"Vamos despertar compatriotas, ao trabalho, o dia é longo. Não esqueçam, às sete da noite Assembléia Popular para decidir quais serão nossas condições para apoiar os candidatos à eleição". O chamado do locutor da rádio comunitária Alí Primera foi infalível. No final do dia, pouco a pouco, homens e mulheres moradores do bairro popular El Valle ocuparam o pátio da Universidade Símón Rodríguez, antes lugar de domínio da elite caraquenha, para discutir o tema principal que ronda as conversas em todo o país: o futuro dos candidatos à governador e prefeito para as eleições de 31 de outubro.
Muitos venezuelanos que acabam de sair de um referendo no qual foi ratificado o mandato do presidente da República, Hugo Chávez, não estão convencidos de que os candidatos escolhidos pelo comando político do governo serão capazes de aprofundar a revolução bolivariana. Os movimentos sociais e os comitês populares exigem a realização de eleições primárias para que o candidato seja eleito pelo povo. Chávez em seu primeiro embate com seus apoiadores após o referendo disse que "em nome da unidade" as candidaturas não serão alteradas.
A decisão não é fácil. Há dois meses do pleito a população teria de decidir um novo candidato sob o risco do desgaste político frente à oposição que tende a unificar as candidaturas para fortalecer a disputa com o candidato do governo. No entanto, os apoiadores do processo liderado por Chávez acreditam que somente a decisão da maioria poderá protegê-los dos pseudo-revolucionários que seguem comandando as máquinas da corrupção e da burocracia nas administrações públicas.
Com a Constituição sobre a mesa, três integrantes das unidades eleitorais criadas para o plebiscito de 15 de agosto conduzem a assembléia no bairro El Valle. Os vizinhos se revezam planteando seus anseios."Se não pudermos ir às primárias só devemos apoiar esses candidatos se eles assinarem um compromisso com a comunidade", afirma Jesus Ribas, membro do Comitê de Saúde do bairro.
Um dos condicionamentos para apoiar os candidatos é a concretização de um Projeto de Lei para estabelecer o Orçamento Participativo, para garantir a inclusão da população na tomada direta de decisões. "É nossa tarefa dizer para onde vamos. Dessa vez não serão eles que vão apresentar um plano de governo. Nós é quem vamos dizer o que precisamos e como queremos que eles governem", diz Ribas, apoiado por dezenas de moradores que preferiram discutir política à descansar depois da jornada de trabalho.
"Todo o poder para o povo"
Para tentar garantir a aplicação do gasto público em projetos que beneficiem diretamente à população, para esses venezuelanos que estão se reunindo em assembléias em várias parte do país, e que repudíam à vertical estrutura dos partidos políticos, só será possível aprofundar a revolução se for feita valer a consígnia "todo o poder para o povo".
Esta têm sido a bandeira levantada pelo movimento Conexão Social do qual fazem parte sindicalistas, produtores rurais, estudantes e associações comunitárias de diversos pontos do país. Em um manifesto integre ao presidente da República, ao Conselho Nacional Eleitoral e à Assembléia Nacional, os manifestantes acreditam que a "unidade" proposta por Chávez só pode ser conquistada pela base.
Esses chavistas que poucos dias após o referendo foram qualificados pelo presidente como "francoatiradores internos", por contrariarem a imposição das candidaturas, se rebelam "em nome da revolução". As organizações sociais exigem a prorrogação da data das eleições regionais para que tenham tempo de realizar as primárias e inscrever o novo candidato no CNE. "Neste processo não podemos dar passo atráz. As decisões têm que vir desde a base, caso contrário, vamos repetir os erros dos governos anteriores", afirma Maria Isabel Urbina, produtora rural no municipio Guaicaipuro, onde o candidato do governo têm sido rechazado pelos eleitores chavistas.
O CNE sinaliza que as primárias não serão realizadas. Um dos motivos seria a falta de tempo hábil para rever as inscrições das candidaturas e a data do pleito, já prorrogada para o dia 31 de outubro. Dessa maneira os anseios desses movimentos sociais tendem a não sem atendidos, o que significa um potencial risco para o governo, que pode perder as eleições em no mínimo sete estados, entre eles, a capital Caracas. "Voltar a votar nos mesmos não significa proteger o presidente, nem a revolução e sim aprofundar a corrupção. Não vou apoiar isso", critica a líder comunitária Odalis Mendes, uma das milhares de voluntárias que ajudaram na campanha política do referendo.
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