A "Marcha pela vitória" tomou as principais ruas e acessos que culminam na Avenida Bolívar com uma onda vermelha refletida nas camisetas, bonés e cartazes que traziam um "Não" à pergunta que os apoiadores do presidente devem responder no dia do pleito: se desejam revogar o mandato do presidente.

Os muros da cidade com pixações e cartazes de apoio às missões populares de alfabetização, moradia e saúde, contam trechos da história do atual governo. "Hoje nos sentimos parte desse país. Isso significa mais um pedaço da nossa histórica luta de 500 anos pela liberdade", afirma o professor universitário Antonio Cigilberto, que não conteve as lágrimas ao relatar as conquistas da população nesses cinco anos. "Ver as pessoas aprendendo a ler, com acesso à saúde e tomando consciência do seu papel como cidadão não tem preço. Por isso essa multidão sai às ruas e vota por Chávez", comenta.

Enquanto relata os sucessos da chamada "revolução bolivariana", Cigilberto se orgulha do instrumento do referendo, aprovado pela população durante a constituinte de 1999. "Os setores que querem sacar o presidente com o referendo são os mesmos que foram contrários às mudanças na Constituição", explica.

Ritmados pelos gritos de "Uh, ah, Chávez não se vá", os manifestantes se encontram com um grande efetivo de soldados dfa Guarda Nacional. Diferente do que acontece em toda manifestação popular, que a polícia e o exército são vistos como inimigos, esses soldados, que só assistiam à marcha com uma nítida simpatia eram aclamados pelo povo. Um dos soldados foi presenteado com um um bóton do "Não" e fez questão de posar para a foto com a lembrança na mão. Ninguém mais esconde de que lado está, tampouco as Forças Armadas, que junto com o povo, são a segurança de Chávez no poder.

"Não" ao triunfalismo

A marcha segue com a alegria de quem já saiu vitorioso. Com a bandeira do país esses venezuelanos dançam e cantam com a certeza de quem, agora, se sente maioria. "Basta olhar para perceber. Vamos ganhar" afirma a aposentada Eladia Monsorro, de 63 anos, que participa da missão de alfabetização promovida pelo governo.

"Essa gente sempre nos humilhou e agora que temos vez e que todos podem escutar a nossa voz querem voltar ao poder", afirma a aposentada que se diz consciente de que há muito a ser feito para melhorar o país. "A vida não está fácil. É preciso mais empregos e segurança, mas queremos fazer essas mudanças com nosso presidente que governa de perto, não de longe como faziam os outros".

Assim como Eladia, milhares de venezuelanos estão confiantes na vitória. Depois de entoar o hino nacional seguido em coro pelos manifestantes Chávez pediu a seus eleitores para que não caiam no "triunfalismo", já que ainda têm "sete dias de trabalho".

"Nós vamos ganhar, mas ainda não ganhamos. Faltam vários dias. Não podemos cometer nenhum erro. Precisamos ficar alertas dia e noite porque vocês sabem que o diabo [como chama a oposição] tem um dono lá no norte [referência ao presidente George W. Bush]". O governo teme que a oposição recorra a atos de violência para provocar medo e tentar mudar a preferência do eleitorado.

De cima do palanque de onde se viam bandeiras de diversos países latinoamericanos, o presidente venezuelano diz que o "Não" significa a libertação da América Latina contra o imperialismo e o neoliberalismo. "É o não de muito sangue, de muita dor, de esperanças adormecidas", disse Chávez.

Enquanto ouvia o presidente o jovem vendedor ambulante Wolfgan de Jesus Carpio, 20 anos, concorda e complementa: "é o não de nossa liberdade, da democracia que agora estamos conquistando. Antes, jamais poderíamos sair em uma manifestação sem que a polícia nos reprimisse. Agora ninguém mais fica calado", comenta o jovem de 20 anos que participa da missão Ribas (educação secundária) e recebe cerca de 80 dólares por mês para seguir estudando.

Política x show

Enquanto Chávez falava da importância dos próximos dias para o que chama de batalha final contra a oliguarquia, a oposição em uma tentativa de dissipar a manifestação chavista organizou um show com cantores populares, sem muito êxito.

Essa foi a terceira tentativa da oposição em três dias para tentar aglutinar seus seguidores. Em duas manifestações nos dias 6 e 7 não conseguiram reunir mais do que 500 pessoas. Ainda assim, um dos principais líderes da CD, Enrique Mendoza afirmou que a oposição vencerá por "ampla maioria".

De acordo com as últimas pesquisas de opinião realizadas no país, Chávez ganhará o plebiscito com no mínimo 10% de vantagem sobre os adversários. Na pesquisa da North American Opinión Research no mês de agosto, a única que Chávez excede essa margem, o presidente vence o plebiscito por 63% de votos contra 32% que preferem encurtar seu mandato e 5% que deixariam de votar.

Na consulta em que mais de 14 milhões de venezuelanos decidirão o futuro da Venezuela, em que índice de abstenção nas eleições de 30%, o reitor principal do Conselho Nacional Eleitoral, Oscar Bataglini acredita que devido a polarização política, o plebiscito do próximo domingo será o ato eleitoral de maior participação de toda a história. "Ninguém vai ficar em casa neste dia, todos vão sair à votar", afirma.

Para tirar Chávez do palácio Miraflores a oposição terá que somar mais de 3,8 milhões de votos e mais do que os votos que o presidente conquistar no dia do pleito. Caso consigam essa maioria, novas eleições serão convocadas em 30 dias, da qual Chávez poderá se candidatar à reeleição.