Francisco Carrasquero

A montagem com a voz do presidente do CNE que dizia que Chávez teria seu mandato revogado pretendia ser veiculada às 20 horas de hoje, quando estariam encerradas as mesas de votação, denunciou o reitor do CNE, Jorge Rodríguez.

"Veículariam em uma suposta cadeia para dizer que o presidente foi revogado. Isso é uma clara tentativa de burlar a vontade dos milhões de venezuelanos", afirmou Rodriguez.

Carrasquero, por sua vez, pediu uma imediata investigação que deve ser levada até às "últimas consequências". Para ele se trata de um gravíssimo "delito eleitoral", que a seu ver tem o objetivo de comprometer o processo.

A cadeia supostamente seria veículada fora do país para gerar um clima de instabilidade e creditar o cenário de fraude que desde o início da campanha a oposição tenta criar.

A falsa gravação se soma a mais uma tentativa de anunciar uma suposta vitória da oposição. Ao meio dia de hoje, em uma página web www.tefuiste.ath.cx que anuncia que 59% dos venezuelanos optaram pelo "Sim", contra 41% de votos pelo "Não".

País em fila

A denúncia trouxe ainda mais tensão ao demorado processo eleitoral que os venezuelanos enfrentam neste domingo. A lentidão dos técnicos responsáveis por identificar as digitais dos eleitores tem provocado a formação de filas quilométricas em todo o país.

O coordenador do comando de campanha do governo, Henry Villegas afirma que muitos técnicos ligados à oposição são responsáveis pelo atraso. "Eles dificultam a captação das digitais para criar um clima de descontentamento o que levará o CNE a suspender as máquinas de ’caça-digitais", afirma.

A identificação digital foi o caminho encontrado pelo CNE para assegurar que cada eleitor vote apenas uma vez e evitar as irregularidades que ocorreram durante o processo de coleta de assinaturas, que resultou na ativação do referendo.

Além disso, os mais de 2 milhões de novos inscritos no registro eleitoral e a intensa disputa política, fez com que o número de votantes fosse ainda maior. O referendo é considerado a eleição com maior participação de toda a história da Venezuela.

Ninguém em casa

Para assegurar seu direito ao voto, os eleitores começaram a formar filas desde as 4 da manhã. Natasha Lujo, moradora do bairro popular El Valle conta que está na fila há 4 horas. "Temos que esperar, estamos celebrando nossa democracia e nossa Constituição. Nunca tanta gente participou de uma eleição", comenta a desenhista que diz que vota’ra pelo "Não" e justifica:

"Os projetos populares de alfabetização, saúde e a visão de integrar os países latinoamericanos, como agora com o Mercosul, nunca poderíamos imaginar. Estamos construindo um novo país, por isso voto pela continuidade", afirma Natasha.

Do outro lado da cidade, em Altamira, região leste de Caracas, Carmem Fernandez, arquiteta, conta que votará pelo "Sim" porque não quer um "comunismo" em seu país. "Meus pais são cubanos e tiveram que ir para Miami quando chegou Fidel (Castro). Queremos democracia e mais empregos", afirma.

Devido ao excessivo número de eleitores e à excassez de mesas de votação, o horário de votação foi estendido para as 20 horas. O reitor Jorge Rodríguez assegura que "enquanto houver eleitor" na fila o processo não será encerrado.

A expectativa é que até a meia-noite as urnas não tenham sido totalizadas. Os resultados devem ser divulgados somente na segunda-feira. Para Max Altman, jornalista brasileiro que integra a delegação de observação do Partido dos Trabalhadores dificilmente Chávez perderá o referendo. "A redução do número de abstenção e de novos inscritos favorecem ao presidente".