Os habitantes do bairro de Centocelle, em Roma, protestam com razão sobre o impacto da construção doPentágono italiano, no parque arqueológico e na sua área verde (il manifesto, 29 de outubro). Há, no entanto, outro impacto, muito mais grave, que fica em silêncio: o da Constituição italiana.

Como já documentado [1], o projecto de reunir os vértices de todas as forças armadas numa única estrutura, cópia em miniatura do Pentágono dos EUA, é parte integrante da «revisão do Modelo Operacional das Forças Armadas», institucionalizada no «Livro Branco da Defesa e Segurança Internacional», assinado pela Ministra Pinotti.

O mesmo altera as bases constitucionais da República Italiana, reconfigurando-a como potência que intervém militarmente nas áreas do Mediterrâneo - Norte da África, Médio Oriente e Balcãs - em apoio aos seus interesses vitais «económicos e estratégicos» e em qualquer lugar do mundo - do Báltico ao Afeganistão – estão em jogo os interesses do Ocidente representados pela NATO sob o comando dos Estados Unidos.

Prática para tudo isto é a Lei-Quadro 2016, que institucionaliza as missões militares no estrangeiro (actualmente 30, em 20 países), financiando-as com um fundo do Ministério da Economia e Finanças. Cresce, assim, a despesa militar real que, com estas e outras vozes adicionais ao orçamento da Defesa, aumentou uma média de cerca de €70 milhões de euros por dia e que deverá chegar a cerca de 100 milhões por dia, consoante é exigido pela NATO.

A reconfiguração das Forças Armadas em função ofensiva requer armamentos de nova geração cada vez mais caros. A última aquisição, o míssil americano Agm-88E Aargm, versão modernizada (um custo de 18,2 milhões de dólares, para 25 mísseis) em comparação com os modelos anteriores comprados pela Itália: é um míssil de médio alcance lançado por caças bombardeiros para destruir radares no início da ofensiva, ‘cegando’, assim, as defesas do país sob ataque.

A empresa de fabrico, a Orbital Atk, afirma que «o novo míssil também é compatível com o F-35», o caça americano da Lockheed Martin, cuja produção a Itália está a participar na fábrica Faco di Cameri administrada pela Leonardo ( antes, Finmeccanica), comprometendo-se a comprar-lhe 90 unidades. O primeiro F-35 chegou à base de Amendola em 12 de Dezembro de 2016, tornando a Itália o primeiro país a receber, após os EUA, o novo caça de quinta geração que estará armado com a nova bomba nuclear B 61-12.

A Itália, no entanto, não só compra, mas também produz armamento. A indústria militar é definida no Livro Branco como o "Pilar do Sistema do País", pois «contribui, através das exportações, para o reequilíbrio da balança comercial e para a promoção de produtos da indústria nacional em sectores de alta remuneração". Não faltam resultados: Leonardo ascendeu ao nono lugar na classificação das 100 maiores indústrias de guerra do mundo, com vendas anuais de armas de cerca de 9 biliões de dólares, em 2016.

No início de Outubro, a Leonardo Company anunciou a abertura de outra fábrica na Austrália, onde produz armamentos e sistemas de comunicação para a Marinha militar australiana. Por outro lado, para a produção no sector militar, que fornece, hoje à Leonardo, 84% das vendas, foram vendidas à Hitachi japonesa duas empresas Finmeccanica - a AnsaldoSts e a Ansaldo Breda - líderes mundiais da produção ferroviária.

Sob este «pilar do Sistema do País» está a construir-se, com fundos apoiados pelo Orçamento da Lei de Estabilidade, o Pentágono italiano, a nova sede do Ministério da Guerra.

Tradução
Maria Luísa de Vasconcellos
Fonte
Il Manifesto (Itália)

[1O Pentágono de Roberta Pinotti”, Manlio Dinucci, Tradução José Reinaldo Carvalho , Il Manifesto (Itália) , Rede Voltaire, 9 de Março de 2017.