A conjuntura política da América Latina evoluiu de maneira muito desfavorável para os Estados Unidos e seus aliados na Europa. A apagada visita do ex-premiê espanhol José Maria Aznar ao Brasil e o moribundo congresso de dissidentes em Cuba, incentivado por George W. Bush, são sintomas dessa nova fase.

A política de Bush não se cansa de somar derrotas na América Latina: Organização dos Estados Americanos (OEA), López Obrador, Equador, reunião com governos árabes, aprovação de lei de hidrocarbonetos na Bolívia, nova postergação e saída das prioridades da Alca para o Brasil, consolidação e extraordinário dinamismo externo e interno do governo venezuelano, normalização das relações da União Européia com o governo de Cuba, depois da posse do novo governo da Espanha.

O ex-premiê espanhol José María Aznar tinha sua precoce aposentadoria já preparada. Depois de ter inaugurado o neofranquismo no seu governo de oito anos, degustava já sua retirada vitoriosa da política aos 48 anos, quando um passo em falso, no momento dos atentados de março do ano passado em Madri, levaram-no a uma estrepitosa derrota. Derrotado, teve Aznar então que dar continuidade às suas prédicas políticas de extrema direita.

Como parte das suas funções de aliado do governo estadunidense, mesmo fora do governo, mandou deputados do seu partido - o neofranquista Partido Popular - a uma reunião de opositores em Cuba e veio ao Brasil para uma patética reunião de uma chamada Internacional Democrática de Centro (ex-Internacional Democrata Cristã), em que cabe seu partido, pelos vínculos estreitos que mantêm com a Opus Dei.

Se aqui ele passaria incólume, não fosse a vigorosa resposta que Hugo Chávez deu a uma declaração sua, em que o presidente venezuelano recordava as palavras de Aznar sobre “perdedores da história”, em Cuba seus paus-mandados puderam ter os espaços de imprensa que buscavam, quando tiveram proibida sua estada no país, porque ingressaram como turistas e se dedicaram a fazer atividades de proselitismo político.

A reunião, tolerada pelo governo de Fidel Castro, teve como seu ponto alto uma gravação do presidente dos EUA - fiel aliado de Aznar -, revelando que tipo de alternativa os participantes desse grupo desejam para Cuba. Nada se falou da base naval de Guantânamo, onde os direitos humanos reivindicados em Cuba são vítimas das maiores atrocidades. O opositor mais conhecido, Oswaldo Paya, declarou que se trata de um reunião sem nenhuma importância, artificialmente convocada e apoiada do exterior.

Mas foi o suficiente para que o governo dos EUA e seus aliados na Europa voltassem à carga sobre o tema das relações com Cuba. Enquanto sofrem de taquicardia, na contagem regressiva para os referendos sobre a Constituição Européia na França e na Alemanha, tentam agir contra Cuba novamente, se dando conta que a situação latino-americana evoluiu de maneira muito desfavorável para eles e que tende a piorar cada vez mais.

Os acordos recentes entre os governos da Argentina, do Brasil e da Venezuela, aqueles assinados entre estes dois últimos, estendendo seus efeitos a Cuba, e os acordos entre os governos da Venezuela e de Cuba desenham um continente muito distinto daquele que o governo Bush e seus aliados querem para o continente, prefigurado na Operação Colômbia, na Alca e no Plano Puebla-Panamá.
Aznar faz o pobre papel de pregador no deserto.

Na Espanha, o novo premiê José Luis Zapatero consolida seu apoio popular, avança nos direitos da educação privada, conseguiu aprovar uma avançada lei de casamento dos homossexuais, e propõe agora a iniciativa de legalização de 700 trabalhadores imigrantes. Resta a Aznar o pobre papel de agente provocador do governo Bush. Nem Cuba, nem a Venezuela, nem nenhum outro país da América Latina têm ouvidos para Aznar e suas asnices. Temos outras urgências e prioridades.