Este artigo é extraído do livro Sob os nossos olhos.
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As vítimas adultas do gaseamento da Gutta eram quase exclusivamente homens. As crianças eram todas de idades aproximadas, tinham sido raptadas em conjunto por jiadistas em Alepo.

A «linha vermelha»

Em Maio de 2013, A OTAN difunde pelos seus membros um relatório indicando que a população apoia o Presidente Al-Assad a 70% [1]. Os rebeldes serão apoiados por 20% e 10% não têm opinião. Paris e Ancara concluem que só haverá vitória voltando ao plano inicial e bombardeando a Síria. É, pois, preciso tomar uma iniciativa para fazer pressão sobre Washington.

A 21 de Agosto, um ataque químico atinge civis sírios nos arredores de Damasco, numa zona controlada pelos jiadistas, a Ghouta. Nas horas seguintes, uma vasta máquina de comunicação põe-se em marcha acusando a R. A. Síria de ser a responsável. Este ataque marcaria o transpor da «linha vermelha», fixada pelo Presidente Obama. Os Ocidentais estariam prontos a «punir o regime» bombardeando a sua capital.

O governo sírio nega qualquer implicação e lembra que a 23 de Maio, a polícia turca prendeu 11 jiadistas em Adana na posse de um importante stock de gás sarin [2]. Se o chefe do grupo, Hytam Qassap, é de nacionalidade Síria, os outros são todos Turcos. Além disso, o ESL exibiu, ele próprio, vídeos de um pequeno laboratório de fabrico de armas químicas e ameaçou os alauítas de os gazear [3].

O que se passou na Ghouta é assunto suspeito : os Serviços Secretos do EU afirmam ter observado — sem intervir — durante os quatro dias precedentes o Exército Árabe Sírio preparar o gaz [4]. São difundidos vídeos pela oposição, em que um deles é datado pelo YouTube (hora da Califórnia) antes do nascer do sol em Damasco mas que foi filmado com luz do dia. As vítimas são, ou crianças — todas da mesma idade—, ou homens, apenas 2 mulheres em 1. 429 vítimas contadas pelos Estados Unidos. As crianças mortas prova-se serem realmente alauítas que foram raptadas pelos jiadistas, algumas semanas antes [5]. A França e o Reino Unido asseguram ter recolhido amostras no local e tê-las testado de imediato. Atestam que foi usado gás sarin. Mas, bronca, o único teste conhecido requer 10 dias para ficar concluído.

Segundo os Serviços de Inteligência francês e britânico, o uso de armas químicas pelo exército Sírio é atestado por escutas telefónicas de oficiais. Mas acontece que essas escutas foram feitas pelos Israelitas [6]. Muito depressa, o Serviço de Inteligência Militar francês torna-se prudente. Não assume a autoria da Nota de Síntese divulgada pelo Ministério Francês da Defesa [7]. Esta é, com efeito, redigida por Sacha Mandel um conselheiro do Ministro, com a dupla nacionalidade israelo-francesa.

No fundo, não se compreende porque o uso de armas químicas seria uma «linha vermelha». Em que é que é pior do que as outras «armas de destruição maciça» ? Por que é que os Estados Unidos signatários da Convenção sobre a proibição de armas químicas, reprovam à Síria, que não é signatária, o seu possível uso, quando eles próprios violaram a seu compromisso em 2003 no palmar de Bagdade? [8]

Marcus Klinberg, foi director-adjunto do Instituto Israelita de Pesquisa em Biologia (IIRB) de Ness Ziona. Ele transmitiu ao KGB os resultados de pesquisas israelitas de armas biológicas. Preso em 1982, recusará o qualificativo de espião, garantindo ter trabalhado pela Humanidade Ele é o avô do adjunto do Presidente da Câmara (Perfeito-br) de Paris, Ian Brossait.

Quando armas químicas apareceram, durante a Primeira Guerra mundial, elas causaram surpresa e, desse modo, foram muito mortíferas. No entanto, os Estados rapidamente encontraram os meios de lidar com isso, de tal modo que ninguém as usou durante a Segunda Guerra mundial. No Próximo-Oriente, Israel recusou-se a assinar a Convenção, levando com ele o Egipto e a Síria. De 1985 a 1994, Israel financiou pesquisas na África do Sul visando criar armas selectivas em função de características raciais. Tratava-se de determinar agentes tóxicos que matassem só árabes e não judeus [9]. Elas foram conduzidas sob a direção do cardiologista do Presidente Peter Botha, o Coronel Wouter Basson. Ignora-se se foram coroadas de sucesso, o que parece improvável no plano científico. Vários milhares de cobaias humanas morrem durante as experiências [10].

Rapidamente, os serviços britânicos validam as observações acima descritas e avisam o Primeiro-ministro, David Cameron, para uma possível operação de bandeira falsa [11]. A televisão Síria transmite um vídeo de um chofer de jiadistas. Ele atesta ter-se dirigido à Turquia e ter recebido os obuses tóxicos num quartel turco, depois tê-los secretamente transportado para Damasco [12].

Interrogado pela imprensa Russa, o Presidente sírio, Bashar Al-Assad, responde: «As declarações emitidas por políticos norte-americanos, ocidentais e de outros países constituem um insulto ao bom senso e uma expressão de desprezo pelas suas próprias opiniões públicas. É um total disparate: primeiro acusa-se e depois é que se reúne as provas (...) Este tipo de acusação é exclusivamente político, responde à série de vitórias registadas pelas forças governamentais sobre os terroristas» [13].

François Hollande, quanto a ele, clama alto e forte que a sua consciência lhe ordena «atacar» Damasco [14]. Fazendo-o, ele prossegue a obra do partido da colonização que, durante o governo provisório de Charles De Gaulle e o de Georges Bidault, em Maio de 1945 e Novembro de 1946, bombardeou por sua própria iniciativa Setif, Guelma Kherrata (Argélia), depois Damasco (Síria), e finalmente Hải Phong (Indochina/Vietname). No momento de retirar as suas tropas, logo após a declaração de independência, o exército do General Fernand Olive atacou Damasco, só para manifestar o seu despeito. Destruiu uma parte do souk milenar (tal como foi feito hoje em dia em Alepo) e a Assembleia Nacional, símbolo da nova República que rejeitava.

A Alemanha é a primeira a observar que, mesmo que a Síria tenha utilizado armas químicas, bombardeá-la é ilegal face ao Direito Internacional, salvo decisão do Conselho de Segurança [15]. Os Britânicos e os Norte-americanos estão definitivamente convencidos que o assunto foi fabricado pela Turquia com o apoio da França e de Israel.

Em Londres, a Câmara dos Comuns interdita ao Primeiro-ministro atacar Damasco antes que a responsabilidade do governo de Bashar Al-Assad esteja provada com certeza. Os deputados, muitos dos quais conhecem o grau de envolvimento do seu país contra a Síria, lembram-se dos prejuízos sofridos pelo Reino no seguimento da sua guerra contra o Iraque, em 2003, com base em acusações falsas de George Bush e Tony Blair. Em Washington, Barack Obama remete para o Congresso que ele sabe oposto a qualquer nova aventura militar, seja qual for [16]. Trata-se, bem entendido, de uma manobra dilatória já que o Syrian Accountability Act de 2003 lhe dá todos os poderes para destruir a Síria.

François Hollande, que falou grosso e forte cedo demais, fica sozinho em liça. Impotente, ele esconde-se no Eliseu, enquanto a palavra da França fica desacreditada internacionalmente. Ninguém pede contas à Turquia e sobretudo nada a Anne Lauvergeon, Alexandre Adler, Joachim Bitterlich, Hélène Conway-Mouret, Jean-François Copé, Henri de Castries, Augustin de Romanet, Laurence Dumont, Claude Fischer, Stéphane Fouks, Bernard Guetta, Élisabeth Guigou, Hubert Haenel, Jean-Pierre Jouyet, Alain Juppé, Pierre Lellouche, Thierry Mariani, Gérard Mestrallet, Thierry de Montbrial, Pierre Moscovici, Philippe Petitcolin, Alain Richard, Michel Rocard, Daniel Rondeau Bernard Soulage, Catherine Tasca, Denis Verret e Wilfried Verstraete, os quais receberam todos «prendas» do Patronato turco em nome de Recep Tayyip Erdoğan.

A Rússia ajuda os Estados Unidos a sair da crise de cabeça levantada. Ela convida a Síria a assinar a Convenção sobre proibição de armas químicas, o que ela faz sem demora. O Presidente Bachar Al-Assad negocia com a OPAQ um modo de destruir os stoques existentes, o que será feito às custas de Washington.

Posteriormente, o jornalista norte-americano Seymour M. Hersh mostra a relutância do seu país neste caso [17]. Então, os professores Richard Lloyd e Theodore Postol do Massachusetts Institute of Technology demonstram que os obuses químicos foram disparados a partir da zona «rebelde» [18]. A França persiste no entanto, sozinha, em acusar a República Árabe Síria. «Quem quer afogar o seu cão culpa-o de raiva», diz-se na França rural.

Em 6 de Julho de 2012, François Hollande presidia a uma cimeira dos Amigos da Síria. Entre os convidados de honra, contava-se vários criminosos contra a humanidade (quer dizer que montaram a execução maciça de pessoas pelo simples motivo da sua crença religiosa). Doze dias mais tarde, ele dava ordem para assassinar os membros do Comité Sírio de Segurança Nacional e lançar o assalto a Damasco.

Que fazer ?

Tendo fechado a sua embaixada e retirado todo o seu pessoal em 2012, tendo retirado o essencial das suas Forças especiais após o seu envolvimento no Mali, no início de 2013, tendo sido desaprovada por Washington, Paris não tem mais nem os meios no terreno, nem plano de acção

Não sabendo muito bem o que fazer, François Hollande vira-se para o seu aliado de sempre, Telavive, que lhe havia fornecido as falsas provas da responsabilidade síria no ataque de falsa bandeira da Ghuta. Aqui é necessária uma pequena lembrança quanto à sua actividade a favor da colonização da Palestina durante o seu mandato de Primeiro-secretário do Partido Socialista:

 Em 2000, quando o Sul do Líbano está ocupado, ele prepara com o futuro Presidente da Câmara de Paris, Bertrand Delanoë, a viagem do Primeiro-ministro Lionel Jospin à Palestina. O seu discurso inclui uma condenação da Resistência Libanesa à ocupação, que ele equipara a terrorismo.
 Em 2001, ele exige a demissão do Partido Socialista do geo-politólogo Pascal Boniface, acusado de ter criticado, numa nota interna, o apoio cego do Partido a Israel.
 Em 2004, ele escreve ao Conselho superior do Audiovisual para pôr em questão a autorização de difusão dada à Al-Manar, a cadeia de televisão do Hezbolla. Ele não parará de pressionar até a televisão da Resistência ter sido bloqueada.
 Em 2005, ele é recebido, à porta fechada, pelo Conselho Representativo das Instituições Judaicas de França (CRIF). Segundo a informação da reunião tornada pública, ele teria dado o seu apoio a Ariel Sharon e teria criticado fortemente a política árabe gaullista. Teria declarado: «Há uma tendência que remonta longe, daquilo que se chama a política árabe da França e não é admissível que uma administração tenha uma ideologia. Há um claro problema de recrutamento no Quai d’Orsay e na ENA e esse recrutamento deveria ser revisto». Ao fazer isto, ele vira a realidade do avesso já que a «política árabe da França» não é uma política a favor dos dos Árabes contra os Israelitas, mas uma política para o mundo árabe.
 Em 2006, toma posição contra o Presidente Ahmadinejad, o qual convidara para Teerão rabinos e historiadores, entre os quais negacionistas. Ele finge ignorar o sentido do Congresso, que pretendia mostrar que os Europeus tinham substituído a sua cultura cristã pela religião do Holocausto. E, a contra-senso, ele explica que o Presidente iraniano pretende negar o direito de Israel à existência e que se apresta a prosseguir o Holocausto.
 Ele mobiliza-se a favor da libertação do soldado israelita Gilad Shalit, prisioneiro do Hamas, com a desculpa que este tem a dupla nacionalidade francesa. Pouco importa que o jovem tenha sido preso enquanto servia num exército de ocupação em guerra contra a Autoridade palestiniana, igualmente aliada da França.
 Em 2010, ele publica com Bertrand Delanoë et Bernard-Henri Lévy, uma carta aberta no Le Monde para se opor ao boicote dos produtos israelitas. Segundo ele, o boicote seria uma punição colectiva, infligida também aos Israelitas que trabalham para a paz com os Palestinianos. Um raciocínio que ele não tinha mostrado aquando da similar campanha contra o apartheid na África do Sul.

Logo à sua chegada a Israel, em 17 de Novembro de 2013, o Presidente François Hollande declarou em hebreu : «  Tamid écha-èr ravèr chèl Israël  », e em francês «Je suis votre ami et je le serai toujours -eu sou vosso amigo e sê-lo-ei sempre ».

À sua chegada ao aeroporto de Telavive, ele declara : «”Tamid écha-èr ravèr chèl Israël" em hebreu, «Eu sou vosso amigo e sempre serei» [19].

O Primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, observa que os Estados Unidos e o Reino Unido se retiraram do teatro de operações, o que não impede a CIA e o MI6 de prosseguir a guerra secreta. Ele propõe-se, pois, montar uma coordenação daqueles que desejam continuar a guerra aberta até ao derrube da República Árabe Síria: a Arábia Saudita, a França, Israel, o Catar e a Turquia. O Líbano e a Jordânia continuarão a sua ajuda logística, mas não irão intervir na direção das operações. Não desejando Washington continuar a aparecer, o conjunto será liderado por Jeffrey Feltman a partir de Nova Iorque. É preciso andar depressa. Com efeito, a tempestade ruge em Washington. Os partidários do ataque Síria são afastados. A 8 de Novembro, o General David Petraeus é forçado a demitir-se das suas funções como director da CIA, enquanto Hillary Clinton é vítima de um «acidente» e desaparece durante um mês.

Jeffrey D. Feltman, é o homem orquestra da primavera árabe, e é também um grande amigo de Netanyahu. Ele tornou-se Director dos Assuntos Políticos da ONU há já mais de um ano. Fez redigir um plano de rendição total e incondicional da Síria a Volker Perthes, Director do Stiftung Wissenschaft und Politik (SWP), o mais poderoso “think-tank” Europeu. Este, além disso, também tomou a cargo a Direção, para o Norte de África e Médio Oriente, do Serviço de Acção exterior da União Europeia. A Alta-comissária da União, Catherine Ashton, tornou-se no seu papagaio. Feltman confia à Arábia Saudita a formação pela segunda vez de um exército de 50.000 homens, na Jordânia. Paralelamente, ele inicia uma reorganização dos grupos jiadistas. Por fim, a instruções da Casa Branca, ele organiza as negociações de «Genebra 2».

Benjamin Netanyahu imagina uma aliança a três: a França irá defender os interesses de Israel e da Arábia Saudita no plano internacional, em troca de gigantescos contratos, de investimentos e de subornos. Trata-se de sabotar as negociações americano-iranianas, de maneira a manter o monopólio do directório regional Telavive /Riade.

Majed al-Majed reconheceu aquando da sua detenção ser um oficial dos Serviços Secretos sauditas, colocado sob autoridade directa do Príncipe Bandar Ben Sultan. Ele dirigia um ramo da Alcaida e assegurava a ligação entre essa e altas personalidades do Próximo-Oriente.

O rei da Arábia, a quem um dos seus agentes entre o mais importantes, Majed al-Majed, acaba de ser preso pelo Exército libanês, concorda em oferecer 3 mil milhões de dólares em armas francesas se os Libaneses não gravarem a sua confissão. O chefe terrorista morre de forma oportuna enquanto o Rei distribui «prendas» aos Libaneses e aos Franceses (a título de exemplo, 100 milhões dólares para o inconstitucional «Presidente» Michel Sleimane) [20]. Na realidade, enquanto os beneficiários dos «presentes» reais ficarão com eles, as prometidas encomendas de armas jamais serão formalizadas [21]. O único líder francês a não receber pessoalmente «prenda» real, o Ministro da Defesa Jean-Yves Le Drian negoceia para a sua região a salvação do grupo avícola Doux, com dívidas no montante de 400 milhões de euros, que será parcialmente comprado e capitalizado pela saudita Al-Munajem.

Após a demissão de Kofi Annan, o Secretário-geral da ONU designou o argelino Lakhdar Brahimi para acompanhar o dossiê sírio. Ao contrário de Annan, ele não tem o título de «mediador» porque Ban Ki-moon considera agora que «Bashar deve partir!» A sua missão é a de levar a Síria para «uma transição política, conforme às legítimas aspirações do povo sírio». É a Brahimi que se deve a criação do «Serviço de apoio à decisão»; o Serviço Secreto pessoal do Secretário-geral porque agora a ONU não mais é um fórum para a paz, antes dispõe de um serviço secreto para implementar a política de Washington. A diplomacia francesa conhece-o muito bem, tendo em conta as suas sucessivas missões aquando do fim da guerra civil no Líbano, do golpe de Estado militar na Argélia e da agressão anglo-saxónica no Afeganistão [22].

Genebra 2 é uma armadilha. Ao contrário de Genebra 1 —que reunia os Estados Unidos e a Rússia em presença dos seus parceiros mais próximos, mas com a exclusão de todo e qualquer Sírio—, não somente a Síria e «representantes da oposição» são convidados para esta segunda ronda, como todos os Estados envolvidos. Salvo o Irão cujo convite, após ter sido lançado, é anulado, pretensamente a pedido dos Sauditas. Mas como que é que alguém pode crer que a Arábia tenha um tal poder sobre a ONU? Na verdade, Jeffrey Feltman organiza, além disso, as negociações dos 5+1 com o Irão e entende não antecipar o levantamento das sanções norte-americanas e europeias a seu respeito. Quanto aos representantes da Oposição, apenas aqueles que foram apadrinhados pela Arábia Saudita, quer dizer a nova Coligação nacional das forças da oposição e da revolução, presidida por Ahmed Jarba. Este, é um pequeno traficante de droga que tem aqui o seu momento de glória, uma vez que é oriundo da tribo dos Chammars, a mesma do rei Saudita.

Dois dias antes da abertura da Conferência, o Catar põe a circular, através do escritório londrino de advogados Carter-Ruck, o anúncio de um relatório de três antigos Procuradores internacionais sobre o testemunho de «César» e as provas de culpa que ele lhes remeteu [23]. «César» declara ser um oficial da Polícia militar síria, encarregue de fotografar cenas de crime. Assegura ter fotografado durante o conflito, em necrotérios dos hospitais militares, as vítimas do «regime». Teria desertado recentemente. Ele remeteu 55.000 fotografias, mostrando 11.000 cadáveres, que diz ter fotografado. Para tornar a coisa mais dramática, cada página do comunicado, anunciando o relatório, trás a dupla menção «Confidencial». Os antigos Procuradores concluem por sinais de privação de alimentos e tortura que teriam sido sistematicamente aplicadas pelo «regime» às «pessoas» [que teriam sido] encarceradas. Na realidade, aqueles clichés que foram realizados na Síria mostram os corpos de mercenários de diversas nacionalidades que foram recolhidos pelo Exército Árabe Sírio no campo de batalha e os do pessoal civil e militar que foram mortos sob tortura dos jiadistas porque apoiavam a República Árabe Síria.

Durante a sessão inaugural da Conferência de Genebra 2, John Kerry defendeu a posição saudita : exclusão do Irão, composição da delegação da Oposição exclusivamente pelos membros actuais da Coligação Nacional, demissão e julgamento de Bashar al-Assad.

O novo Secretário de Estado, John Kerry, que conhece muito bem, Bashar Al-Assad, sabe evidentemente que tudo isto é a mais pura propaganda, mas o comunicado do escritório Carter-Ruck dá-lhe um argumento extra para o seu discurso em Genebra 2, a 22 de Janeiro de 2014. Como ninguém entende muito bem o que se passa depois da demissão de Hillary Clinton e dos seus apoiantes, as televisões do mundo inteiro estão presentes. Quando o Ministro dos Negócios Estrangeiros sírio, que os Franceses tentaram assassinar, Walid Mouallem, toma a palavra, não capta a situação e dirige-se à opinião pública Síria, perdendo a única oportunidade que lhe será oferecida para desmontar, ao vivo, aos olhos de todo o mundo, o complô ocidental. Trata-se de um diplomata de uma rara lealdade : durante uma reunião da Liga Árabe, ele recusou um suborno de 100 milhões de dólares oferecidos pelo seu homólogo Catariano se ele se virasse contra o seu país. O seu discurso levanta a questão do apoio ao terrorismo dado pela «Delegação da oposição» e pelos seus patrocinadores presentes na sala.

No final, nada sairá de Genebra 2, porque entre o momento da sua convocação e da sua realização, Washington adoptou uma nova estratégia. Os Estados Unidos não são obrigados a abdicar do seu sonho de um mundo unipolar e a pactuar com a Rússia. Eles ainda têm uma carta para jogar: precisamente, a do terrorismo.

Enquanto os diplomatas peroravam em Genebra 2, o Presidente Obama recebe o rei da Jordânia para fixar os termos da participação do seu país. Ao mesmo tempo, a Conselheira de Segurança Nacional, Susan Rice, acolhe os Chefes dos Serviços secretos da Coligação [24].

Tal como nos anos anteriores, o Congresso realiza uma sessão à porta fechada durante a qual vota os «orçamentos secretos» do Pentágono. A existência desta sessão é atestada por um despacho da agência britânica Reuters, mas jamais será noticiada pela imprensa norte-americana e não figura nos registos oficiais [25]. Os parlamentares autorizam a continuação do financiamento e do armamento de grupos armados na Síria, em violação das resoluções 1267 e 1373 do Conselho de Segurança. Sem o saber, eles acabam de abrir as portas do inferno [26].

(Continua …)

Tradução
Alva

Este livro está disponível em Francês, Espanhol, Russo, Inglês e Italiano em versão em papel.

Possui versão já traduzida em Língua Portuguesa (NdT).

[3« L’ASL expose son laboratoire d’armes chimiques », Réseau Voltaire, 5 décembre 2012.

[5Identificação das crianças mortas em Ghouta”, Rede Voltaire, 6 de Setembro de 2013.

[6« Exclusive : US Spies say intercepted calls prove Syria army used nerve gas », Foreign Policy, August 28, 2013. « L’administration Obama valide une intox israélienne », Réseau Voltaire, 30 août 2013.

[7« Synthèse du Renseignement français sur l’attaque chimique du 21 août 2013 », par Sacha Mandel, Réseau Voltaire, 2 septembre 2013.

[8« Vérités cachées sur les arsenaux chimiques et sur la Convention internationale », par Manlio Dinucci, Traduction Marie-Ange Patrizio, Il Manifesto (Italie) , Réseau Voltaire, 13 septembre 2013. Saddam Hussein. Présumé coupable, Me Emmanuel Ludot; Carnot (2004).

[9Dr la mort - Enquête sur un bioterrorisme d’État en Afrique du Sud, Tristan Mendes-France, Favre Pierre Marcel (2002).

[13« Entretien de Bachar el-Assad aux Izvestia », par Bachar el-Assad, Réseau Voltaire, 26 août 2013.

[14« Interview de François Hollande au « Monde » », par François Hollande, Réseau Voltaire, 30 août 2013.

[15« Syrie : ingérence délibérée, prétexte douteux », par Général Dominique Delawarde, Réseau Voltaire, 12 septembre 2013.

[16« Déclaration de Barack Obama sur la Syrie », par Barack Obama, Réseau Voltaire, 31 août 2013.

[17“Syria: Whose sarin?”, Seymour M. Hersh, London Review of Books; “Sarin de quem?”, Rede Voltaire, 16 de Fevereiro de 2014.

[19« Déclaration de François Hollande à son arrivée à l’aéroport de Tel-Aviv », par François Hollande, Réseau Voltaire, 17 novembre 2013.

[20O silêncio e a traição que valerá 3 biliões de dólares”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 17 de Janeiro de 2014.

[21« L’armée libanaise renonce aux 3 milliards d’armement français », Réseau Voltaire, 7 février 2014.

[22O Plano Brahimi”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, El-Ekhbar (Algérie) , Rede Voltaire, 31 de Agosto de 2012.

[24Spymasters gather to discuss Syria”, par David Ignatius, Washington Post, 19 février 2014.

[25“Congress secretly approves U.S. weapons flow to ’moderate’ Syrian rebels”, par Mark Hosenball, Reuters, 27 janvier 2014.

[26Estados Unidos, principal financiador mundial do terrorismo”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Al-Watan (Síria) , Rede Voltaire, 3 de Fevereiro de 2014.