A resposta da Venezuela frente à ameaça dos Estados Unidos de intervir no país está sendo preparada em pequenas reuniões nos bairros das cidades venezuelanas, onde militares com o auxílio das comunidades definem as estratégias para a formação das Unidades de Defesa Nacional (UDN).

"Nós temos muitas riquezas naturais e os EUA têm pretensões de ocupar nosso território para controlá-las. O único meio para tentar dissuadir uma possível invasão é contar com a organização das comunidades para a defesa", explica o major do Exército, Heriberto Castillo, um dos responsáveis pela formação das UDN. A Venezuela possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo, que era controlada pelos EUA até a chegada de Chávez à Presidência, em 1999.

Trabalho comunitário

De acordo com o sargento Octávio Sampayo, do 7º Corpo de Reserva do Exército, desde donas de casas a profissionais dos mais diferentes setores estão se inscrevendo nas UDN. Reunido em uma quarta-feira à noite no bairro de Cátia, periferia de Caracas, com cerca de 80 voluntários - dos quais 60% eram mulheres -, Castillo explicou quais serão as tarefas dos novos reservistas. Além de treinamento militar, as UDN serão treinadas para realizar trabalhos comunitários que envolvem a luta contra a pobreza, o acesso à saúde e educação. "Quando há consciência disso, estamos prontos para defender a nação de maneira integral", explica o major.

Maria Castellanos Miranda, uma das primeiras a chegar à reunião, explica por que os venezuelanos atenderam ao pedido do presidente para a população se mobilizar pela defesa nacional. "Antes, estávamos tão dominados que pensávamos que éramos gringos. Agora, resgatamos o conceito de pátria. Nossa revolução ninguém derruba e o povo está determinado a defender sua soberania", comenta a advogada de 75 anos. Questionada se os venezuelanos hoje estariam preparados para resistir a uma invasão, Maria é enfática: "Também não estávamos preparados para o 11 de abril (golpe de Estado), mas o povo e os militares se uniram e resgataram o presidente", responde.

A secretária Zalieny Wilclez, acompanhada de um dos seus três fi lhos que ouvia atentamente as orientações do major do Exército, diz estar feliz por poder ingressar à reserva. "Agora, temos consciência e oportunidade de lutar por nosso país. Se for preciso dar minha vida em troca da liberdade dos meus filhos, estou pronta", afirma.

Qualquer venezuelano, acima dos 18 anos, pode se integrar às UDN. Em cada região do país será designado um comitê para organizar as comunidades que, segundo as estimativas do Exército, devem somar cerca de 1,5 milhão de novos reservistas. A participação de civis na defesa militar está garantida pela Constituição e pelas regras das Forças Armadas Nacional (FAN). De acordo com a Carta Magna, a "segurança da nação se fundamenta na corresponsabilidade do Estado e da sociedade civil".

Brasil de Fato