Em 1933, existiam no planeta 1.203 emissoras de rádio. Nas Américas, havia 789 estações, 625 nos EUA. Cuba, naquela época um verdadeiro quintal do império, aparecia em quarto lugar nas estatísticas mundiais, atrás do Canadá e da Rússia, com 52 emissoras, uma cifra bem superior às do Brasil (22 rádios) e Argentina (17). O fenômeno não era gratuito: o emergente tio Sam se dispunha a regular a economia mundial, a aperfeiçoar sistemas de controle dos imaginários coletivos nacionais.

Para isso, a pérola do Caribe era o “laboratório” perfeito para a indústria cultural ianque na América Latina. Embora ainda fôssemos uma região essencialmente agrária, a presença dos ícones do cinema entre nós era algo absolutamente avassalador. Até Mário de Andrade, quando escreve “Amar, verbo intransitivo”, retratando a vinda de uma família de pecuaristas para São Paulo, no final da década de 20, registra a força dos mitos de Hollywood nos corações e mentes dos novos filhos da casagrande tupiniquim.

Em 1950, o mais sofisticado invento dessa Paidéia audiovisual também se instala ao sul do Rio Grande. Muito antes de países como o Canadá, a Suécia ou o Japão, a televisão surge em três naçõeschave do subcontinente (México, Brasil e Cuba), quase que inteiramente patrocinada pelos capitais dos EUA.

Será que os irmãos Lumière, responsáveis pela primeira sessão de cinema em 1895, poderiam imaginar que o mundo se converteria em um meio virtual e que um século mais tarde as imagens valeriam bem mais do que a realidade nesta esquizofrênica “sociedade do espetáculo”?

Pois com o inchaço das cidades na América Latina, as grandes redes de TV, subsidiadas pelas corporações multinacionais, avocam para si o papel de veículo nº 1 da “integração nacional”. É assim que se cria, em 1964, na Venezuela, a malfadada Venevisión (a quem o povo apelidou de “Venenovisión”), comandada pela sinistra família Cisneros - um dos maiores lacaios que os EUA têm por aqui - e, ao mesmo tempo, a viscosa Televisa, no México. No Brasil, que em 64 inaugura o tenebroso ciclo do arbítrio em solo latino-americano, logo apareceria a tenebrosa TV Globo, destinada a ser o grande veículo de sedução e cooptação do povo brasileiro.

É claro que nunca lhes faltou a mínima verba ou recursos para que conseguissem espraiar-se por imensos territórios, como é o caso da rede brasileira. Desde o dinheiro ilegal enviado pelo grupo Time-Life a Roberto Marinho, até as centenas de filmes B de Hollywood exibidos a preço de banana pela nova emissora, tudo concorreu para que ela rapidamente superasse a concorrência e viesse a impor seu padrão de transmissão àqueles que sequer haviam sido beneficiados com a ampliação da rede de microondas no país. O mais triste, porém, é que hoje, 40 anos depois, os pilares do quarto poder ainda detêm muita força: na Venezuela, chegaram a imaginar que poderiam depor um presidente legalmente eleito pelo povo.

No Brasil, julgam que a nossa história se divide em antes ou depois da criação de sua rede. Senhores do próprio destino, continuam a vender o sonho da conquista da América e celebram seu aniversário como se eles fossem uma instituição mais importante do que o próprio Poder Executivo da Pátria. Será ou... já é?

Brasil de Fato