Venezuela se tornou o mais novo membro associado do Mercosul (Mercado Comum do Sul). O anúncio feito na Cúpula do Mercosul realizado na cidade argentina de Puerto Iguaçu, dias 7 e 8, representa mais um passo na proposta de integração latinoamericana liderada pelo país caribenho.

"A Venezuela chega ao Mercosul em um momento de profundas mudanças, que apontam para uma integração de um novo tipo, não a integração neoliberal que se preconizava neste continente até a pouco tempo", disse o presidente venezuelano Hugo Chávez, ao final da reunião, dia 8.
Para efetivar a associação o país, quarto exportador mundial de petróleo, terá de assinar um acordo de livre comércio na Associação Latino Americana de Integração (Aladi), daqui a dois meses.

Os países associados, como é o caso de Bolívia, Chile e Peru, têm de manter relações comerciais livres com os demais países do bloco (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), mas não têm direito a voto nas questões econômicas e tampouco podem opinar em questões políticas ou institucional.

No caso venezuelano, a associação pode gerar mais frutos políticos do que econômicos, já que sua matriz produtora está baseada na exportação de petróleo e de seus derivados, o que lhe deixaria vulnerável em competição direta com países com uma forte indústria, como a brasileira.

Para Chávez, que há 5 anos aguarda a inclusão de seu país como associado, o Mercosul está se transformando no "epicentro de um novo esquema de integração política, social e econômico-produtiva. Estamos chamados a nos unir de verdade para nos libertarmos da pobreza e romper com as cadeias do imperialismo e da dominação, que nos tem levado a um extremo perigoso de desigualdade", disse o presidente venezuelano.

Néstor Kirchner, que transferiu a presidência do bloco ao mandatário brasileiro Luiz Inágcio Lula da Silva, seguiu a mesma linha. Para ele, o bloco regional está se transformando no "principal instrumento para diminuir a vulnerabilidade externa e obter vantagens da globalização que nos permita reduzir a pobreza e a exclusão social".

Referendo

Além do título de associado, os chefes de Estado analisara, a situação política venezuelana. Durante a reunião, o presidente do Chile, Ricardo Lagos, ressaltou a vocação democrática e a coragem política do governo que será submetido a um referendo revogatório em 15 de agosto e sinalizou: "sem dúvida alguma os lideres deste continente estão bem informados do que acontece na Venezuela".

Lagos fez um chamado a oposição para que dê mostras de respeito a Constituição, assim como às instituições democráticas e ao órgão eleitoral. "Nós não queremos guerra, nem vamos ter guerra. Não queremos desestabilização e não vamos ter uma Venezuela desestabilizada. O país tem retomado o crescimento econômico, o desenvolvimento social e democrático, este é o rumo", enfatizou o chefe de Estado chileno.

O presidente paraguaio, Nicanor Duarte, também fez elogios ao governo Chávez, à sua política externa de integração dos povos e ressaltou, assim como Lagos, que a Venezuela está sendo observada. "Quem tem pretemdido ilhar e distanciá-la de nossos países irmãos tem fracassado mais uma vez. Alí está o resultado de uma politica internacional séria. Isso é importante reconhecer, temos retomado o caminho que havíamos perdido". disse Duarte.

Para além do acordo

Kirchner por sua vez, ao término da reunião, convidou o chefe de Estado venezuelano para seguir a Buenos Aires, de onde partiram para uma visita à fábrica de barcos em Rio Santiago, Enseada. No encontro com mais de 1.500 trabalhadores e seus familiares, Chávez disse que fará um acordo para a construção de até oito grandes barcos para a petroleira venezuelana.

Se concretizada, a iniciativa pode gerar mais 6 mil empregos à fábrica que atualmente mantém parte dos trabalhadores afastados por falta de trabalho. "Oxalá possamos concretizar esse acordo", ressaltou o presidente argentino. A assinatura de mais uma parceria está prevista para o próximo dia 23, na ilha Margarita, Venezuela.

Na ocasião, também será assinada a ata de criação da empresa Petrosul, criada dia 8, durante um encontro paralelo entre Chávez e Kirchner. Inicialmente a empresa terá como sócias a Petróleos de Venezuela S.A (Pdvsa) e a Energia Argentina Sociedade Anônima (Enarsa). A incorporação da Petrobras (Brasil), Ecopetrol (Colombia) e Petroequador (Equador) à proposta da ampliação da empresa, com a criação da Petroamérica, será definida em um encontro entre os ministros de minas e energia desses países, ainda sem data definida.

Além da petroleira, a aliança Argentina-Venezuela, concretizará o primeiro espaço para a integração de uma rede de televisão do sul, proposta na ultima reunião do G15 em Caracas. "É um passo para a liberdade comunicacional. Temos que romper com a hegemonia das grandes cadeias mundiais de televisão. A consolidação de uma televisão sulamericana é vital para informar nossos povos sobre nossas realidades" disse Chávez.

As novas alianças com o presidente argentino sinalizam um primeiro passo para a consolidação da integração latinoamericana liderada pelo mandatário venezuelano com a proposta de criação da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba).