A curta viagem da secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, ao Brasil, mesmo que ocorrendo sob um tom cordial, não esconde a grande distância que hoje separa Brasil e Estados Unidos nos principais temas da agenda política internacional e regional.
A ordem do dia da visita da Secretária de Estado do governo Bush, Condoleezza Rice, ao Brasil, é suficiente para nos darmos conta das enormes diferenças que nos separam deles. Estão previstas conversas sobre a Alca, a Venezuela, o Equador, Cuba e o comércio de armamentos. Estes, e quaisquer outros temas que sejam abordados, servirão para mostrar como nunca até agora, mesmo se de forma elegante, que as divergências nunca foram tão grande entre os dois países.
O governo Bush levou os EUA - e por, arrasto, ao resto do mundo, - a erigir a guerra e a militarização dos conflitos a método de encarar os problemas do mundo. Epicentros da “guerra infinita”, como a o Iraque, a Palestina, o Afeganistão, a Colômbia - são cenários desse tipo de política - e nos separam, em cada um deles -, assim como os outros que o governo Bush pretende incluir nessa lista macabra, como o Irã, a Venezuela, a Coréia do Norte.
Rice vem em um momento especial, em que a América Latina vê ampliar-se a lista de países que, vivendo a ressaca das políticas recomendadas por Washington para o continente, têm que viver revoltas dos seus povos, que derrubam governos - como foram os casos da Bolívia, da Argentina, do Equador - e impõem mudanças de orientação, que os distanciam do governo Bush.
Ela chega em um momento em que seu governo paralelamente desenvolve todo tipo de pressão para que governos árabes chegados a Washington não compareçam à cúpula entre governos latino-americanos e daquela região do mundo, a realizar-se a partir do dia 9 de maio em Brasília.
Rice chega no mesmo momento em que seu governo tenta, de todas maneiras, eleger novamente um homem de sua confiança na secretaria geral da OEA - um mexicano -, com o apoio dos países da América Central - e do Peru -, contra a candidatura de um chileno, apoiado pela quase totalidade dos países sul americanos, com votação empatada.
Ela vem no momento em que o novo governo do Equador coloca em questão a participação daquele país no Plano Colômbia e até mesmo a presença das tropas dos EUA na base de Manta, além da rejeição da impunidade que absurdamente o governo Bush continua a solicitar para a atuação de suas tropas.
Rice chega poucos dias depois de que o presidente do Brasil afirmou que a Alca está fora da pauta de debate brasileiro, saindo de suas prioridades, pauta ocupada privilegiadamente pelo Mercosul e pela Comunidade Sul Americana de Nações.
Se vem para preparar as condições de visita do presidente Bush ao Brasil, Rice deve se dar conta dessas diferenças e que um cardápio não muito distinto espera o presidente de seu país - além das conhecidas manifestações que sua presença por aqui concitará. Mesmo que traga oferta de compra de armamentos - usados - o que poderia convir ao Brasil, as experiências de outros países da área não recomendam comprar de um país que subordina o abastecimento de materiais militares a posições acordes com a linha de seu governo.
Assim, as condolências que possam ser dadas e recebidas em Brasília não deverão ser de bom augúrio para a Secretária de Estado dos EUA. Sua curta viagem deve manter-se em um tom cordial, mas não conseguirá esconder a distância que separa, nos principais temas da agenda internacional e regional, o Brasil e os EUA.
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