O ministro da Defesa da Bolívia, Walker San Miguel, confirmou nesta quarta-feira (8) a existência de um complô contra o presidente Evo Morales, articulado por empresas multinacionais do setor de energia, juntamente com grupos políticos vinculados ao ex-presidente Jorge Quiroga. Segundo o ministro, “os indícios mostram que poderia existir um financiamento de alguma empresa transnacional para um processo lento, paulatino mas sistemático de desestabilização”.

Na segunda-feira, Evo já havia advertido para a existência deste complô, no qual algumas empresas petrolíferas estariam envolvidas. Antes disso, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também falou sobre essa articulação contra o novo governo boliviano, acusando também o envolvimento do governo dos Estados Unidos. Até agora, segundo o ministro San Miguel, os dados recolhidos por organismos de inteligência bolivianos não confirmam a participação direta dos EUA.

Ao denunciar o envolvimento de algumas empresas multinacionais em um processo de desestabilização, Evo Morales pediu o apoio das organizações sociais para defender seu governo. Ao falar da Federação Departamental de Camponeses de La Paz, Túpac Katari, ele declarou: “Já há algumas conspirações de algumas multinacionais. Tivemos reuniões com a alta cúpula militar em que nos davam informações de como estão preparando a conspiração”.

O presidente não citou nomes, mas disse se tratar de um processo ligado às reservas de gás do país. “Para nacionalizar os hidrocarbonetos teremos que estar organizados e vamos convocar todos os setores”, garantiu.

A Bolívia possui a segunda maior reserva de gás natural do mundo. Ao assumir a presidência, Evo assegurou a continuidade das atividades de empresas estrangeiras, mas reafirmou que o controle dos recursos naturais deve ficar na mão do Estado como forma de reduzir a pobreza no país.

“Temos que nos unir para nos proteger”

Reforçando a advertência, o vice-presidente Álvaro García Linera declarou que “a unidade dos camponeses será importante porque os membros da oligarquia querem prejudicar o governo do irmão Evo Morales, e por isso será necessário atuar em defesa; temos que nos mobilizar contra os que querem prejudicar, porque vão pressionar as petroleiras, os gringos”. “Essa unidade será não só para proteger o presidente da República, mas também para as medidas de mudança que o governo prepara. Temos que nos unir para proteger, e poderemos governar 500 anos”, acrescentou García Linera.

Por outro lado, o ministro de Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada, disse desconhecer a existência de tal complô. “Seguramente o presidente deve melhores elementos de juízo para fazer essa afirmação, mas aqui no ministério estou surpreso com o grau de compreensão que há por parte das empresas”, declarou Soliz Rada.

As primeiras informações sobre o início de um processo de desestabilização do novo governo surgiram ainda durante a posse do novo governo, que recebeu um alerta sobre estranhas movimentações de armamentos no país. Hugo Chávez também advertiu Evo Morales sobre o mesmo problema. “Há muita gente que se importa com o seu país, apostando na mudança, e que me forneceram documentos. As denúncias de Chávez também foram para que nos preveníssemos quanto a esse tema”, confirmou Evo.

A tentativa de iniciar um plano de desestabilização do governo teria iniciado com uma campanha de desprestígio do ministro da Defesa e incluiria, no futuro, o incitamento de conflitos sociais para desgastar o presidente. O novo líder boliviano reuniu-se dias atrás com o alto comando das Forças Armadas para solicitar maiores informações sobre essas suspeitas.

Mudanças na Lei de Minéiros

O governo de Evo Morales também deve enfrentar resistência junto às empresas do setor de minérios, que hoje desfrutam de uma alta taxa de lucratividade. O Código de Mineração, aprovado durante o governo de Gonzalo Sánchez de Lozada, estabeleceu novas regras para a exploração dos recursos minerais do país. Regras que satisfizeram enormemente os interesses das empresas transnacionais do setor.

Em 2004, essas empresas exportaram recursos da ordem de 520 milhões de dólares, deixando no país apenas 11 milhões. A fixação de baixas taxas de impostos - entre 2,5 e 3% - fez parte de uma série de concessões a investidores estrangeiros implementada ao longo da década de 90 pelo governo de Sánchez de Lozada, ele próprio um empresário do setor. Agora, o governo de Evo Morales quer rever essas regras para fazer com que o país ganhe mais dinheiro com a exploração de seus recursos naturais.

O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República do Brasil, Marco Aurélio Garcia, viajou a La Paz para se reunir com o presidente Evo Morales. Na pauta, entre outros temas, está a definição de acordos energéticos entre os dois países. A Petrobras deverá negociar um novo contrato para operar na Bolívia, através de uma associação com a estatal boliviana YPFB para a exploração e produção de petróleo e gás.

Antes de viajar, Marco Aurélio Garcia disse que as mudanças na política do governo boliviano para a exploração de petróleo e gás não deve preocupar o Brasil “porque existe um ambiente de negociação muito tranqüilo”. Uma missão da estatal brasileira também deverá viajar a La Paz nos próximos dias para discutir detalhes deste novo acordo. As estatais brasileira e boliviana deverão formar empresas mistas para atuar nas áreas de exploração e produção, além de impulsionar o setor petroquímico na fronteira dos dois países.

Fonte
Carta Maior (Brasil)
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