado de defesa da reintegração de Cuba aos organismos multilaterais. O retorno dos tucanos seria brindado no Salão Oval com litros e litros de Coca-Cola, já que Bush é oficialmente abstêmio.

Não há que criar ilusões. A direita ainda tem muita força. Dispõe de dinheiro, mídia e capacidade de induzir as pessoas a trocar a liberdade pela segurança, sob a égide do medo. Contudo, o eleitor, que tanto almeja mudanças, está apostando que também é possível alcançá-las pela via pacífica e democrática. Resta saber se a águia do Norte haverá de conter suas garras e respeitar a autodeterminação de nossos países latino-americanos.

Obrigado, Mr. Bush. O feitiço, mais uma vez, vira-se contra o
feiticeiro.

Fonte
Adital (Brasil)
Agência de notícias de inspiração cristã, especializada na América Latina/Agencia de noticias de inspiración cristiana, especializada en América Latina.