O Fórum Social Mundial é e sempre foi um caos organizado que vai tomando os espaços da cidade anfitriã sem muito perguntar se, realmente, seria imaginável que estivesse por ali. Não existem garantias absolutas de que as coisas ocorram como anunciadas, a arte do improviso é um mérito e o espírito aventureiro deve fazer parte da bagagem de quem quer aproveitar ao máximo o que o FSM tem a oferecer. Foi assim em Porto Alegre, foi assim na Índia e será assim em Caracas. Principalmente em Caracas.

O primeiro desafio que os participantes do Fórum enfrentarão logo na chegada à Venezuela é um viaduto avariado (e interditado) na estrada que liga o aeroporto internacional Simon Bolívar a Caracas. Segundo o comitê organizador do FSM, rotas alternativas e desvios estão sendo providenciados, mas os cálculos preliminares apontam um tempo de 2 a 4 horas para o trajeto (que antes durava cerca de 25 minutos), que poderá ser feito de táxi (caríssimo, até US$ 130, segundo informações de Caracas), vans ou ônibus.

A organização promete que haverá “uma frota de transporte plenamente identificada" desde o dia 20 no aeroporto, que fará o translado dos participantes a um preço médio de 15 mil bolívares por pessoa. Uma equipe do FSM também estará no local para receber e orientar os participantes, garantem. A interdição do viaduto da estrada Caracas-La Guairá, no entanto, deve atrapalhar a vida de muitos que se hospedaram nos hotéis próximos à praia (do lado “de cá” da ponte) e que enfrentarão os desvios diariamente para chegar ao Fórum.

Para quem chegar bem à Caracas, a abertura do evento, no dia 24, deve ser em grande estilo, prometem os organizadores. Por volta das 15 h, os participantes do FSM devem se concentrar na Plaza de las Três Gracias e sair em marcha para o Paseo los Próceres, onde deve ocorrer um grande ato político e vários shows com estrelas da música “antiimperialista”, como Joan Baez, Silvio Rodriguez e Daniel Viglietti (nomes propostos mas ainda não confirmados).

Diferente das edições anteriores em Porto Alegre e na Índia, as atividades do FSM 2006 ocorrerão em um complexo espacial descentralizado, que engloba do Liceo Andrés Bello, Parque Central, Teatro Teresa Carreño, Plaza Los Museos, Hotel Caracas Hilton e Parque Los Caobos, ao aeroporto desativado de La Carlota, o Parque del Este, a Casa de Letras Andrés Bello, a Biblioteca Nacional e o estádio Poliedro de Caracas.

Segundo os organizadores, que estimam uma participação de cerca de 100 mil pessoas, as mais de 2 mil atividades inscritas ocorrem em 250 salas, além de espaços abertos (praças e parques) e 10 tendas temáticas – Mercosul, Alba, Estados Unidos, Via Campesina e Brasil, entre outros. Transporte entre os locais também é uma promessa, ainda sem garantia, dos organizadores.

A respeito da tenda temática do Brasil, o Espaço Brasil – cogestionado pelas organizações sociais e o governo brasileiro – trará uma série de materiais e informações sobre os Fóruns passados, o país, atividades do governo e das entidades, vídeos e materiais culturais, e oferecerá um espaço de encontro e articulação da delegação brasileira.

Por fim, o encerramento do Fórum, no dia 29, também terá um grande ato político que se seguirá ao termino da Assembléia dos Movimentos Sociais, no final da manhã.

Questões práticas

Quem decidiu de última hora participar do FSM e se martiriza agora com dúvidas sobre inscrição e pagamento, pode ficar tranqüilo: será possível fazer tudo in loco nos estandes de credenciamento em Caracas, tomando-se em conta, obviamente, a costumeira confusão nestes locais.
Por outro lado, os que inscreveram atividades e estão aflitos para saber detalhes sobre onde, quando e como serão realizadas, terão que ter um pouco mais de paciência, já que a programação final, que deveria ter sido divulgada na última sexta (13), ainda está passando por ajustes.

Membros do Conselho Hemisférico do FSM no Brasil também alertam: como a Venezuela faz controle de câmbio, pode ser difícil trocar bolívares, a moeda local, por dólares ao final do Fórum. Portanto, todo o dinheiro venezuelano deve ser gasto no país. Já aqueles que pretendem levar mercadorias para vender durante o evento devem procurar instâncias do governo venezuelano para tentar um acordo prévio, já que a restrição de troca de moedas vale também para essas atividades comerciais.

Quem ainda não tem hotel ou outro tipo de alojamento e quiser arriscar o acampamento da juventude, poderá optar entre os parques Vinicio Adames e Los Caobos. Segundo os organizadores, ambos os acampamentos terão duchas, banheiros químicos, água potável, cooperativas de alimentação, serviço de segurança, acesso à internet, atividades culturais e políticas, tendas-hospitais, centro de informação e uma rádio com alto-falantes.

Mais informações estão disponíveis no blog do acampamento.
A página do Fórum na internet também traz uma pagina com ofertas de alojamento solidário, onde moradores de Caracas oferecem quartos ou casas para os visitantes a um custo que varia de zero a 16 dólares a diária.

Sobre o transporte na cidade, o melhor é se locomover de metrô, novo, bom e, de acordo com o comitê organizador venezuelano, de graça para os participantes do FSM (devem ser distribuidos bilhetes para os inscritos). Os táxis na cidade também não são caros, mas como não existe controle estatal – qualquer um pode comprar uma licença e transformar o carro de passeio em táxi -, é aconselhável escolher um automóvel de frota ou pegar táxi em turma, por medida de segurança.

Várias iniciativas de economia solidária devem oferecer comida nos diversos pontos do FSM, garantem os organizadores, mas os venezuelanos também têm seu próprio “fast food”, as areperas, que fazem as conhecidas arepas, uma espécie de beirute feito com tortillas de milho e recheadas de queijos, carnes, saladas ou outros.

Também o pabellón criollo é um prato típico e de rápido consumo. Uma espécie de PF (prato feito), o pabellon é feito de arroz, feijão preto e carne, mas como geralmente é preparado em grandes quantidades no começo do dia, seu consumo depois das 15 horas não é aconselhável.
Por fim, há que se ir a Caracas preparado para o calor. Por estar rodeada de montanhas – localiza-se em um vale da cordilheira central da Venezuela –, venta pouco e chove menos ainda.