A exemplo das reuniões anteriores, os diplomatas ficaram divididos entre as posições do Norte rico e do Sul subdesenvolvido. De um lado, os Estados Unidos enfatizaram o livre-comércio e defenderam a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Já os países latino-americanos, com destaque para a Argentina, criticaram as políticas aplicadas na região durante os anos 1990.

Antes do encontro realizado em Buenos Aires, milhares de manifestantes marcharam pelas ruas do Centro da capital argentina para protestar contra a possível presença do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, no país durante a Cúpula. As organizações também criticaram a presença do embaixador estadunidense para a Organização dos Estados Americanos (OEA), John Maistó, destacado por Bush para a reunião. Agrupações humanitárias e políticas classificaram Maistó como um "embaixador especial" para a desestabilização de países, acusando- o de preparar a invasão dos Estados Unidos ao Panamá em 1989 e de estimular a criação de uma oposição golpista na Venezuela, sob tutela de Washington.

Divergências

Na reunião, Argentina e Estados Unidos discordaram sobre aspectos chaves da Declaração Final da Cúpula, como a relação entre crescimento econômico, emprego e desigualdade. Representando outros países da região, o vicechanceler argentino, Jorge Taiana, caracterizou de "lento e instável" o crescimento entre 1990 e 2003, o que gerou "mercados de trabalho frágeis e aumento da informalidade", entre outros problemas na região.

O argentino também citou fatores de um contexto internacional que dificulta a melhoria das condições de vida nos países mais pobres, como os condicionamentos externos, o peso da dívida externa e as medidas protecionistas dos países desenvolvidos.

Coube ao embaixador estadunidense responder ao argentino, afirmando que "a responsabilidade do crescimento de uma nação depende apenas do próprio país, que tem obrigação de se desenvolver e fazer crescer sua economia com políticas inteligentes e corretas".

Maistó também trouxe mais polêmica ao encontro ao dizer, em seu discurso, que Washington seguirá com sua defesa às políticas de livre-comércio e da criação da Alca na Cúpula das Américas. O embaixador estudunidense participou do encontro em Buenos Aires com o objetivo explícito de obter um acordo entre os países para incluir no texto da Declaração Final um enfoque positivo das políticas emanadas pelo receituário do Consenso de Washington - espécie de cartilha neoliberal criada por um grupo de economistas.

"A cifra de 23 milhões de desempregados e 103 milhões de trabalhadores informais na América Latina é um desafio que só pode ser enfrentado se colocarmos a pessoa no centro, e não considerando o trabalho como uma mercadoria", rebateu o Ministério de Relações Exteriores da Argentina, que contou com apoio da maioria dos países latino-americanos.

Até o final do encontro, apenas a metade dos 34 capítulos da Declaração havia sido discutida. Os diplomatas voltarão a debater a questão no dia 3 de outubro, em Nova York, no último encontro antes da Cúpula. (Com agências internacionais).

Brasil de Fato