Este artigo é extraído do livro Sob os nossos olhos.
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O Almirante Arthur Cebrowski dividiu o mundo em dois : os Estados globalizados e todos os outros. Estes últimos estão condenados a não ser mais que reservatórios de riquezas naturais e de mão de obra. A missão do Pentágono no post-11-de-Setembro já não é de ganhar guerras, mas de privar as regiões não-globalizadas de estruturas estatais e de aí instalar o caos.

A estratégia de Washington

Voltemos à nossa história. Em 2001, Washington tinha acabado por se intoxicar e se persuadir quanto a uma penúria iminente de fontes de energia. O Grupo de Trabalho, presidido por Dick Cheney, sobre o Desenvolvimento da Política Energética Nacional (NEPD) tinha ouvido todos os responsáveis públicos e privados de aprovisionamento em hidrocarbonetos. Tendo-me encontrado à época com o Secretário-geral deste organismo, que o Washington Post qualificava de « sociedade secreta » [1], fiquei impressionado pela sua determinação e pelos seus planos para fazer face a tal penúria. De modo que, nada sabendo sobre este assunto, eu aderi por algum tempo a essa visão malthusiana.

Seja como for, Washington concluiu, a propósito, que precisava de deitar a mão o mais rapidamente possível às reservas conhecidas de petróleo e de gás para continuar a garantir o funcionamento da sua economia. Esta política será abandonada quando a elite dos EU constatar a possibilidade de explorar outras formas de petróleo para além do crude oil saudita, o petróleo texano ou o do Mar do Norte. Ao tomar o controle da Pemex [2], os Estados Unidos irão apoderar-se, então, das reservas do Golfo do México e proclamarão a sua auto-suficiência energética mascarando a sua jogada por trás da promoção do petróleo e gás de xisto. Hoje em dia, contradizendo as previsões de Dick Cheney, a disponibilidade de petróleo nunca foi tão grande e tão barata.

Para controlar o « Próximo-Oriente Alargado » o Pentágono exige dispôr de toda a latitude e distinguir o seu objectivo estratégico dos desideratos das companhias petrolíferas. Apoiando-se em planos britânicos e israelitas, ele encara a remodelagem da região, quer dizer, alterar as fronteiras herdadas dos Impérios europeus, suprimir os grandes Estados capazes de lhe resistir e criar pequenos Estados etnicamente homogéneos. Para além de que se trata de um projecto de dominação, este plano aborda o conjunto da região sem levar em conta as especificidades locais. Mesmo se, por vezes, as populações são geograficamente distintas, elas estão, no entanto, tão imbricadas que a sua separação se torna ilusória salvo à custa de massacres brutais.

Segundo a Doutrina Rumsfeld/Cebrowski, já não é necessário ganhar guerras. A estabilidade é a inimiga dos Estados Unidos. É por isso que as guerras do Afeganistão, do Iraque, da Líbia e da Síria, que deviam ser vencidas em poucas semanas continuam até aos dias de hoje.

Na realidade, a equipe que organizou os atentados do 11-de-Setembro —da qual Dick Cheney faz parte— sabe tudo isso e reflectiu muito, a propósito, com antecedência. Assim, ela aplica uma vasta reforma das Forças Armadas segundo o modelo do Almirante Arthur Cebrowski. Este homem havia já transformado as práticas militares dos EUA em função das novas ferramentas informáticas [3]. Ele também elaborou uma estratégia para destruir os Estados enquanto organizações políticas e permitir às grandes empresas informáticas dirigir o mundo globalizado em seu lugar [4]. No dia seguinte ao 11-de-Setembro, a revista da arma de Infantaria, Parameters [5], expõe o projecto de remodelagem do « Médio Oriente Alargado » precisando que ele será particularmente sangrento e cruel. Ela indica que será necessário cometer crimes contra a humanidade que poderão ser sub-contratados a terceiros. Depois, o Secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, atribui um gabinete no Pentágono ao Almirante Cebrowski para supervisionar tudo isto.

O 11-de-Setembro não é pois apenas um meio de fazer adoptar com urgência um Código anti-terrorista, o USA Patriot Act (Lei Patriota-ndT), redigido com, pelo menos, dois anos de antecedência, mas também de empreender uma vasta reforma das instituições : a criação do Secretariado para a Defesa da Pátria (Department of Homeland Security, muitas vezes impropriamente traduzido por Departamento de Segurança Interna) e a das Forças Especiais clandestinas (no seio das Forças Armadas).

O 3º secretário da Embaixada dos EUA em Moscovo, Ryan C. Fogle, foi detido pelo FSB em 2013. Era um dos homens das Forças Especiais secretas do Pentágono. Ele aprestava-se para recrutar um espião no seio da Direcção anti-terrorista do Cáucaso. Aquando da sua detenção, estava na posse de toda uma parafernália permitindo-lhe disfarçar-se e modificar as suas impressões digitais.

O Departamento da Segurança da Pátria não encabeça unicamente diferentes agências como a Guarda Costeira ou os Serviços de Imigração. É também um vasto sistema de controle da população norte-americana, empregando a tempo inteiro 112. 000 espiões internos [6]. As Forças Especiais clandestinas formam um exército de 60. 000 homens hiper-treinados, agindo sem uniforme à revelia da Convenção de Genebra [7]. Elas podem liquidar quem o Pentágono desejar, seja em que parte do mundo for. E o Pentágono não vai privar-se de rentabilizar este investimento, no maior segredo.

As guerras contra o Afeganistão e contra o Iraque

As operações começam com a guerra contra os Talibã, em aplicação da Doutrina Cheney, após a ruptura das negociações para construir um gasoduto através do Afeganistão, no meio de Julho de 2001. O Embaixador Naiz Naik, que representava o Paquistão nas negociações de Berlim com os Talibã, regressara a Islamabade considerando o ataque dos EUA inevitável [8]. O seu país tinha começado a preparar-se para as consequências. A frota britânica tinha-se deslocado para o Mar de Omã, a OTAN tinha encaminhado 40.000 homens para o Egipto, e o líder tajique Ahmad Shah Massoud havia sido assassinado dois dias antes dos atentados de Nova Iorque e de Washington.

Os representantes dos Estados Unidos e do Reino Unido na ONU, John Negroponte e Sir Jeremy Greenstock, asseguram que o Presidente George W. Bush e o Primeiro-Ministro Tony Blair aplicam o Direito de legítima defesa ao atacar o Afeganistão. Ora, todas as chancelarias sabem que Washington e Londres queriam fazer esta guerra independentemente dos atentados. Na melhor das hipóteses, elas concluem que eles instrumentalizam o crime, do qual só o primeiro foi vítima. Entretanto, eu consigo lançar a dúvida a nível mundial sobre o que realmente se passou naquele 11-de-Setembro. Em França, o Presidente Jacques Chirac faz avaliar o meu trabalho pela DGSE. Após uma investigação aprofundada, esta constata que todos os elementos em que eu me apoio são verídicos, mas não pode, no entanto, confirmar as minhas conclusões.

O quotidiano Le Monde, que lançou uma campanha para me desacreditar, satiriza as minhas previsões segundo as quais os Estados Unidos vão atacar o Iraque [9]. No entanto, o inevitável acontece. Washington acusa Bagdade de abrigar membros da Alcaida e de preparar armas de destruição maciça para atacar a « terra da liberdade ». Teremos, pois, a guerra, tal como em 1991.

Para acusar o Iraque da posse de armas químicas, Donald Rumsfeld apoiava-se nas que ele próprio tinha vendido ao Presidente Saddam Hussein durante a guerra contra o Irão. Mas, este tinha-as utilizado todas.

Todos estamos então face a um caso de consciência. Persistindo em fechar os olhos ao Golpe de Estado do 11-de-Setembro, impedimo-nos de contestar a narrativa dos Estados Unidos e vimo-nos forçados a aprovar o crime seguinte : a invasão do Iraque, no caso. Só um alto funcionário internacional, Hans Blix, decide defender a verdade [10]. Este diplomata sueco é o antigo director da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Ele preside à Comissão de controle, de verificação e de inspeção das Nações Unidas, encarregue de vigiar o Iraque. Fazendo frente a Washington, ele afirma que o Iraque não tem os meios de que o acusam. Uma pressão sem precedentes é colocada sobre os seus ombros : não só o Império norte-americano, mas todos os seus aliados fazem pressão sobre ele para que se deixe de infantilidades e deixe a primeira potência mundial destruir o Iraque. Ele não cederá, mesmo quando o seu sucessor na AIEA, o Egípcio Mohamed el Baradei, fingir jogar aos apaziguadores.

Em 5 de Fevereiro de 2003, o Secretário de Estado e antigo chefe do Estado-Maior conjunto, Colin Powell, pronuncia um discurso no Conselho de Segurança, cujo texto foi escrito pela equipe de Cheney. Ele acusa o Iraque de todos os males, inclusive de proteger os autores dos atentados do 11-de-Setembro e preparar as armas de destruição em massa para atacar os Estados ocidentais. A propósito, ele revela a existência de um novo rosto da Alcaida, Abu Musab Al-Zarqawi.

O Ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Dominique de Villepin, veio ao Conselho de Segurança da ONU para se opôr à guerra norte-americana contra o Iraque.

Mas, pelo seu lado, Jacques Chirac recusa juntar-se ao crime. No entanto, ele não se imagina no papel de denunciante das mentiras de Washington. Envia o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dominique de Villepin, ao Conselho de Segurança. Este deixa em Paris os relatórios da DGSE e concentra a sua intervenção na diferença entre uma guerra imposta e uma guerra de escolha. É claro que o ataque ao Iraque não tem nenhuma relação com o 11-de-Setembro, antes é uma escolha imperial, uma conquista. Villepin vai, então, sublinhar os resultados já obtidos por Blix no Iraque. Depois vai esvaziar as acusações dos E.U. para mostrar que o uso da força não se justifica neste momento e concluir que nada prova que a guerra possa levar a melhores resultados que a continuação das inspecções. Crendo que esta intervenção ofereça uma porta de saída a Washington e que guerra será evitada, o Conselho de Segurança aplaudiu-o. É a primeira vez na qual diplomatas aplaudem um dos seus nesta sala.

Não apenas Washington e Londres irão impôr a sua guerra como, esquecendo Hans Blix, os Estados Unidos irão empreender todo o tipo de acções para « fazer pagar » a Chirac. O Presidente francês não tardará a baixar a guarda e a servir, mais do que o necessário, o seu suserano norte-americano.

Apesar das ameaças, Hans Blix, Presidente da Comissão de controle, de verificação e de inspecção das Nações Unidas (COCOVINU), recusou confirmar que o Iraque detivesse em 2003 armas de destruição maciça. Ora, era este o argumento utilizado pelo Presidente Bush para justificar a sua guerra contra o país.

Devemos tirar as lições desta crise. Hans Blix, tal como o seu compatriota Raoul Wallenberg durante a Segunda Guerra mundial, recusou a ideia de que os Norte-Americanos (ou os Alemães) são superiores aos outros. Ele decidiu tentar salvar homens que não tinham cometido quaisquer crimes a não ser o facto de serem Iraquianos (ou Judeus Húngaros). Jacques Chirac teria querido ser como eles, mas os seus erros precedentes e os segredos da sua vida privada expuseram-no a uma chantagem que não lhe deixou como escolha senão demitir-se ou submeter-se.

Washington prevê colocar no Poder, em Bagdade, Iraquianos do exílio que selecionou no seio de uma associação britânica, o Conselho Nacional Iraquiano, presidido por Ahmed Chalabi. Que este seja, aliás, considerado como um escroque internacional, após a sua condenação pela falência do Banco Petra na Jordânia, não é tido em conta. O fabricante de aviões, Lockheed Martin, cria um Comité para a libertação do Iraque [11], do qual o antigo Secretário de Estado e mentor de Bush Jr., George Shultz, assume a chefia. Este Comité e o Conselho de Chalabi vendem esta guerra à opinião pública norte-americana. Eles garantem que os Estados Unidos se irão limitar a prestar assistência à oposição iraquiana e que esta não será longa.

Tal como o ataque ao Afeganistão, o do Iraque fora preparado antes dos atentados de Nova Iorque e de Washington. O Vice-Presidente Dick Cheney tinha, ele próprio, negociado, no início de 2001, a implantação de bases militares dos E.UA. no Quirguistão, no Cazaquistão e no Usbequistão no quadro do desenvolvimento de acordos Central Asia Battalion (CENTRASBAT) da Comunidade Económica da Ásia Central. Tendo os planeadores (planejadores-br) antecipado que para fazer esta guerra, as tropas necessitariam de 60. 000 toneladas de material por dia, o Centro de gestão de transportes militares (Military Traffic Management Command – MTMC) tinha sido encarregue de começar antecipadamente a transportar para lá toda a logística.

Opositor determinado do tandem Rumsfeld/Cebrowski, o General Paul Van Riper (já na reforma) veio comandar as "forças vermelhas" (o Iraque) durante uma simulação do ataque a este país. Ele conseguiu provocar estragos que teriam custado pelo menos 20. 000 homens aos Estados Unidos. Assim, antes de atacar o país, o Pentágono preferiu comprar os Generais do Presidente Saddam Hussein em vez de enfrentar o seu Exército em pleno.

O treino das tropas, esse, só teve lugar após os atentados. Que foram as maiores manobras militares na História: « Desafio do Milénio 2002 » (Millennium Challenge 2002). Este jogo de guerra misturava manobras reais e simulações em salão de Estado-Maior realizadas graças às ferramentas tecnológicas utilizadas em Hollywood para o filme Gladiador. De 24 Julho a 15 Agosto de 2002, 13. 500 homens foram mobilizados. As ilhas de San Nicola e San Clemente, ao largo da Califórnia, e o deserto de Nevada tinham sido evacuados para servir como teatro de operações. Esta orgia de meios obrigou a um orçamento de US $ 235 milhões de dólares. Como curiosidade, os soldados simulando as tropas iraquianas eram comandados pelo General Paul Van Riper; aplicando uma estratégia não convencional, eles levaram a melhor sobre as tropas norte-americanas de tal modo que o Estado-Maior parou o exercício antes do seu final [12].

Não levando em conta nem os relatórios de Hans Blix, nem as objecções francesas, Washington lança a « Operation Iraqi Liberation » (Operação Libertação do Iraque), em 19 de Março de 2003. Sendo notado o lapso que revela o seu acrónimo inglês, OIL (petróleo), ela é renomeada « Operation Iraqi Freedom » (Operação Liberdade para o Iraque). Um fogo militar de uma potência nunca vista abate-se sobre Bagdade, causando « Choque e Pavor » (Shock and Awe). Os Bagdadenses ficam atordoados, enquanto os EUA e os seus aliados se apoderam do país.

Donald Rumsfeld confiou o Iraque conquistado ao adjunto, no privado, de Henry Kissinger, L. Paul Bremer III. Este dirigiu uma empresa privada pomposamente batizada « Autoridade Provisória da Coligação ». Ignora-se quem foram os felizes beneficiários desta operação.

A governação é primeiro assumida por um gabinete do Pentágono, o ORHA (Office of Reconstruction and Humanitarian Assistance), depois ao fim de um mês por um administrador civil nomeado pelo Secretário da Defesa, L. Paul Bremer III, adjunto no privado de Henry Kissinger. Cedo ele assume o título de Administrador da Autoridade Provisória da Coligação. Ora, contrariamente ao que esta denominação deixa supor, esta Autoridade não foi criada pela Coligação que jamais se reuniu e da qual se ignora exactamente a composição. [13].

Pela primeira vez, aparece um órgão que depende do Pentágono, mas não figura em nenhum organigrama dos EUA. Ele é a emanação do grupo que tomou o Poder a 11 de Setembro de 2001. Nos documentos publicados por Washington, a Autoridade é designada como um órgão da Coligação se o documento é destinado a estrangeiros, e como um órgão do governo EUA se ele é destinado ao Congresso. À excepção de um funcionário britânico, todos os empregados da Autoridade são pagos por administrações norte-americanas, mas não estão sujeitos às leis dos EUA. Assim, usam de todas as conveniências em relação ao Código dos contratos públicos. A Autoridade confisca o Tesouro iraquiano, ou seja 5 mil milhões (bilhões-br) de dólares, mas apenas mil milhões aparecem na sua contabilidade. Aonde foram parar os restantes US $ 4 mil milhões? A pergunta é levantada na Conferência de Madrid para a reconstrução. Ela jamais receberá qualquer resposta.

O Embaixador Peter W. Galbraith, que inventou o mito do Presidente Saddam Hussein como um genocida de Curdos, foi encarregado de aplicar o plano do Senador Joe Biden de divisão do Iraque em três Estados distintos.

O adjunto de Paul Bremer não é outro senão Sir Jeremy Greenstock, o representante do Reino Unido no Conselho de Segurança que justificou os ataques ao Afeganistão e ao Iraque. Durante a ocupação, os Estados Unidos examinam as possibilidades de remodelagem do Iraque, no caso a partição em três Estados segundo o plano do Senador democrata Joe Biden. Bremer envia, pois, o Embaixador Peter Galbraith —o qual organizou a partição da Jugoslávia em sete Estados distintos— para conselheiro do Governo regional curdo.

O Professor Leo Strauss havia escolhido alguns dos seus alunos judeus para formar um grupo de “hoplitas” (soldados em Esparta). Ele enviava-os para perturbar as aulas dos seus rivais na universidade de Chicago. Ensinava-lhes que mais valia formar uma ditadura do que ser vítima de um tal regime.

Bremer trabalha directamente com o Secretário-adjunto da Defesa, Paul Wolfowitz, que definira a estratégia futura dos EUA aquando da dissolução da URSS. É um judeu trotskista que foi moldado no pensamento de Leo Strauss. Ele instalou no Pentágono inúmeros seguidores do filósofo alemão. Juntos, formam um grupo estruturado, muito coerente e solidário. Segundo eles, tirando a lição da fraqueza da República de Weimar face aos nazistas, os judeus não podem ter confiança nas democracias para os proteger face a um novo genocídio. Pelo contrário, eles devem tomar o partido de regimes autoritários e colocar-se do lado do Poder. Assim, é legitimada a ideia de uma ditadura mundial de maneira preventiva [14].

Wolfowitz fixa as grandes linhas do trabalho da Autoridade Provisória da Coligação, ou seja, simultaneamente a desbaathificação do país —quer dizer a demissão de todos os funcionários membros do partido laico Baath— e a sua pilhagem económica. Sob suas instruções, Bremer atribui todos os contratos públicos a sociedades amigas, geralmente sem concurso ; o que exclui por princípio os Franceses e os Alemães, culpados de se terem oposto à esta guerra imperial. [15].

A totalidade dos membros do Projecto para um Novo Século Americano (PNAC), o “think-tank” que preparou o 11-de-Setembro, é incorporada, directa ou indirectamente, na Autoridade provisória da Coligação ou trabalha com ela.

Desde o princípio, esta gente levanta vivas reticências. Primeiro as do Representante do Secretário-Geral da ONU, o Brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Ele é assassinado a 19 de Agosto de 2003, supostamente pelo jiadista Abu Musab al-Zarqawi que Powell havia denunciado na ONU. Os próximos do diplomata sublinham, pelo contrário, o conflito que o opunha a Paul Wolfowitz e acusam directamente uma facção norte-americana. Depois é o General James Mattis, comandante da 1ª Divisão dos Marines, que se inquieta pelas consequências desastrosas da desbaathificação. Ele acabará por entrar na linha.

Levados pelos seus sucessos nos Estados Unidos, no Afeganistão e no Iraque, os homens do 11-de-Setembro orientam o seu país para novos alvos.

A teopolítica

De 12 a 14 de Outubro de 2003 realiza-se uma estranha reunião no Hotel King David de Jerusalém. Segundo o cartão de convite:

«Israel é uma alternativa moral ao totalitarismo oriental e ao relativismo moral ocidental. Israel é o «Ground Zero» da batalha central da nossa civilização pela sobrevivência. Israel pode ser salvo, e o resto do Ocidente com ele. É o momento de nos unirmos em Jerusalém».

Várias centenas de personalidades da extrema-direita israelita e norte-americana são recebidas a expensas da máfia russa. Avigdor Lieberman, Benjamin Netanyahu e Ehud Olmert felicitam Elliot Abrams, Richard Perle e Daniel Pipes.

O Professor Leo Strauss inculcou nos seus discípulos que a teopolítica lhes iria permitir dominar o mundo.

Todos partilham uma mesma crença : a teopolítica. Segundo eles, o « fim dos Tempos » está próximo. Dentro em breve o mundo será governado por uma instituição judaica sediada em Jerusalém. [16].

Esta reunião inquieta os progressistas Israelitas, ainda mais porque certos oradores designam Bagdade, que foi conquistada seis meses antes, como a antiga «Babilónia». É evidente para eles que a teopolítica de que este congresso se afirma é uma ressurgência do Talmudismo. Esta corrente de pensamento —da qual Leo Strauss era um especialista— interpreta o judaísmo como uma súplica milenar do Povo judeu para vingar os crimes dos Egípcios contra os seus antepassados, a sua deportação para Babilónia pelos Assírios e até mesmo a destruição dos judeus da Europa pelos nazis. Ele considera que a « Doutrina Wolfowitz » prepara o Armagedeão (a batalha final), que será a instauração do caos primeiro no Médio-Oriente Alargado, depois na Europa. Uma destruição geral que marcará o castigo divino daqueles que fizeram sofrer o Povo judeu.

O antigo Primeiro-Ministro Ehud Barak compreende o erro que cometeu ao recusar a paz que ele próprio tinha negociado com os Presidentes Bill Clinton e Hafez al-Assad; uma paz que teria preservado os interesses de todas as populações da região e que os teopolíticos não desejavam. Ele começa a juntar os oficiais que tentarão, em vão, impedir a reeleição de Benjamin Netanyahou, em Novembro de 2014, no seio da Comanders for Israel Security (Comandantes pela Segurança de Israel). Ele irá prosseguir o seu combate até pronunciar o seu discurso de Junho de 2016, na Conferência de Herzliya, na qual denunciará a política do quanto pior melhor de Netanyahu e a sua vontade de institucionalizar o Apartheid. Ele apelará aos compatriotas para salvar o seu país fazendo frente a estes fanáticos.

(Continua…)

Tradução
Alva

Este livro está disponível em Francês, Espanhol, Russo, Inglês e Italiano em versão em papel.
Possui versão já traduzida em Língua Portuguesa (à atenção de possíveis Editores-NdT).

[1Energy Task Force Works in Secret, Dana Milbank & Eric Pianin, The Washington Post, Avril 16, 2001.

[2Muerte de Pemex y suicidio de México (2014), Alfredo Jalife-Rahme, Orfila (Mexico).

[3Transforming Military Force: The Legacy of Arthur Cebrowski and Network Centric Warfare, James R. Blaker, Praeger (2007).

[4The Pentagon’s New Map, Thomas P.M. Barnett, Putnam (2004). Contrariamente ao que este livro sugere, Barnett era o assistente de Cebrowski no Pentágono.

[5“Stabiliy American’s Ennemy”, col. Ralph Peters, Parameters #31-4 (winter 2001).

[6Top Secret America: The Rise of the New American Security State, William M. Arkin & Dana Priest, Back Bay Books (2012).

[7“Exclusive : Inside the Military’s Secret Undercover Army”, William M. Arkin, Newsweek, May 17, 2021.

[8Interview de Naiz Naik por Benoît Califano, Pierre Trouillet e Guilhem Rondot, Dokumenta-ITV (2001). Não difundida.

[9«Le Net et la rumeur», Editorial, Le Monde, 20 mars 2002.

[10Disarming Iraq, Hans Blix, Knopf Doubleday (2013).

[11«Una guerra jugosa para la Lockheed Martin», Red Voltaire , 7 de febrero de 2003.

[12« Apocalypse Tomorrow », Réseau Voltaire, 26 septembre 2002.

[13«¿Quién gobierna en Irak?», por Thierry Meyssan, Red Voltaire , 31 de mayo de 2005.

[14É indispensável ler os testemunhos dos alunos de Leo Strauss para compreender a diferença entre o seu ensinamento público e aquele reservado aos seus discípulos escolhidos. Political Ideas of Leo Strauss, Shadia B. Drury, Palgrave Macmillan (1988). Children of Satan : the ’ignoble liars’ behind Bush’s no-exit war, Lyndon H. LaRouche, EIR (2004). Leo Strauss and the Politics of American Empire, Anne Norton, Yale University Press (2005). Leo Strauss and the conservative movement in America : a critical appraisal, Paul Edward Gottfried, Cambridge University Press (2011). Leo Strauss, The Straussians, and the Study of the American Regime, Kenneth L. Deutsch, Rowman & Littlefield (2013). Leo Strauss and the Invasion of Iraq: Encountering the Abyss, Aggie Hirst, Routledge (2013). Straussophobia : Defending Leo Strauss and Straussians Against Shadia Drury and Other Accusers, Peter Minowitz, Lexington Books (2016).

[15Determination and Findings, Paul Wolfowitz, Voltaire Network, December 5, 2003.

[16« Sommet historique pour sceller l’Alliance des guerriers de Dieu », Réseau Voltaire, 17 octobre 2003.