A turma da Casa Grande nunca enguliu em política alguém que viesse da Senzala. Por conta das corrupções da cúpula do PT e dos equívocos do Governo Lula nas coligações partidárias ela ganhou de presente uma oportunidade para a qual não precisou conspirar: a possibilidade de depor legalmente o Presidente e de liquidar politicamente o PT.

Corifeus da oposição, embora disfarcem a linguem, aventam claramente tal hipótese. Logicamente um impeachment não é coisa meramente jurídica, é uma bomba que pode abalar todo o edifício político de um pais. Mas os donos do poder só têm a ganhar com tal desfecho trágico. A volta ao poder central estaria aberta. O que aconteceria caso isso viesse a ocorrer?

A primeira reação, como já apareceu na imprensa, viria da Comissão dos Movimentos Sociai(CMS) liderada pelo MST, CUT e UNE que engloba cerca de 50 entidades populares. A despeito das críticas que fazem à macroeconomia do Governo, colocariam milhares de pessoas nas ruas para defender o mandato do Presidente. O argumento de base é este: a conquista da Presidência não é questão pessoal de Lula, é expressão simbólica do poder popular que depois de séculos de exclusão conseguiu se articular e chegar lá. O "Lula-lá" voltará a ser bandeira política.

Que legitimidade política e ética tem um Congresso, pervadido de corrupção sistêmica reconhecida, para julgar um Presidente por corrupção? Temo que os movimentos sociais cerquem o Congresso com o grito: "Que se vayan todos". Colocariam os parlamentares sob forte constrangimento ainda mais que a maioria deles precisa do povo tranquilizado para se reeleger pois é o que mais buscam. Querem julgar? Então que julguem a todos em toda as instâncias e que acabem com a hipocrisia.

Quando há crise de poder, precisa-se voltar à fonte do poder, como está na Constituição: "todo poder emana do povo e em seu nome será exercido". Todos os cargos públicos, do Presidente ao último servidor, são instâncias delegadas deste poder popular. São servidores do povo e não portadores originários de poder. Importa, pois, radicalizar a democracia. Crise de democracia se cura com mais democracia e não com golpes autoritários ou conciliações falaciosas sem o povo.

Em segundo lugar, defender Lula seria a forma melhor de impedir o fracasso da utopia. As esquerdas do Brasil e do mundo acompanham o Presidente Lula não como messias mas como um formulador de um novo olhar sobre a globalização e a inserção dos paises neste processo.

Sua missão é fazer chegar aos ouvidos dos donos do poder do mundo o grito canino dos bilhões que passam fome e sede e dar centralidade à vida, à justiça mínima, sem o que a globalização continua a ser uma barbárie. Afundando Lula e o PT se torna obscuro o horizonte da esperança humana de que outro mundo seja possível e de os pobres tenham melhor condição…

Por outra parte, há que se execrar as liderenças do PT que se corromperam e que não souberam estar à altura do desafio histórico brasileiro e mundial. Repetiram as políticas patrimonialistas tradicionais. Nisso são indesculpáveis.

Por fim, o que vier depois de Lula será o pior: a continuação das privatizações e o atrelamento do Brasil ao projeto-mundo para o qual o povo e os pobres são estorvo e peso morto. Esta maldição eles não merecem. Lutaremos para que haja ainda um mínimo de compaixão e de humanidade.