Para por fim às dúvidas da oposição que não aceita os resultados do plebiscito, o Conselho Nacional Eleitoral iniciou uma auditoria 150 mesas de votação. A CD acusa o governo e o órgão eleitoral de terem manipulado os resultados e exigem a anulação do referendo.

Na consulta que mobilizou todo o país, 59,06% optaram pelo "não" (a favor de Chávez) contra 40,94% ao "sim" (pela redução do mandato do presidente), a oposição afirma que o software das máquinas de votação foi modificado para colocar um limite de votos à opção "sim".

O CNE e a Starmatic, empresa estadunidense responsável pelas máquinas, negam essa possibilidade. O mesmo garante a OEA. "Fizemos testes inclusive para detectar qualquer possibilidade de vício nas respostas e a máquina rejeitou essas opções", assegurou o chefe da missão da organização,Valter Pecly Moreira, à Alia2 dias antes do pleito.

Conforme os resultados do plebiscito vão se totalizando, fica cada vez mais complicado para a CD sustentar as acusações. Um dos termomêtros para identificar a possibilidade de manipulação no resultado eletrônico era a comparação com os 1,4 milhões de votos manuais. De acordo com os resultados do CNE a vantagem de Chávez foi ainda maior: 70% contra 30% dos votos.

Mesmo assim, o CNE aceitou a proposta do Centro Carter e está auditando as máquinas. No entanto, a oposição, que vinha justamente pleiteando a revisão dos votos se negou a participar da auditoria, alegando que comparar as atas de votação com os comprovantes de votos(aproximadamente 400 urnas eletrônicas) não será suficiente para detectar supostas irregularidades.

Na avaliação de Jesús Torrelba, da CD, o poder eleitoral esta realizando uma auditoria "não como um mecanismo para descobrir a verdade" e sim como uma "maneira de legitimar uma fraude". Para a CD, agora, a presença do Centro Carter e da OEA "não modifica de maneira substancial a realidade", disse Torrealba.

A atitude da oposição é "esquizofrênica" na avaliação do antropólogo, Mário Sanoja. Para ele, o descompasso nas declarações dos líderes opositores reflete o temor de mais uma nova derrota nas eleições de setembro para governador e prefeitos. Os resultados do referendo mostraram que nos principais Estados o chavismo cresceu. No estado Miranda um dos pontos de controle da oposição, governado por Enrique Mendonza, o número de apoiadores do governo foi superior . "Alardear a fraude é uma estratégia para desqualificar o CNE e o mecanismo eletrônico de votação. Ao voltar o sistema manual, crescem as possibilidades que eles manipulem dos votos, como fizeram durante 40 anos" avalia Sanoja.

Carter e OEA, os "neo-inimigos"

Nas semanas que antecederam o referendo, a CD dizia que aceitaria os resultados do referendo desde que estes recebessem o aval do Centro Carter e da OEA. "Acataremos os resultados validados pela OEA e pelo Centro Carter", disse Asdrúbal Aguiar, um dos porta-vozes da oposição, semanas antes do pleito.

Diante da derrota, creditada pelos observadores internacionais, a oposição mudou o discurso e passou a questionar a credibilidade dos, até então, aliados. Na edição do dia 18, o jornal El Universal, um dos porta-vozes da oposição, publicou um artigo de opinião em que detalhava as supostas ligações de Carter e o presidente haitiano deposto, Jean-Bertrand Aristide, adjetivado como ditador e corrupto.

Se havia alguma simpatia à oposição por parte dos observadores internacionais, dessa vez, ela ficou restrita aos encontros pessoais entre opositores e observadores. O cenário que antecipou tal mudança ocorreu durante os reparos das assinaturas que levaram à convocação do referendo.

O então chefe da missão da OEA, Fernando Jaramillo, foi duramente criticado por opinar de maneira parcializada, em defesa da oposição, durante o trabalho de observação. Com a chegada do brasileiro Valter Moreira Pecly, que carregava a responsabilidade de manter a imagem imaculada da credibilidade do Itamaraty, a observação da OEA mudou. Moreira garantiu que faria um trabalho essencialmente "profissional e técnico".

Sem contar com o apoio da OEA e do Centro Carter para creditar um resultado favorável à oposição, ainda que sem os votos necessários, e com o abandono dos Estados Unidos, que sinaliza que a briga interna venezuelana não está na pauta de prioridades, para Mário Sanoja, resta à oposição, o isolamento. "Mais uma vez a oposição serviu para fortalecer o governo. As centenas de pessoas que se mobilizaram na frente eleitoral agora conformarão os movimentos para garantir a implementação dos projetos sociais", diz Sanoja.