O fechamento dos canais de crédito internacional (credit crunch), resultado de massivas quebras bancárias nos Estados Unidos, após o desabamento do Lehman Brothers em setembro de 2008, levou os inversionistas, em um primeiro momento, a buscarem refúgio no dólar, moeda hegemônica do sistema monetário internacional. Esse movimento precipitou a queda das moedas nacionais em relação às dividas estadunidenses e diminuiu os saldos superavitários das contas-correntes das economias periféricas observados a partir de 2002. Os fluxos de mercadorias de origem primária (matérias primas) e secundário (manufaturas e produtos industriais) sofreram queda, afetados sobretudo pela redução dos preços, mais do que pela diminuição do volume exportado.

Por outro lado, a resistência do Congresso estadunidense tem mantido congelada a implementação dos acordos alcançados no G-20 para reformar o sistema de representação do Fundo Monetário Internacional (FMI), atualmente sob esmagador domínio do G-7. Por essa razão, a China orienta cada vez mais sua moeda para de um lado reduzir os efeitos negativos do direito de senhoriagem do dólar sobre os fluxos globais de capital, e de outro, ir construindo um sistema monetário multipolar.

 Para tanto, o governo chinês colocou em marcha um plano global com 3 estratégias-chave:
Em primeiro lugar, tem impulsionado a assinatura de swaps cambiários bilaterais (permutas de cobertura de divisas) com outros bancos centrais. O objetivo consiste em proteger os fluxos de comércio e investimento mediante a provisão de moeda estrangeira aos setores público e privado. Assim, desde 2009 o país assinou swaps cambiários bilaterais com mais de 20 bancos centrais. Fora do continente asiático, destacam-se os acordos com o Banco da Inglaterra (BoE) em 32,6 milhões de dólares, e 57 milhões de dólares com o Banco Central Europeu (BCE). Rússia e Índia também firmaram esses acordos, ambos países integrantes do grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Ao passo que a América Latina, cujo comércio com a China cresceu 18% por ano durante a última década, Brasil e Argentina possuem cerca de 30 e 11 milhões de dólares em swaps cambiários, respectivamente. Dessa maneira, a diplomacia do Banco Popular da China tem criado um mercado global para o yuan em rápido crescimento que já coma mais de 4 bilhões de dólares.

 Em segundo lugar, através da Plataforma de Negociação de Divisas (CFETS), Pequim estabeleceu nos últimos 2 anos centros de liquidação direta no exterior, para facilitar o uso da moeda chinesa. As vantagens destes projetos incluem cruzar de maneira direta as divisas, reduzir os custos de investimentos, facilitar o uso das moedas nacionais nos acordos bilaterais e finalmente promover a cooperação financeira e econômica. Dentro deste esquema piloto, a Malásia Ringgit (MYR), o rublo russo, o iene japonês, o dólar australiano, o dólar neozelandês, e mais recentemente, a libra esterlina e o euro realizam operações diretas na “moeda do povo” (renminbi).

 Em terceiro lugar, através do Programa Chinês de Investimentos Institucionais Estrangeiros Qualificados em Renminbi (RQFII), o qual permite que as empresas das cidades eleitas pela China (Londres, Paris y Frankfurt na União Europeia, Hong Kong, Singapura, Seul e Taiwan no continente asiático) investir nos mercados valores e adquirir ativos financeiros denominados em moeda chinesa, mediante quotas arrematadas pelo mercado regulador.

Não resta dúvidas que o estímulo principal da China para avançar na internacionalização de sua moeda reside em sua força comercial. Atualmente, a China é o primeiro exportador mundial de mercadorias e o segundo maior importador. Previsivelmente, a metade do comércio exterior com a economia chinesa será faturado em yuan em um prazo de até 15 anos.

Dessa forma, a China figura como o primeiro sócio comercial da América Latina nos próximos anos e ultrapassa de maneira gradual a posição econômica dos Estados Unidos em diversas regiões. Nesse sentido, tudo parece indicar que a relação entre ambas economias dará um salto qualitativo através do impulso do renminbi ao plano regional.

Recentemente, ocorreu a VIII Cúpula China- América Latina e o Caribe na cidade de Changsha com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Popular da China e o Conselho Chinês para a Promoção do Comércio Internacional e o governo da província de Hunan. O encontro reuniu centenas de executivos de empresas e funcionários de alto nível para discutir os termos da relação econômica. Surpreendentemente, o ministro da Economia e Finanças do Uruguai, Mario Bergara, manifestou seu interesse de converter Montevidéu na primeira capital latino-americana especializada no comércio em moeda chinesa. Para chegar a ser a capital do yuan na América Latina, Montevidéu deverá aprofundar a cooperação bilateral em matéria financeira com a China, seja por meio de assinatura de swap cambiário bilateral, iniciando os trâmites correspondentes para emitir títulos denominados em yuan (os famosos títulos “Dim Sum”), realizando investimentos transfronteiriços mediante o programa RQFII, ou se converter no centro de liquidação direta tal qual fizeram várias cidades europeias e asiáticas.

Em suma, mesmo com o grande caminho a perseguir antes de se converter em moeda reserva, o yuan avança de maneira acelerada e a América Latina poderia ser protagonista nesse esforço, através do Uruguai.

Tradução
Ina Thomé Picoli