Ariel Noyola Rodríguez
Economista formado pela Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM). Integrante do Centro de Investigação sobre a Globalização, Global Research, com sede no Canadá. Suas reportagens sobre a economia mundial são publicadas no semanário Contralínea e suas colunas de opinião são transmitidas pela rede internacional de notícias Russia Today. O Clube de Jornalistas do México entregou a ele o Prêmio Nacional de Jornalismo na categoria Melhor Análise Econômico e Financeiro por seus trabalhos difundidos ao longo de 2015 na Rede Voltaire.
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Após o impeachment parlamentar de Dilma Rousseff (Brasil) e a chegada de Mauricio Macri à Casa Rosada (Argentina), os Estados Unidos tentam desesperadamente aumentar sua presença militar na América Latina e, especialmente, no Cone Sul. Peru, um dos países da Aliança do Pacífico, é a mais recente vítima das incursões imperiais de Washington. O governo regional do Amazonas (Peru) aprovou no final de 2016 a instalação de uma nova base militar dos EUA que, para a opinião pública, é apresentada como um centro de resposta a desastres naturais.

Nos últimos meses, os países emergentes tinham vendido um imenso lote de títulos do Tesouro dos EUA, principalmente a Rússia, a China e a Arábia Saudita. Além disso, para se proteger de flutuações violentas do dólar, os bancos centrais de vários países adquiriram grandes quantidades de ouro para diversificar suas reservas de moeda. Em resumo, a ofensiva global contra o dólar explodiu através da venda maciça de dívida dos EUA e, em paralelo, a compra maciça de metais preciosos.

Já não há dúvida possível de que está completamente esgotada a artilharia dos bancos centrais dos países industrializados para combater a crise. Reunidos no encontro anual rotineiro de Jackson Hole, os responsáveis pela política monetária ouviram, apavorados, o discurso da presidenta do banco Reserva Federal dos EUA, (Federal Reserve, Fed) Janet Yellen, a qual, em vez de afastar as dúvidas que cercam hoje a economia global, alimentou ainda mais o pânico: é impossível continuar a confiar em que a economia dos EUA será a locomotiva que arrancará do baixo crescimento as nações industrializadas.

Os governos da América do Sul se encontram em uma encruzilhada. As economias da região latino-americana se contraíram em 2015 e, segundo diversas estimativas, terão um crescimento nulo em 2016. Nada indica que os preços dos produtos primários vão subir. De novo surge o dilema entre realizar ajustes de gasto público e solicitar empréstimos às instituições de crédito submetidas ao Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Contudo, Ariel Noyola considera que os mandatários da região também poderiam apostar em fortalecer as bases da arquitetura financeira sul-americana mediante a inauguração do Banco do Sul, um projeto que ficou parado durante mais de oito anos e que, frente à gravidade da situação econômica atual, pode impedir o aprofundamento da crise.
O Congresso dos Estados Unidos dá o braço a torcer e aprova a reforma de cotas do FMI
Ariel Noyola Rodríguez

Aparentemente, o ano de 2015 marca o início da revolução no interior do FMI. Primeiro, se aprovou a inclusão do yuan, a moeda chinesa, entre os DEG, a cesta de divisas criada em 1969 para servir de suplemento das reservas oficiais dos países-membros. Agora, graças à aprovação do Congresso dos Estados Unidos, o FMI poderá implementar finalmente a reforma do sistema de quotas de representação, com o qual a China e outras potências emergentes ganharão peso na tomada de decisões, enquanto os países do continente europeu perderão relevância. Não obstante, ainda é prematuro concluir que se trata de uma transformação radical na correlação de forças dentro do FMI: os Estados Unidos continuarão mantendo seu poder de veto.

Apesar da forte oposição do Tesouro dos Estados Unidos, o FMI finalmente aprovou em 30 de novembro a inclusão do yuan nos Direitos Especiais de Saque, uma cesta de moedas criada em 1969 para suplementar as reservas oficiais existentes dos membros do organismo multilateral. Assim, a moeda chinesa se tornará a partir do próximo 1 de outubro de 2016 o quinto integrante da cesta do FMI. E a influência financeira da China a nível mundial continuará crescendo rapidamente: o peso do yuan nos Direitos Especiais de Saque será maior em comparação com o iene japonês e a libra britânica.

As perspectivas econômicas do Japão põem em evidência que as políticas monetárias «não convencionais» implementadas por alguns bancos centrais dos países industrializados são um absoluto fracasso. A economia japonesa não só não registra crescimento econômico sustentado como voltou a registrar queda, segundo dados oficiais. O plano de recuperação lançado pelo primeiro-ministro Shinzo Abe está morto: tal como aconteceu em meados dos Anos 90, o Japão se afunda no estancamento econômico e na deflação, enquanto a dívida pública não para de crescer.

Após a reintegração da Crimeia ao território russo, os Estados Unidos estão pressionando as autoridades reguladoras da União Europeia para restringir o acesso da Rússia ao SWIFT, o sistema de pagamento internacional fundado por 200 bancos anglo-saxões em 1970. Em resposta, o governo de Vladimir Putin lançou um sistema alternativo de pagamentos que começa a expandir suas operações entre os bancos russos e, que por sinal, também serviu como inspiração para a China e para outros países que compõem os BRICS.

Ante a desaceleração econômica, o Governo da Arábia Saudita decidiu realizar uma série de reformas visando estimular os fluxos de investimento extrangeiro. A liberalização da bolsa de valores é o projeto mais ambicioso. Contudo, resta saber se conseguem evitar as práticas especulativas dos banqueiros de Wall Street ou se a alta da bolsa de Tadawul se tranforma na semente de sua própria crise...

As negociações entre a Grécia e o Eurogrupo não deverão avançar. A Troika insiste que o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, apresente uma proposta de reforma "plausível" para os credores. Em outras palavras, acabar com os direitos trabalhistas, intensificar a austeridade e, assim, dar prioridade para o pagamento da dívida. O tempo está se esgotando e a confiança depositada no Syriza também, portanto, em nenhum outro momento como agora está tão claro que a Grécia precisa buscar oxigênio fora dos limites da união monetária.

A relações econômicas entre China e América Latina atravesam tensões crescentes. Por efeito da deflação (queda de preços) em uma escala global, a região sul-americana sofre as consequências de concentrar suas exportações na China em produtos primários. No entanto, a instalação do primeiro centro financeiro do yuan na América Latina, em Santiago do Chile, acordada durante a visita do primeiro-ministro da China, Li Keqiang, promete desencadear um conjunto de investimentos em tecnologia e, assim, impulsionar a industrialização periférica e começar a reduzir a supremacia do dólar nos países do Cone Sul.

Durante sua visita ao Brasil e ao Peru, o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, se comprometeu com a construção da “Rota da Seda” da América do Sul; uma ferrovia de alcance continental que conectará os oceanos Atlântico e Pacífico. Entre seus objetivos, o megaprojeto buscará estimular a industrialização e, com isso, promover o desenvolvimento econômico da região.
Como o Mercosul e a União Euro-asiática desafiam os Estados Unidos e a hegemonia do dólar
Ariel Noyola Rodríguez

Diante da ofensiva imperial empreendida por Washington contra a Rússia e os governos eleitos democraticamente na América Latina, a associação estratégica entre Mercosul e União Euro-asiática surge como mecanismo decisivo na defesa da soberania e na construção de uma ordem mundial multipolar, cada vez mais longe da órbita do dólar e menos centrado na economia dos Estados Unidos.

Os créditos outorgados pela economia chinesa tem se convertido em instrumento de política externa. Ao mesmo tempo que permitem estreitar relações com aliados fundamentais, reduzem a influência das instituições financeiras sob respaldo dos Estados Unidos em algumas regiões estratégicas.

Depois da vitória do Syriza, tudo parece indicar que a nova orientação da política exterior da Grécia aponta a favor da Rússia e em detrimento da União Europeia. As tentativas da troika europeia para impor os interesses dos credores da Grécia, bem como o reforço do programa de sanções económicas contra a Federação Russa pela OTAN, fortalecem uma aliança que vai redesenhar o mapa econômico e geopolítico da Europa.

A conexão nas bolsas entre Xangai e Hong Kong representa um acontecimento histórico para os mercados financeiros internacionais. O projeto recentemente aprovado, por abrir o caminho da internacionalização do yuan, constitui um passo fundamental para o desenvolvimento financeiro da China continental.

A criação do Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura foi finalmente aprovada por 22 países na Ásia na sexta-feira 24 de outubro. Por um lado, o novo banco de desenvolvimento regional entra em concorrência directa com o Banco Asiático de Desenvolvimento, fundado em 1966 sob o domínio esmagador dos Estados Unidos e do Japão; por outro lado , servirá como um mecanismo para a coesão regional da “doutrina do pivô”, impulsionado pelo Pentágono e pelo Departamento de Estado.

A ascensão da moeda chinesa em escala global avança de maneira acelerada. Pra consolidar a internacionalização do yuan, o governo chinês tem levado a diante um plano com três frentes chave: a assinatura de swaps cambiários bilaterais, a instalação de centros de cobertura cambial fora da Ásia e finalmente, a implementação de um programa de investimentos para abrir progressivamente o mercado de capitais. Isto constitui um objetivo de longo prazo, o mesmo que fora apoiado por Londres, Frankfurt e Paris na Europa, agora por Montevidéu na América Latina, talvez a primeira capital da “moeda do povo” (renminbi) no Cone Sul.

A dominação do Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos sobre os bancos centrais do resto do mundo não possui limites. O aumento da taxa de juros dos fundos federais em meados de 2015 parece iminente: as pressões de alguns dos membros do Comitê de Operações de Mercado Aberto como Charles Plosser, são cada vez mais fortes. O que desencadearia uma crise de grandes proporções nas economias emergentes. Devido a isto, colocar em andamento o Banco do Sul é de extrema urgência, jamais vista, para atenuar a ruína.

Um dia após o fim da Copa do Mundo no Brasil, terá início a 6ª Cúpula do Brics (sigla do grupo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Fortaleza e Brasília serão as cidades anfitriãs do encontro, que será realizado em 14, 15 e 16 de julho, para assentar, finalmente, uma arquitetura financeira de novo cunho, com o slogan: “Crescimento inclusivo e soluções sustentáveis.”
À diferença das iniciativas de regionalização financeira asiática e sul-americana, os países do agrupamento Brics, ao não comporem um (...)

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