Centenas de milhares de venezuelanos tomaram as ruas de Caracas, dia 28 de maio, para exigir a extradição do terrorista anticastrista Luis Posada Carriles. A manifestação ocorreu um dia depois que o governo estadunidense rechaçou o pedido de extradição de Carriles feito pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez.

O terrorista responde a um processo na Venezuela onde é acusado de promover o atentado contra um avião da empresa Cubana em 1976, deixando 73 pessoas mortas.

A negativa estadunidense em extraditar Carriles, ex-agente da Agência Central de Inteligência (CIA, por sua sigla em inglês), aprofundou a crise diplomática entre Caracas e Washington e colocou em contradição a retórica do presidente estadunidense, George W. Bush, de combate ao terrorismo mundial.

Os Estados Unidos dizem que vão julgar Carriles em seu território por violar as leis de imigração, supostamente por ter entrado ilegalmente no país pela fronteira do México. No entanto, nada dizem sobre as acusações de terrorismo e de tortura contra Carriles. "Temos que recordar a Bush suas próprias palavras: quem protege terrorista também é terrorista", afirmou o ministro de Educação e Esportes, Aristóbulo Istúriz.

Ruptura

Há duas semanas, o presidente Hugo Chávez ameaçou romper as relações com Washington caso fosse negada a extradição. A ruptura significaria o fechamento das em- baixadas em ambos países e, possivelmente, a interrupção do envio diário de petróleo da Venezuelna, o quarto maior exportador mundial, aos Estados Unidos.

O governo Bush qualificou como "mal fundamentada" a solicitação da extradição de Carriles. Outro argumento utilizado pelo governo estadunidense é de que a Venezuela poderia entregar Carriles aos tribunais cubanos depois da sua extradição. Para garantir a imparcialidade e justiça no julgamento, o governo de Cuba já afirmou que se nega a receber o terrorista.

A negativa emitida pelo Departamento de Estado estadunidense não é, no entanto, uma resposta definitiva. Ainda nesta semana, será entregue aos EUA outra solicitação de extradição junto à milhares de assinaturas de venezuelanos exigindo que o terrorista seja julgado em território venezuelano.

Também nesta semana, uma comissão de parlamentares venezuelanos viaja aos Estados Unidos para solicitar ao Congresso respeito aos convênios internacionais em matéria de extradição e à Convenção Interamericana contra o Terrorismo, da qual ambos países são signatários. Um dos artigos da convenção estabelece que os Estados devem extraditar os cidadãos que colaboram com o terrorismo aos países prejudicados.

Segundo o deputado do Parlamento Latino-americano (Parlatino), Walter Gavíria, foi enviado ao Parlatino do Brasil um pedido solicitando o pronunciamento do lado brasileiro sobre o caso no sentido de pressionar os EUA. A seu ver, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) também deveriam se manifestar.

Arquivo vivo

Em Cuba, nos dias 2 e 3 de junho, será realizado um evento convocado pelo movimento "Em Defesa da Humanidade" para exigir a extradição de Posada Carriles, analisar e denunciar os crimes de torturas, desaparições e assassinatos ocorridos na América Latina com a cumplicidade dos Estados Unidos.

A história de Carrilles traz justamente à tona as práticas promovidas pelos EUA na região. Um dos temores do governo estadunidense para não extraditá-lo é que Carriles poderia fazer importantes revelações sobre a atuação da CIA e a ligação dos Estados Unidos com o período das ditaduras latino-americanas e das operações anticuba. O terrorista confessou em 1978 ser o autor do atentado ao avião cubano, mas depois desmentiu.

Condenado na Venezuela, conseguiu escapar da prisão em 1985, após oito anos de cárcere, graças à ajuda de Jorge Canosa, então presidente da Fundação Cubano-Americana, uma organização anticastrista com sede em Miami, criada durante a administração do presidente estadunidense Ronald Reagan.

Em 2000, Carriles foi preso e condenado no Panamá pela tentativa de homicídio ao presidente cubano, Fidel Castro, na reunião de Cúpula Ibero-Americana. No entanto, a ex-presidente Mireya Moscovo, tradicional aliada dos Estados Unidos, concedeu indulto a Carriles e a outros terroristas anticastristas em seu último ato de governo.

Depois disso, o terrorista viajou pela América Central e entrou em território estadunidense. Sua prisão ocorreu após as denúncias do presidente Fidel Castro de que Carriles estava vivendo em Miami, impunemente. Antes de ser detido, ainda, o terrorista organizou uma conferência de imprensa em que revelou ter pedido asilo político oficialmente ao governo Bush.