IА REX: O que tem de tão especial o Afeganistão para já ter “quebrado os dentes” de três impérios: Britânico, Soviético e Americano?

Alexander Knyazev: Dizer que o Afeganistão nunca foi derrotado é viver no reino da fantasia. Os Britânicos venceram duas guerras até que foram derrotados na Terceira guerra Anglo-Afegã em 1919.

A União Soviética não perdeu a guerra no Afeganistão, houve uma decisão política para retirar as tropas e então as tropas foram retiradas. A decisão foi uma traição ao governo Afegão que, incidentalmente, permaneceu no poder por mais três anos sem qualquer apoio da URSS. Em 1988, com o consentimento de Mikhail Gorbachev, o então Ministro Soviético dos Negócios Estrangeiros Eduard Shevardnadze (mais tarde presidente da recém- independente Georgia – OR) assinou um acordo em Genebra, segundo o qual a URSS suspendia todo a ajuda ao governo do Presidente Najibullah. Ao mesmo tempo, que a ajuda dada as forças anti-governamentais pelos EUA, como pelos países Europeus Árabes cresceu imediatamente dez vezes mais, se não uma centena de vezes mais.

Eu abster-me-ei de comentar seja o que for por enquanto acerca dos Americanos, visto que o seu interesse não é a vitória a um nível puramente militar, eles têm em mente outros objectivos.

IА REX: Porque é que a América está a aguentar nesta região tão resolutamente, apesar das suas perdas militares e do dano que isto causa à sua imagem? Quais tem sido os reais benefícios da campanha Afega

AK: Primeiro de tudo, as forças Americanas estão no Afeganistão e um governo fantoche está no poder Cabul, assim qualquer que seja o resultado final nos próximos anos, as bases militares Americanas permanecerão no Afeganistão e numa quantidade de países vizinhos.

Esta é a razão por que a realmente campanha começou antes de mais; a “ luta contra o terrorismo internacional ” no Afeganistão faz ainda mais parte do dia-a-dia da moderna fábrica da mistificação política. Não há absolutamente nenhuma ligação entre os eventos do 11 de Setembro de 2011 em Nova Iorque, os Talibãs e o Afeganistão.

É um grande show muito superior ao dos produtores de musicais da Broadway... Há uma quantidade de exemplos na moderna e contemporânea história Americana onde centenas e milhares de pessoas são sacrificadas, incluindo dos seus próprios cidadãos, para atingir os objectivos da política externa Americana. A realidade é que os EUA se tornaram um poder militar no Médio Oriente e na Ásia Central, na esfera dos interesses vitais do Irão, da China e da Rússia. Este é o facto principal. As perdas são secundárias sejam militares ou de imagem.

IА REX: Na sua opinião, qual é a melhor solução para o Afeganistão?

AK: Justamente um processo de negociações com uma condição universal: a preservação da integridade territorial do país, e a inviolabilidade das suas fronteiras. Há o perigo que um cenário Americano para a região preveja a mudança da sua geografia política. O Afeganistão é um país multi-étnico, mas o país não é facilmente divisível segundo linhas étnicas. Qualquer destas tentativas levaria as comunidades étnicas dos países vizinhos a envolverem-se no conflito de redistribuição.

Considerando as diferenças no desenvolvimento regional, o modelo que melhor serve ao Afeganistão seria aquele em que um poder central forte é combinado com regiões que são independentes em muitas das suas funções. Algo como o modelo Americano, talvez. Mas de modo nenhum segundo linhas étnicas.

Para permanência no Afeganistão, é extremamente importante levar em conta o fator religioso. É possível encontrar gente nas maiores cidades que têm uma visão relativamente secular, mas no conjunto, o papel do Islão no país, junto com os seus inspiradores – A Ulama, permanece tão importante hoje em dia como em fases passadas da história. A tradicional classe social da intelligentsia medieval Muçulmana jogou e ainda joga um papel mais decisivo na vida do país que a intelligentsia secular. Durante muitos séculos, o clero Islâmico ocupou uma importante posição na sociedade Afegã e é essencialmente o maior factor de unidade. A tradição de envolvimento do clero na vida política (e a presença obrigatória do componente religioso como dominante na ideologia) foi estabelecida durante as guerras Anglo-Afegãs e gradualmente assentou as bases para o tipo de fundamentalismo onde os pregadores mais tarde se tornaram numa força política poderosa e maravilhosamente organizada de forma fácil e rápida. A elite Islâmica Suni é potencialmente o principal factor condutor ao poder de facto.

Os líderes religiosos são a força capaz de mobilizar uma resistência de sucesso a qualquer governo central. Isto tornou-se claro, de facto, durante as tentativas para introduzir na sociedade Afegã tanto as ideias socialistas nos anos 80s como as experiências democráticas na última década. É necessário um diálogo com o clero, e só com a condição acima mencionada o acordo será nacional e terá sucesso.

IА REX: O que deveria a comunidade internacional fazer para reduzir o risco das ameaças terroristas e das drogas vindas hoje em dia do Afeganistão?

AK: A “ comunidade internacional” é uma ficção. Há poderes ou centros de poder que estão interessados na presença destes tipos de ameaças; há países cuja segurança nacional está sendo ameaçada. Eu incluiria a comunidade Anglo-Saxónica nos primeiros, cujo Establishment já publicamente declarou um interesse em reduzir a população do planeta. Para os EUA, por exemplo, as drogas do Afeganistão não são um problema grave, a sua exportação para a América é de pouca monta, apenas casos isolados. Para a Rússia, países da região e a Europa, contudo, ela é actualmente uma das mais sérias ameaças à sua segurança e existência.

Na Europa, os principais centros para a distribuição dos opiáceos Afegãos são as bases aéreas Americanas na Alemanha, Itália, Kosovo e Espanha. Destas, o principal centro é a base Bondsteel no Kosovo. O Kosovo só foi criado com o fim de provocar problemas à Europa, mas os Europeus estão de tal modo deteriorados mentalmente que aparentemente não querem ver isto ou percebê-lo.

Ajuda externa para a pacificação no Afeganistão apenas pode ser providenciada por aqueles com uma posição imparcial: a Rússia, Irão, Paquistão, China, Uzbequistão, Tadjiquistão, Turquemenistão e possivelmente a India, nos quais muitas das ameaças vindas do Afeganistão são projetadas.
Apenas é possível garantir a estabilidade no Afeganistão pela negociação e encontrando os necessários compromissos. É necessário um árduo trabalho de negociação com os líderes de todas as comunidades sem excepção. É preciso perceber que os Talibãs são um conglomerado de muitos grupos diferentes.

Deve ser conseguida uma retirada completa das tropas Anglo- Saxónicas do país, encontrados meios de bloquear intervenções externas e criado um mecanismo de negociação inter-Afegão baseado na Organização de Cooperação de Xangai, por exemplo.

IА REX: O Afeganistão é rico em minérios. Tem enormes reservas de cobre, por exemplo. Há alguma hipótese de refocar a economia da produção de opiáceos, por exemplo, para a mineração?

AK: A resposta a essa questão deriva directamente do que acabei de dizer. Sim, há um grande número de minérios, incluindo uma das maiores jazidas de cobre do mundo em Aynak na província Afegã de Logar, a qual é a que você se está a referir. Em 2007, a companhia estatal Chinesa China Metallurgical Corporation ganhou um concurso para minerar a jazida de cobre. Mas é preciso que a economia estabilize entretanto. No entretanto, os Chineses apenas podem despender um tempo diminuto ao desenvolvimento deste projeto.

Actualmente, as companhias chinesas estão a trabalhar no norte nos campos de gás e petróleo, particularmente na província de Jowzjan. Mas eu não penso que qualquer um dos projetos principais possa avançar sem que ao menos algum grau de estabilidade tenha primeiro sido conseguido. Se companhias da China, Rússia e Irão decidirem trabalhar no Afeganistão, elas enfrentarão oposição direta dos Anglo-Saxões por intermédio de grupos particulares de Talibãs, grupos que eles controlam...

No que diz respeito às drogas, não se deve partir do Afeganistão mas das rotas de tráfico. O preço da heroína, partindo da plantação onde o ópio em cru é cultivado e acabando nos consumidores na Europa, aumenta umas cem vezes.

O cultivador Afegão consegue uma meia-dúzia de cêntimos deste processo produtivo, mas aqueles que estão mais acima ao longo desta cadeia ganhão milhões e biliões e simplesmente não permitem que os cultivadores desistam da produção. O ópio é um negócio garantido – os compradores vão em pessoa aos campos de cultivo. Para os produtores é como um sistema de crédito.

Por exemplo, pela colheita de trigo ou sésamo num hectare de cultivo, o agricultor não recebe o mesmo que ganharia se cultivar ópio no mesmo hectare de terra, embora também não seja muito mais. Então o que deveria ser feito com a produção? Quem é que, num país em guerra, vai viajar através dos campos e adquirir uma produção agrícola? Quando se trata de ópio, no entanto, eles deslocam-se e vão comprá-lo no local.

É uma enorme corporação internacional que envolve não apenas agências policiais de países inteiros, mas também cabeças de grande número de estados. Até agora, os maiores êxitos de combate, pelo menos ao seu tráfico, têm sido demonstrados pelo Irão. Isto até foi reconhecido pelas Nações Unidas, onde o governo Iraniano poucos amigos tem. Qualquer das actividades associadas a drogas é punida com pena de morte. Eu estou convencido que isto é mais do que justo quando se pensa no resultado deste tráfico para um grande número de outras pessoas....

Fonte
Oriental Review (Rússia)