Reproduzimos o texto de uma conferência proferida em 4 de Maio em Boulogne-sur-mer. Thierry Meyssan explica aqui que o conflito actual na Palestina não é imputável às populações árabes e judias. Foi organizado, desde 1915, pela potência colonial com a ideia que jamais o ou os futuros Estados deviam conseguir garantir a sua própria segurança. À sua revelia e às suas custas, os Palestinianos e os Israelitas, ao seguir a operação de 7 de Outubro e a sua réplica, mais não fazem que aplicar esta política. Ao não conseguir parar a limpeza étnica dos Gazenses, os Anglo-Saxões não demonstram a sua insensibilidade, mas sim o facto que consideram os massacres como uma das simples variáveis de ajustamento.
Embora os massacres no Sudão e no Congo sejam muito mais mortíferos que os da Palestina, é sobre estes últimos que vos vou falar hoje. Com efeito, esta é a primeira vez que assistimos ao vivo nos nossos telefones portáteis a uma limpeza étnica. Gostaria de voltar a diversas informações que já abordei em diferentes artigos, mas que, manifestamente, certos média (mídia-br) não querem incluir nas suas análises. Gostava de vos dizer que não há fatalidade comunitária : este conflito não foi provocado pelas populações da Palestina, sejam elas judaicas, cristãs ou muçulmanas, mas por potências externas que, desde há um século, desejaram que elas nunca conhecessem a paz.
A criação de Israel pelos Britânicos
Para me fazer compreender, falarei, antes de mais, do Reino Unido. Assistiram à coroação do rei Carlos IIIº. Lembram-se que no meio da cerimónia, ele tirou as suas ricas vestes e se vestiu com uma bata de linho. Os seus pajens ergueram biombos para que a assistência não ficasse espantada. Quando os biombos foram removidos, ele tinha-se tornado Rei. Entregaram-lhe então os símbolos do seu poder, o ceptro e o globo. O que é que se havia passado naqueles poucos instantes fora da vista do público ? O Príncipe de Gales havia visto Deus, tal como Moisés diante da sarça ardente [1]. Esta explicação parece-vos provavelmente ridícula e vocês interrogam-se como estes sujeitos podem acreditar em tal história da carochinha. Na realidade, desde James VI, no século XVI, os soberanos britânicos se declaram reis de Israel [2]. Foi contra a sua concepção de direito divino, que Oliver Cromwell derrubou o seu filho Carlos e proclamou a Commonwealth. No entanto o Lord Protector era ele também um iluminado, professava que era preciso reagrupar todos os judeus na Palestina e aí reconstruir o templo de Salomão [3]. Em resumo, sucederam-se as dinastias mantendo este mito. Elas adoptaram diversos ritos e impuseram outros aos seus súbditos, como a circuncisão judaica, hoje praticada automaticamente nas maternidades no século XX a todos os recém-nascidos do sexo masculino do Reino à nascença.
Dois anos antes da Declaração Balfour (1917), que anunciou a criação de um lar nacional judaico na Palestina, um diplomata judeu e futuro Ministro dos Negócios Estrangeiros, Lord Herbert Samuel, redigiu um memorando sobre o Futuro da Palestina (1915). Aí, ele defendia um Estado judaico que permitiria pôr toda a diáspora ao serviço do Império. Um pouco mais tarde, ele precisou que este novo Estado nunca deveria ser capaz de garantir sozinho a sua segurança a fim de ficar eternamente dependente da Coroa de Inglaterra. É exactamente a isto que assistimos hoje. Foi o destino que amaldiçoou a população da Palestina.
A declaração de Lord Arthur Balfour foi seguida pelos 14 pontos do Presidente norte-americano, Woodrow Wilson. Neles, descreve os objectivos alcançados pelo seu país durante a Primeira Guerra Mundial. O ponto 12 está redigido de forma estranha, mas durante a Conferência de Paris que elaborou o Tratado de Versalhes, ele especificou por escrito o que devia ser entendido : a criação do Estado de Israel na Palestina (e do Curdistão na Turquia). A Guerra Mundial havia provocado um reequilíbrio de forças, de tal modo que agora Washington trabalhava ao lado de Londres na defesa dos interesses comuns.
Durante o período entre guerras, a imigração judaica para a Palestina do Mandato correu bem. Os proprietários fundiários árabes venderam sem problemas uma parte das suas terras aos judeus. No entanto, desde 1920, terroristas árabes assassinaram judeus. Entre os assassinos, Mohammed Amin al-Husseini foi condenado pelos Britânicos a 10 anos de prisão, mas nunca cumpriu. Pelo contrário, Lord Herbert Samuel (o que escreveu que nunca devia haver segurança na Palestina), que se tornara Alto-Comissário britânico na Palestina, agraciou-o e nomeou-o grande Mufti de Jerusalém, pretensamente para manter um equilíbrio entre a duas grandes famílias locais.
Apareceu um salafista (quer dizer, um muçulmano que desejava viver como os companheiros do Profeta no século VII), Izz al-Din al-Qassam, que havia já organizado uma revolta contra os Franceses na Síria e que se tornou Imã em Haifa . Ele decidiu declarar a jiade, não contra os ocupantes britânicos, mas contra os imigrados judaicos. Seguiram-se diversos atentados e pogroms contra judeus. Para manter a paz civil, os Britânicos mataram al-Qassam, personagem que deu o nome às actuais Brigadas al-Qassam do Hamas.
A morte de al-Qassam não resolveu absolutamente nada. Os Britânicos, fiéis à sua técnica colonial de « Dividir para Reinar », sempre desenvolveram com uma mão o que combatiam com a outra. Em 1936, Lord Willam Peel, à cabeça de uma comissão oficial, assegurou que só se a poderia restabelecer a paz separando as populações árabes e judaicas em dois Estados distintos. É o que se chama hoje em dia a « solução de dois Estados ».
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Grande Mufti de Jerusalém tornou-se aliado do Chanceler Adolf Hitler. Nomeadamente, ele mobilizou os muçulmanos dos Balcãs para os alistar nas SS e apoiou a «solução final da questão judaica». Por seu lado, os fascistas judeus (os «sionistas revisionistas») do Ucraniano Vladimir Jabotinsky combateram ao lado do Eixo contra os Britânicos. Os sionistas, esses, lutaram ao lado dos Aliados ao mesmo tempo que contestavam os limites que os Britânicos impuseram em teoria à imigração judaica ; em teoria somente.
Eles reuniram-se em Maio de 1942 no hotel Baltimore, de Nova Iorque, sob a presidência de David Ben-Gurion. Fixaram os princípios do futuro Estado de Israel. Até aqui, garantiram-nos que Ben-Gurion era um homem de boa vontade. Ora, ele tinha sido companheiro de Jabotinsky no período entre guerras e pronunciara-se a favor da limpeza étnica da Palestina. Um livro, aparecido em Israel, em hebraico, há duas semanas e publicado por uma grande casa editora, assegura que ele foi mantido ao corrente das negociações do húngaro Rezső Kasztner com Heinrich Himmler e Adolf Eichmann, as quais duraram até a queda do Reich. Kasztner pretendia comprar a fuga de um milhão de judeus húngaros. Na verdade, ele só salvou a sua família e os seus amigos. Acima de tudo, extorquiu 8,5 milhões de francos suíços em ouro (uma soma colossal à época) a famílias judias ricas da Hungria, levando-as a crer numa possível fuga [4]. Se os documentos citados neste livro forem verdadeiros, David Ben Gurion seria ele também um escroque, tendo enganado o seu próprio povo.
As Nações Unidas propuseram
» não dividir a Palestina (ou seja, não à « solução Peel dos Dois Estados ») ;
» instaurar um regime republicano, democrático e representativo ;
» garantir as culturas das diferentes minorias ;
» garantir a liberdade religiosa dos judeus, dos cristãos e dos muçulmanos.
As conferências e negociações sucederam-se em vão. Em 29 de Novembro de 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas (que apenas incluía então 56 Estados membros) aprova o plano de partilha elaborado por uma comissão especial [5]. Ele é imediatamente rejeitado por todos os países árabes.
Em 14 de Maio de 1948 (quer dizer, dois meses e meio antes do fim do mandato britânico), David Ben-Gurion interrompe as conversações e proclama unilateralmente a independência do Estado de Israel. No dia seguinte a este golpe de força, enquanto os 100. 000 soldados britânicos começavam a retirar-se, o Egipto, a Jordânia, o Iraque, a Síria, o Líbano, a Arábia Saudita e o Iémene do Norte enviaram as suas tropas para defender os árabes da Palestina. A Confraria egípcia dos Irmãos Muçulmanos enviou igualmente um grupo de combatentes, sob o comando de Saïd Ramadan (genro do fundador Hassan el-Banna e pai de Tariq Ramadan), juntar-se a eles. Porém, naquele momento, nenhum desses países dispunha de exército digno desse nome. Eles foram rapidamente derrotados. Nascia assim o mito de invencibilidade do Tsahal (as FDI, Forças de Defesa de Israel-ndT).
No entanto, como me contou o meu amigo libanês Hassan Hamade, esta narrativa é falsa. Na realidade, os Chefes de Estado árabes estavam já virados para Israel e os judeus não eram mais valentes que os árabes. Assim, o Emir Majid Arslan, que era o Ministro da Defesa libanês, conduziu as suas tropas sem encontrar muita resistência até Belém, que ele libertou.
O Presidente libanês Bechara el-Khoury ordenou-lhe imediatamente para abandonar o campo de batalha, o que ele recusou fazer. Demitiu-o, mas ele continuou a guerra como simples oficial. No fim, as suas tropas não foram vencidas pelos judeus da Palestina, mas pelo Exército «jordano» comandado por um General britânico, John Bagot Glubb (dito « Glubb Pasha ») e uma centena de oficiais britânicos. Na realidade, a Jordânia não tinha qualquer soldado, mas sim a Legião Árabe formada pelos Britânicos durante a Segunda Guerra Mundial, que no primeiro dia da guerra tinha mudado o nome para «Exército jordano», mantendo os seus oficiais britânicos. Foram os Ingleses e os Jordanos que salvaram Israel logo na sua criação, tal como acabam de o salvar de novo quando o Irão o atacou no mês passado. Esta guerra não foi uma tentativa de esmagar Israel, mas a primeira manifestação do sionismo árabe.
As Nações Unidas, inquietas com esta evolução, enviaram um enviado especial, o Sueco Folke Bernadotte, para recuperar a situação após o golpe de força israelita e a guerra israelo-árabe. Ao chegar, ele compreendeu que a Comissão Especial que elaborara o plano de partilha ignorava as realidades demográficas : os israelitas reivindicavam um território desproporcional ao seu número e beneficiavam do apoio dos governos árabes sionistas que primeiro fingiam ser pelos bons ofícios e em seguida desencadeavam uma guerra.
Em 17 de Setembro de 1948, os « sionistas revisionistas » (ou seja, os fascistas judaicos) assassinam Folke Bernadotte e o Chefe dos observadores da ONU, o Coronel francês André Serot. O meu avô materno, Pierre Gaïsset, encontrava-se na viatura seguinte. Ele não ficou ferido e substituiu o Coronel Serot nas suas funções. O assassino, Yehoshua Cohen, não será importunado. Dois anos mais tarde, irá tornar-se guarda-costas oficial do Primeiro-Ministro David Ben-Gurion. O chefe dos «sionitas revisionistas», Yitzhak Shamir, é imediatamente nomeado para a chefia de um departamento da Mossad. Ele realizará acções secretas por conta do Reino Unido e dos Estados Unidos durante toda a Guerra Fria, da Guatemala ao Congo, e depois irá tornar-se Primeiro-Ministro (1983-84 e 1986-92).
Em 29 de Novembro de 1948, o governo Ben-Gurion, que finge procurar os assassinos de Folke Bernadotte e de André Serot, apresenta um pedido de adesão às Nações Unidas acompanhado de uma carta declarando « que o Estado de Israel aceita pela presente, sem qualquer reserva, as obrigações decorrentes da Carta das Nações Unidas e que se compromete a respeitá-las a partir do dia em que se tornar Membro das Nações Unidas ». Convencida, em 11 de Maio de 1949, a Assembleia Geral das Nações Unidas aceita [6]. Vários Estados exigem hoje em dia, em vista do desrespeito sistemático por Israel do seu compromisso, que a sua adesão seja « revogada ».
A Operação « Torrente de al-Aqsa »
Voltemos ao período actual. A 7 de Outubro de 2022, a Resistência Palestiniana, por iniciativa do Hamas, lançou uma vasta operação contra uma base militar israelita e igualmente contra civis. Pelo Direito Internacional, os árabes da Palestina constituem uma «população ocupada», no senso das Convenções de Genebra. Têm, portanto, o direito de atacar Israel. No entanto, eles só podem atacar alvos militares, não Kibutuz ou rave partys. O objectivo da operação era fazer prisioneiros militares, e eventualmente também reféns civis, a fim de negociar a libertação de reféns palestinianos em Israel, quer dizer, prisioneiros administrativos. Ignora-se o número de prisioneiros e de reféns que eles fizeram, e mais ainda a distribuição de civis e de soldados. Segundo o Hamas, mais de 30 oficiais estariam detidos.
Esta operação, a « Torrente de al-Aqsa », foi preparada durante os últimos três anos claramente e à vista de todos [7]. Centenas de quilómetros de túneis foram escavados por meio de tuneladoras que só puderam entrar em Gaza com a aprovação da alfândega israelita. Pelo menos 1 milhão de metros cúbicos de terra e cascalho tiveram de ser removidos à frente dos olhos dos Serviços de Segurança israelitas. Vários campos de treino foram construídos e treinos de asa delta foram realizados. Não apenas os Serviços de Inteligência israelitas observaram tudo isso, mas também outras potências, como o Egipto e os Estados Unidos. Muitos relatórios foram enviados ao Primeiro-Ministro, Benjamin Netanyahu. Ora, ele não reagiu. Pior ainda, demitiu o seu Ministro da Defesa, o General Yoav Gallant, em Agosto de 2023, porque este se queixou desta falta de reacção no Conselho de Ministros. Entretanto, dadas as reacções do público a essa demissão, preferiu reintegrá-lo em vez de ter de explicar o motivo.
As diferentes facções palestinas (Jihad Islâmica, FPLP e Iniciativa Nacional) foram acordadas pelo Hamas às 4h30 para participar numa operação que começava às 6h30 (ou seja, antes do nascer do sol). Ela começou pela destruição de todos os robôs de vigilância do Muro de Separação. Assim, desde as 6h30, o alarme soara. Às 8h, as agências de notícias do mundo inteiro começavam a transmitir imagens do ataque [8]. Ora, as Forças de Segurança israelita apenas intervieram após as 9h45.
Desde o início da sua intervenção, as Forças de Defesa de Israel (FDI) aplicaram a «Directiva Hannibal» ; uma instrução que ordena a morte dos seus próprios soldados mais do que vê-los feitos prisioneiros pelo adversário. Os números de vítimas israelitas divulgados pelo governo de Israel não fazem distinção entre as imputáveis aos atacantes e as imputáveis aos defensores. De forma idêntica, o governo israelita deu conta de abusos que os combatentes não têm, em princípio, tempo para cometer durante um ataque surpresa. A Maurícia Pramila Patten, Relatora especial das Nações Unidas sobre violência sexual que entrevistou as vítimas e as testemunhas da Operação Torrente de al-Aqsa. concluiu que podem ter sido cometidos alguns abusos sexuais, mas que as acusações mais graves (nomeadamente a castração de soldados) não eram credíveis [9]. As informações de decapitação de bebés foram retiradas após uma investigação da Al-Jazeera.
De momento, a oposição israelita recusa abordar a questão do possível papel do Primeiro-Ministro na organização desta operação. Contudo, ela deve ser levantada : Benjamin Netanyahu é filho do fascista Benzion Netanyahu, secretário particular de Vladimir Jabotinsky (aliado de Benito Mussolini, morto no início da Segunda Guerra Mundial). Ele expressou sempre a sua admiração por esses dois homens.
Benjamin Netanyahu sempre apoiou o Hamas, como um aliado táctico para combater a Fatah de Yasser Arafat. Ora, até 2017, o Hamas apresentava-se como o «ramo palestiniano da Confraria dos Irmãos Muçulmanos». Esta organização foi reestruturada em 1949 pelos Serviços Secretos britânicos seguindo o modelo da Grande Loja Unida de Inglaterra [10]. Em 1950, ela foi integrada no dispositivo anglo-saxão da Guerra Fria. Foi nesse momento que Sayyed Qutob, o teórico da jiade, se tornou a estrela. Claro, em 2017, os Gazenses que queriam defender o seu país aderiram à luta, mas exigiram que o Hamas rompesse com os Irmãos Muçulmanos e os Britânicos. Em última análise, as duas correntes coexistiram [11]. Em 19 de Outubro de 2022, o Presidente sírio, Bachar al-Assad recebeu Khalil Hayya, o líder da corrente revolucionária do Hamas. Mas recusou-se a receber Ismaël Haniyeh e Khaled Mechaal, líderes da corrente dos Irmãos do Hamas [12]. De um ponto de vista árabe, não existe pois um Hamas, mas dois. Com efeito, durante toda a guerra na Síria, o Hamas bateu-se ao lado da Al-Nusra (o ramo sírio da Alcaida), das FDI e das forças especiais da OTAN, contra a República Árabe Síria. Em 9 de Dezembro de 2012, elementos do Hamas vieram assassinar líderes da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP) em Yarmuk (subúrbio de Damasco), entre os quais um dos meus amigos [13].
Não só é falso atribuir o ataque de 7 de Outubro unicamente ao Hamas, como é igualmente errado ignorar que existem dois Hamas. Estas mentiras permitem apresentar a operação «Torrente de Al-Aqsa» como um vasto pogrom anti-semita, segundo as palavras do Presidente Emmanuel Macron, quando se trata de um acto de Resistência, tal como salientou Francesca Albanese, Relatora da ONU sobre os Direitos do Homem no território palestiniano ocupado.
O massacre dos Gazenses e a cumplicidade dos Anglo-Saxões
Somos testemunhas do massacre de 35. 000 pessoas, do desaparecimento sob os escombros de 13. 000 outras, de graves ferimentos físicos ainda a outras 120. 000. Qualquer pessoa com sentimentos humanos apenas pode ficar horrorizada. Isto nada tem a ver com a identidade das vítimas, é apenas uma questão de humanidade.
Segundo o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu, trata-se somente de uma operação de polícia destinada a prender os assaltantes de 7 de Outubro, mas toda a gente compreendeu que não há nenhuma ligação entre este ataque e a operação israelita actual. Esta visa apenas tornar a vida dos Gazenses insuportável até que eles partam por conta própria. Este programa era o de Vladimir Jabotinsky e do seu secretário, Benzion Netanyahu. Ele havia sido validado por, negociador com os nazis e ainda assim fundador de Israel, David Ben-Gurion.
Continuadamente durante este massacre e ainda hoje, os Anglo-Saxões fornecem armas a Israel para o perpetrar.
No entanto, quando as manifestações contra o derramamento de sangue começaram nas universidades norte-americanas e se generalizam no país, e depois em França, a Administração Biden pensou demitir Benjamin Netanyahu em favor do General Benny Gantz. É claro que legalmente esta decisão não lhe compete, mas Washington tem um longo passado de Golpes de Estado e de revoluções coloridas. O Secretário de Estado, Antony Blinken, convidou-o, pois, para «debater a situação». Benny Gantz aceitou marcando também uma entrevista com o governo Sunak durante sua viagem de regresso. Mas as coisas deram para o torto [14] :
Benny Gantz compreendeu perfeitamente que Washington lhe pedia para parar o massacre, o que ele aprovava, mas tinha que informar os seus interlocutores da vontade de proteger o seu país destruindo o Hamas. Os seus interlocutores, surpresos, compreenderam que ele não era «um filho da puta, mas o nosso filho da puta», nas palavras do Presidente Franklin D. Roosevelt. Preveniram de imediato o Primeiro-Ministro britânico, Rishi Sunak. Assim que Benny Gantz chegou a Londres para se encontrar com o Conselheiro especial de Segurança, Sunak fez-se convidado para a reunião. Ele tentou explicar a Benny Gantz, que por sua vez ficou surpreso, que não se devia tocar nos « filhos da puta » do Hamas, porque alguns deles são «nossos filhos da puta». Os Anglo-Saxões, portanto, não derrubaram Benjamin Netanyahu.
Vistos de Londres e de Washington, os massacres de civis são deploráveis, mas são apenas variáveis de ajustamento. No contexto actual, Israel é um Estado indispensável. Se ele fosse pacificado e tornado normal, não serviria mais para nada. Tal como a República dos Corsários no século XVIII, Israel permite as mais vastas operações de branqueamento de dinheiro e serve de refúgio a alguns dos maiores criminosos do planeta.
Um responsável da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) contou-me ter trabalhado como empregado (garçom-br) no bar do Hotel King David, em Jerusalém. Um dia, ele presenciou a chegada de vários negociantes de diamantes, os quais tinham vindo sem passar pela alfândega e sido transportados sob escolta militar. Esses homens e alguns clientes trocaram diamantes e dinheiro vivo, depois partiram incógnitos. Este tipo de deal (esquema de negócio-ndT) não poderia ter acontecido em mais nenhum outro Estado.
[1] “Dois mundos, postos em cena a 6 e 9 de Maio”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 9 de Maio de 2023.
[2] «Stratégies de gouvernance britanniques: sectes religieuses», Leonid Savin, Geopolilika, 10 avril 2024.
[3] “Quem é o inimigo?”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 4 de Agosto de 2014.
[4] “O caso Kastner ressurge”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 6 de Maio de 2024.
[5] « Plan de partage de la Palestine », Onu (Assemblée générale) , Réseau Voltaire, 29 novembre 1947.
[6] « Admission d’Israël à l’Organisation des Nations Unies », Réseau Voltaire, 11 mai 1949.
[7] “O que se esconde por trás das mentiras de Benjamin Netanyahu e esquivas do Hamas”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 29 de Novembro de 2023.
[8] «Response from The New York Times to the Office of the Consulate General of Israel Regarding Yousef Masoud», The New York Times, February 24, 2024.
[9] «Mission report. Official visit of the Office of the SRSG-SVC to Israel and the occupied West Bank. 29 January – 14 February 2024», Office of the special representative of the secretary general on sexual violence in conflicts.
[10] Apresentei uma história internacional da Confraria num dos meus livros, La impostura del 11 de septiembre a Donald Trump. Ante nuestros ojos la gran farsa de las "primaveras árabes" . Ela está disponível gratuitamente na Internet em seis partes.
[11] A Document of Genéral Principles and Policies, Hamas, May 2017.
[12] “Como Netanyahu falsifica a actualidade”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 22 de Novembro de 2023.
[13] «Agentes del Mossad en la fuerza de al-Qaeda que atacó el campamento palestino de Yarmuk», Red Voltaire , 1ro de enero de 2013.
[14] “Washington, Londres e Telavive enredados na Palestina”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 19 de Março de 2024.
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