Cada um à sua maneira, os governos de Venezuela e Uruguai anunciaram segunda-feira (21) passos efetivos para ampliar a integração dentro da América do Sul e entre as nações em desenvolvimento.

O governo venezuelano tornou público o fato de que estuda a possibilidade de adquirir mais bônus da dívida da Argentina, que acabou de sair da moratória e voltou ao mercado internacional. No início de marco, em viagem ao Uruguai, o presidente Hugo Chávez já havia revelado que seu país iria adquirir US$ 500 milhões em títulos argentinos provavelmente em abril. Negócios desse tipo significam um voto de confiança no governo argentino de Néstor Kirchner, que recentemente se aproximou ainda mais de Chávez.

O vice-ministro de Financiamento para o Desenvolvimento da Venezuela, Edgard Hernández Behrens, não deu detalhes sobre o valor da nova aquisição, mas explicou que o governo "pretende comprar da Argentina um novo título que vence em 2012, que será emitido em breve". Ele disse que "a Argentina prevê fazer novas emissões da dívida ou a reabertura de títulos já emitidos dentro de duas semanas".

Hernández afirmou ainda que a Venezuela busca opções de compra "com a participação do setor privado", destacando que "qualquer tipo de operação nesse mercado emergente renderá frutos positivos, dada a expansão econômica do país (Argentina)". O vice-ministro, que também presidente do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (Bandes).

A compra da dívida argentina tem sido duramente criticada pelos deputados da oposição a Chávez, que acreditam que o presidente está "usando o dinheiro dos venezuelanos" para comprar "apoio internacional", em vez de ajudar os mais necessitados.

Uruguai

Também nesta segunda, o chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano, defendeu o retorno de seu país ao Grupo dos 20 (G-20), que é liderado por países em desenvolvimento como Brasil e Índia. O Uruguai havia se afastado durante o governo do ex-presidente Jorge Battle. O argumento utilizado pelo ministro do presidente Tabaré Vázquez é que o G-20 é um instrumento válido para a luta contra os subsídios que impedem a entrada dos produtos agrícolas locais aos principais mercados.

Gargano assegurou que não existe incompatibilidade na permanência no G-20 e simultaneamente no Grupo de Cairns, que reúne os países agrícolas exportadores contrários aos subsídios. Essa suposta incompatibilidade foi o argumento usado pelo governo do presidente Battle (2000-2005) para retirar o Uruguai do G-20. Battle também havia se distanciado do Mercosul, ao mesmo tempo em que procurou se aproximar unilateralmente dos Estados Unidos.

Desde sua chegada ao poder, em março, o presidente socialista Tabaré Vázquez, adotou várias medidas que revisavam a política exterior de Battle e anunciou que o Mercosul seria sua prioridade na política externa. O Grupo dos 20, lançado pelo Brasil em 2003 durante a cúpula da Organização Mundial do Comércio em Cancún, México, contava com o Uruguai no início.

O G-20 acaba de fazer uma reunião em Nova Déli, Índia, da qual participou o chanceler brasileiro Celso Amorim. Dele participam Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, China, Cuba, Filipinas, Egito, Guatemala, Índia, Indonésia, México, Nigéria, Paquistão, Paraguai, África do Sul, Tanzânia, Tailândia, Uruguai, Venezuela e Zimbábue.

O Uruguai foi representado em Nova Déli pelo subsecretário de Pecuária, Agricultura e Pesca Ernesto Agazzi, que declarou à imprensa que o G-20 é um "conjunto de países que defende seus direitos juntando posições em relação ao comércio mundial". Em Nova Déli foi assinado um acordo entre Índia e Mercosul (integrado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) para reduzir suas tarifas em mais de 900 produtos, com o propósito de aumentar as relações comerciais entre as duas regiões.

Em 2004, os países do Mercosul somaram cerca de US$ 850 milhões em exportações à Índia. O ministro Gargano também anunciou que viajará a Marrocos para participar de uma reunião preparatória da primeira cúpula da América do Sul e países árabes, a ser realizados em maio, em Brasília.

O chanceler uruguaio criticou o processo da década de "90 que obrigou os países do Terceiro Mundo a aplicar políticas de abertura de fronteiras, enquanto sofriam o fechamento dos principais mercados que aplicavam políticas protecionistas. Isso acontecia e continua acontecendo, fundamentalmente, nos Estados Unidos e Europa", relembrou.

Agencia Carta Maior