Não existe situação igual em nenhuma outra região do planeta. Nesse quadro, é de singular transcendência, por sua enorme colaboração com a luta antiimperialista, o ascenso ao governo da Venezuela do movimento popular liderado por Hugo Chávez.

Sempre me chamou a atenção que, quando se fala dos chamados “novos movimentos sociais” que surgiram frente às políticas neoliberais das últimas décadas, é raro ver mencionado o único deles que conseguiu ascender ao poder, defendê-lo da contra-revolução e do imperialismo, e iniciar a construção de “outro mundo possível”. Esse que é reivindicado pelos que lutam contra a globalização neoliberal, quase sempre solidários com a Venezuela.

E a experiência bolivariana é uma referência relevante por ter propiciado o acesso das maiorias à política, por suas conquistas sociais e pelo impulso dado à unidade latino-americana e à luta pela justiça e pela paz no mundo.
Nas palavras de Chávez: “O protesto passou a ser proposta, a proposta passou a ser governo e o governo passou a ser revolução”. O protesto e a proposta, ainda que tenham raízes históricas remotas na empreitada inconclusa de Simón Bolívar, se referem, em um passado recente, ao caracazo de 1989, rebelião antineoliberal de massas, e à insurreição cívico-militar patriota de 1992, encabeçada pelo então comandante dos pára-quedistas.

Derrotada militarmente, no âmbito político acabou reunindo uma legião de simpatizantes em torno do oficial encarcerado. Entre eles, aqueles que tinham protagonizado a mencionada rebelião contra o pacote econômico do social democrata Carlos Andrés Perez, reprimida ferozmente. Nove anos depois do caracazo, Chávez conquistava a Presidência com ampla margem, na primeira de nove consultas eleitorais enfrentadas vitoriosamente pelo movimento bolivariano.

Na Venezuela, que no dia 28 de outubro se declarou território livre do analfabetismo, o lucro da empresa estatal de petróleo e o aumento da arrecadação tributária foram destinados principalmente a programas sociais e ao desenvolvimento. Depois da derrota da greve dos gerentes pró-ianques (2003) da PDVSA, a venezuelana foi a economia latinoamericana que mais cresceu.

Vinte mil médicos cubanos levaram assistência sanitária aos antes marginalizados, e a metade da população estuda por um sistema de educação continuada para adultos. O desemprego foi consideravelmente reduzido, a inflação acabou e foi criada uma rede varejista que vende mais barato. Apesar da tenaz oposição da burguesia local e dos latifundiários, a reforma agrária avança, e em três anos foram recuperados mais de 3 milhões de hectares e foram entregues terras a mais de 180 mil famílias organizadas em empresas de produção social, que recebem créditos do Estado.

O atendimento de saúde triplicou e está sendo construída uma rede de policlínicas comunitárias. Milhões de dólares são destinados para equipar os hospitais com a mais alta tecnologia, para construir uma grande siderúrgica estatal e para realizar obras de infra-estrutura de transportes.

A Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), projeto de integração embasado na solidariedade e no aproveitamento, para benefício mútuo, das potencialidades e das fragilidades dos países que dela participam, tem expressões muito concretas em acordos com países sul-americanos e do Caribe.

Além do avançado processo integracionistas entre Cuba e Venezuela, o maior passo é a Petrocaribe, que salvou muitos Estados da bancarrota diante das altas cotações do petróleo bruto - ao proporcionar preços e fretes preferenciais, grandes facilidades de pagamento, um esquema de armazenamento e ao destinar recursos para desenvolver programas sociais. Duzentos mil médicos latino-americanos serão formados gratuitamente, em um programa venezuelano-cubano nos próximos dez anos. Não é por acaso que o próximo Fórum Social as Américas vai ser em Caracas.