O Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) não teve dúvidas em apoiar e caminhar junto na Marcha pela Reforma Agrária. Durante dias o povo caminhou com a esperança de mudanças e realizações. As transformações no campo são uma necessidade imperativa do momento e que passa necessariamente, pela realização de uma ampla e massiva reforma agrária.

Acreditamos que para retirar da miséria e da fome milhões de famílias sem terra, deve-se começar primeiramente pela Reforma Agrária. Não existe outro mecanismo mais eficiente para o combate à pobreza rural do que dar aos pobres do campo as condições para que eles produzam seus alimentos.

Enquanto a reforma agrária não for feita definitivamente em nosso país, as lutas concretas de ocupação de latifúndios são necessárias e indispensáveis. Envergonha-nos saber, que é no Brasil onde estão os maiores latifúndios que a historia da humanidade já registrou. A soma das 27 maiores propriedades existentes no país atinge uma superfície igual a do estado de São Paulo.

A Marcha traz consigo uma capacidade imensa de contrapor a ideologia da burguesia agrária brasileira reacionária, arcaica e caloteira. Por meio dos meios de comunicação a burguesia tenta mostrar a sociedade brasileira que o agronegócio pode trazer para o país os tão sonhados dólares para remetê-los de volta aos banqueiros internacionais, em forma de pagamento dos serviços da divida. Mas agora, podemos ver os latifundiários pedindo desesperadamente que a sociedade brasileira e o governo perdoem suas dívidas.

São mais de 30 bilhões de reais. Valor talvez suficiente para assentar um milhão de famílias, que coincide com as metas iniciais do Plano Nacional de Reforma Agrária. Toda esta vergonha, escancarada nos meios de comunicação, mostram a imensa capacidade desta burguesia de ludibriar a sociedade, ofuscando as conclusões muitas vezes simples. Mas soubemos que a mentira, repetida muitas e muitas vezes se torna verdade.

O grande escritor português, Prêmio Nobel de literatura, José Saramago, certa vez escreveu: "Povoando dramaticamente esta paisagem e esta realidade social e econômica, vagando entre o sonho e o desespero existem 4.800.000 famílias de rurais sem terra. A terra ali, diante dos seus olhos e dos braços, uma imensa metade de um país enorme, mas aquela gente (Quantas pessoas ao todo? 15 milhões? Mais ainda?) não pode lá entrar para trabalhar, para viver com uma simples dignidade, que só o trabalho pode conferir, porque os voracíssimos descendentes daqueles homens que haviam dito: "Essa terra é minha", e encontraram semelhantes seus bastantes ingênuos para acreditar que era suficiente tê-lo dito, esses rodearam a terra de leis que o protegem, de polícias que os guardam, de governos que os representam e defendem, de pistoleiros pagos para matar".

Felizmente a Marcha nacional escancarou para a sociedade esta tremenda farsa e mentira. O agronegócio não é apenas insustentável economicamente. É insustentável socialmente e ambientalmente. Além disso, ainda utiliza-se ainda de trabalho escravo e de violência. É preciso dar um basta definitivamente a tudo isso. Pedimos a sociedade que ajude acabar definitivamente com essa burguesia agrária arcaica e reacionária. Não queremos mais uma vez pagar a conta de um modelo insustentável e sermos conivente com crimes, desmatamento e com a escravidão. Queremos sim que o governo cobre com rigidez as dívidas dos latifundiários com TERRA PARA OS SEM TERRA.

Talvez com isso, as indignações inclusive de Saramago sejam amenizadas. O desespero vira não apenas sonho, mas realidade. Os campos por onde caminham, não mais cercas existirão e a terra ali bem a frente de seus olhos não apenas poderão tocar e abraçar, mas sim plantar. Feliz é um povo que tem dentro de si um belo povo. Que viva a reforma agrária e que viva a marcha pela reforma agrária!

Adital