Quem invade, é invadido. Quem cerca, é cercado.
Israel paga com dor e sofrimento uma parte das dores e sofrimentos provocados por seus governos.
Enquanto corriam as negociações dos Acordos de Oslo, supostamente para resolver e pacificar o conflito entre palestinos e israelenses, os governos de Israel - de Rabin, de Netaniahu e de Sharon - sabotavam abertamente as negociações, instalando sem cessar grande quantidade de colonos em plenos territórios ocupados. Eram colonos militarmente protegidos, no coração dos territórios ocupados. Uma bomba de tempo que se sabia que iria explodir.

Explode agora e, com dor no coração, os militares israelenses têm de remover os colonos da terra que indevidamente ocuparam, não por opção deles, mas dos governos que os utilizaram para mostrar para os próprios cidadãos de Israel que não abandonariam os territórios ocupados. Foram utilizados com objetivos eleitorais, sentiram que contribuíam para ocupar territórios que os governos diziam que nunca abandonariam, e agora se sentem traídos por seus governantes.

Governos que colocaram o bode na sala e agora têm de retirá-lo da sala. Porém, seres humanos não são bodes. São dramas de todo país que invade outro. Se sentem todo-poderosos, mas não podem consolidar a invasão sem ocupar os territórios. Fizeram isso, que significou radicar populações em Gaza.

Tanto mais criminosa a ação dos governos israelenses, porque há décadas a ONU decidiu que devem retirar suas tropas dos territórios ocupados. Um país invasor provoca sofrimentos e dores incalculáveis nas suas vítimas. Ela está na raiz dos problemas acumulados, da escalada de violência que hoje se torna insuportável para invasores e invadidos, para israelenses e palestinos.

O plano atual do governo de Sharon vai fracassar. Em primeiro lugar, porque não se propõe a resolver o problema central do conflito - o direito à existência de um Estado palestino, soberano, independente, com direito à reunificação de todos os palestinos em seu território.

Em segundo lugar, porque os ódios e os ressentimentos acumulados não são facilmente superáveis. Em terceiro, porque o governo de Sharon busca sair de Gaza para manter a Cisjordânia, e sobre esta se concentrarão as tensões.
Que Israel aprenda com seus erros, que sinta na carne os sofrimentos que provocou nas populações palestinas com seus territórios ocupados, com uma população humilhada, ofendida, desprezada, dominada, discriminada e explorada.

Para que sinta que os outros têm tanta dignidade quanto eles, que nenhum povo é livre se oprime outro.
Somente aí começará um verdadeiro processo de paz - negociada, justa, duradoura -, que comece com a fundação do Estado palestino, ao lado do Estado de Israel - com os mesmos direitos, a mesma dignidade e a necessidade de convivência pacífica e respeitosa entre eles.

Carta Maior