Na esteira da maior cotação de preços registrado em 21 anos, o petróleo foi o principal responsável pelo crescimento global do Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela que apresentou alta de 29,8% no primeiro trimestre de 2004.
Ainda que comparada com o desempenho do mesmo trimestre de 2003, quando o PIB registrou baixa de 27,8% devido a greve petroleira liderada pela oposição, a recuperação foi de 57,6%. O petróleo e as demais atividades econômicas do país aumentaram sua produção em 72,9% e 18,9% respectivamente.
O Banco Central da Venezuela (BCV) explicou que «o significativo incremento da atividade petroleira obedece a uma importante recuperação da produção do setor público, cujo valor agregado aumentou em 65,4%».
De acordo com o BCV o setor de manufatura apresentou alta de 48%, seguido do comércio com 27,9%, das instituições financeiras e seguros com 27,2% e de transporte e abastecimento com 25,4 %.
O crescimento econômico da Venezuela para este ano, de acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), deve atingir os 8,7%. «O crescimento é geral. Até mesmo as companhias que não estão de acordo com as ações do governo estão se beneficiando», avalia o economista Mark Weisbrot, co-diretor do Centro de Pesquisas Econômicas e de Políticas (CEPR) dos Estados Unidos.
Para explicar o crescimento generalizado Weisbrot compara a economia brasileira, regulada pelo cumprimento das metas de superávit primário (economia de recursos para pagamento de juros da dívida) com a economia venezuelana: «Chávez gasta dinheiro no país e isso estimula o crescimento interno. Já o Brasil mantém uma política contracionista e quase não gasta», avalia.
Sobram recursos para pagar a dívida externa
Além disso, o governo venezuelano não depende de recursos do FMI e tampouco necessita praticar um ajuste fiscal como o Brasil, que no primeiro trimestre economizou para o pagamento de juros R$ 20,528 bilhões, ou 5,41% do PIB brasileiro.
Conforme sinalizou o ministro de Planejamento e Desenvolvimento, Jorge Giordani, «se fosse o caso, poderíamos pagar a dívida externa». Não só quitariam a dívida como ainda sobrariam recursos, já que os dividendos com o FMI não vão além dos 22 milhões de dólares e as reservas internacionais da Venezuela chegaram ao total de 24.580 milhões de dólares em 19 de maio. Há um ano as reservas não ultrapassavam 14 milhões de doláres.
Especialistas ligados ao governo afirmam que estes são resultados da «nova Pdvsa». Para eles, a diferença é que com as mudanças na administração da indústria petroleira após a greve de 2002, os recursos extraídos das refinarias, agora, são investidos no país.
Em 2003, a administração do presidente Hugo Chávez despediu 18.000 «executivos» da petroleira e o quadro de funcionários foi reduzido a 28.000 trabalhadores.
Ouro negro
Mesmo antes da elevação dos preços do barril, cotado a 41,80 dólares, dia 25, em Nova York, o governo venezuelano já esperava um crescimento significativo dos índices econômicos. Isso porque a produção saltou dos 100 mil barris por dia (bpd) - durante a paralisação - para 3,1 milhões de bpd produzidos hoje. A estimativa da Petróleos de Venezuela S.A (Pdvsa), quinta maior produtora mundial, é que sua capacidade extrativa ultrapasse os de 3,6 a 5 milhoes de bpd até 2009.
A alta da atividade petroleira venezuelana foi beneficiada por uma maior demanda internacional dos chamados países emergentes, além da intervenção militar no Iraque e o tensionamento político no Oriente Médio, que afetaram a produção mundial.
De acordo com Mark Weisbrot, a resistência enfrentada pelos Estados Unidos no Iraque alteraram os planos em relação a produção petrolífera e ao maior controle de Washington sobre o produto. «Os EUA acreditaram que depois da guerra e sob seu domínio o Iraque aumentaria a sua produção, mas isso não está ocorrendo. Enquanto isso, China e Índia crescem em ritmo acelerado e aumentam a demanda pelo produto»explica.
A Venezuela envia diariamente aos Estados Unidos 1,4 milhões de barris de petróleo, cerca de 15% do consumo total do mercado estadunidense.
G7: preços a «níveis compatíveis»
Para conter a disparada dos preços do óleo diesel e em nome de uma «duradoura prosperidade e estabilidade econômica no mundo» o G7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo) pediu no dia 21 que os países produtores de petróleo aumentem a oferta do produto e tragam o preço do barril «a níveis compatíveis» .
«É a primeira vez na história que o G7 pressiona publicamente os países produtores. Não será uma maior produção que vai determinar a cotação do produto», afirma Weisbrot.
É o que reitera o ministro venezuelano de Minas e Energia, Rafael Ramirez, ao anunciar na reunião informal da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) em Amsterdã que seu país não deve aumentar a produção de petróleo. “Acreditamos que o preço do petróleo não tem nada a ver com o nível de produção”. Para Ramirez, «novos fatores políticos no Oriente Médio é que são responsáveis pelo aumento de preços».
A estratégia venezuelana é incrementar a produção de derivados de petróleo no país, e com isso elevar as exportações, que já registraram alta de 92,7% no primeiro trimestre deste ano. «Vamos reduzir a produção de óleo diesel e aumentar a produção interna», sinalizou o presidente Hugo Chávez, no último domingo, no programa Alô Presidente.
A proposta de aumentar a produção sob o argumento de baixar o preço tem sido liderada no interior da OPEP pelo ministro saudita do petróleo, Ali Naimi, que propôs um aumento de mais de 2 milhões de barris diários. A Arábia Saudita, maior produtor individual de petróleo do mundo, defende uma cotação média entre 30 e 40 dólares o barril. Apesar das especulações e dos apelos do G7 a decisão final será tomada em Beirut, dia 3 de junho em reunião oficial da OPEP.
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