Na sua qualidade de negociador da UE, Radosław Sikorski assina um acordo sobre a resolução da crise com o presidente ucraniano, Viktor Yanukovych, a 21 de fevereiro de 2014 à noite. De manhãzinha os homens que ele, secretamente, treinou na Polónia tomarão o poder.

Este artigo baseia-se em informaçõs obtidas pela oposição polaca. Erradamente citei como fonte o semanário satírico Nie que publicou um "pastiche" misturando verdadeiro e falso. Os detalhes que ele dá deverão, pois, ser verificados.
Seja como for, o Procurador-geral foi envolvido no "affaire" do estágio de formação do Pravy Sector (Sector de Direita)
Thierry Meyssan

O semanário polaco(polonês-Br) de esquerda Nie (No), publicou uma reportagem- choque sobre a formação dos militantes mais violentos de EuroMaidan.

Segundo esta fonte, o ministro polaco dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-Br) Radosław Sikorski, convidou, em setembro de 2013, 86 membros do Sector direita (Setor Pravy), supostamente no quadro de um programa de cooperação inter-universitária. Na realidade, os convidados não eram estudantes, e muitos tinham mais de 40 anos.

Ao contrário do seu programa oficial, eles não foram para a Universidade Técnica de Varsóvia, mas sim para o centro de formação da polícia em Legionowo, a uma hora de carro da capital. Lá, eles receberam quatro semanas de treino intensivo em controlo de multidões, reconhecimento de pessoas, tácticas de combate, comando e comportamento em situação de crise, defesa contra o gás policial sobre manifestantes, construção de barricadas e, especialmente, tiro, incluindo o uso de armas de snaipers.

Esta formação foi realizada em setembro de 2013, quando os protestos da Praça Maidan são supostos ter sido uma resposta a um decreto suspendendo as negociações com vista à assinatura do Acordo de Associação com a União Europeia, acordado pelo primeiro-ministro Mykola Azarov a 21 de novembro.

O semanário precisa que há fotografias atestando este treino. Ele mostra os ucranianos em uniformes nazistas com os seus professores polacos, à civil.

Estas revelações justificam um novo olhar sobre a resolução, aprovada no início de dezembro de 2013 pela Dieta polaca, segundo a qual o Parlamento afirmava a sua «total solidariedade com os cidadãos ucranianos que, com uma forte determinação mostram ao mundo a sua vontade em assegurar a adesão plena do seu país à União Europeia». Claro que, os parlamentares ignoravam então que o seu país tinha, préviamente, formado os indivíduos que tentaram —e conseguiram—tomar o poder.

Este escândalo ilustra o papel atribuído pela Otan à Polónia na Ucrânia, que podemos comparar ao que foi atribuído à Turquia na Síria. Foi realizado pelo governo do pró-europeu liberal Donald Tusk. O ministro dos Negócios Estrangeiros, o jornalista Radosław Sikorski, ex-refugiado político no Reino Unido, foi o cérebro por trás da integração da Polónia na Otan. Como membro do «Triângulo de Weimar», ele foi um dos três representantes da União Europeia a negociar o acordo de 21 de fevereiro de 2014 entre o presidente Viktor Yanukovych e os três principais líderes EuroMaidan [1]. É claro que o presidente ucraniano ignorava que ele tinha formado os agitadores. Quanto ao ministro do Interior, e coordenador dos serviços especiais, Bartłomiej Sienkiewicz (bisneto do escritor Henryk Sienkiewicz, autor de Quo Vadis?), foi um dos fundadores do actual serviço secreto polaco, o Gabinete de Defesa do Estado (Urzd Ochrony Państwa). Ele foi também, durante muito tempo, director-adjunto do Centro de Estudos de estudos Orientais (Ośrodek Studiów Wschodnich), um centro nacional de pesquisa sobre a Europa Oriental e os Balcãs, em particular sobre a Ucrânia e a Turquia. Este instituto exerce uma profunda influência sobre a percepção ocidental quanto aos acontecimentos actuais, via os seus acordos com a Fundação Carnegie [2].

Durante o governo de Yulia Tymoshenko (2007-2010), o actual presidente interino da Ucrânia, Oleksandr Tourtchynov foi chefe dos serviços secretos inteligência, depois vice-Primeiro ministro. Ele trabalhou, à época, com os polacos Donald Tusk (já primeiro-ministro), Radosław Sikorski (então ministro da Defesa) e Bartłomiej Sienkiewicz (diretor da empresa de informação privada OTHAGO ASBS).

Para derrubar o governo do seu vizinho, a Polónia contou com activistas nazis, do mesmo modo como a Turquia se apoia sobre a Al-Qaida para derrubar o governo sírio. Não só não é surpreendente ver as actuais autoridades polacas apoiarem-se nos netos dos nazis, que a CIA integrou na rede Gladio da Otan para lutar contra a União Soviética, como nos lembra a polémica que eclodiu aquando da eleição presidencial polaca de 2005: O jornalista, e deputado, Jacek Kurski revelou que Józef Tusk, o avô de Donald Tusk, se alistara voluntáriamente na Wehrmacht. Depois de de ter negado os factos, o Primeiro-ministro, acabou por admitir que o seu avô havia, efectivamente, servido no exército nazista, mas alegou que ele havia sido alistado à força após a anexação de Dantzig. Uma recordação que nos diz muito sobre como Washington seleciona os seus agentes na Europa Oriental.

Em resumo, a Polónia(Polônia-Br) formou agitadores para derrubar o presidente democraticamente eleito da Ucrânia, e fingiu negociar com ele uma solução de apaziguamento, a 21 de fevereiro de 2014, enquanto os seus agitadores estavam em vias de tomar o poder.

Além disso, não há dúvida nenhuma que o golpe de Estado foi comanditado pelos Estados Unidos, como o atesta a conversa telefónica entre a assistente do secretário de Estado, Victoria Nuland, e o embaixador Geoffrey R. Pyatt [3]. Da mesma forma, está claro, que outros membros da Otan, nomeadamente a Lituânia (em tempos antigos a Ucrânia foi dominado pelo império lituano-polaco), e Israel, na sua qualidade de membro de facto do Estado-Maior Atlântico, participaram do golpe [4]. Este arranjo sugere que a OTAN tem agora uma nova rede Gladio na Europa de Leste [5]. Além disso, após o golpe, mercenários americanos de uma filial da empresa Academi ( a Greystone Ltd.) foram metidos no país em conexão com a CIA [6].

Estes factos modificam, profundamente, a percepção que poderíamos ter do golpe de Estado de 22 de fevereiro de 2014. Elas contradizem o argumentário transmitido pelo Departamento de Estado dos EUA aos jornalistas (pontos 3 e 5 da nota de 5 de Março) [7] e constituem um acto de guerra no Direito Internacional. Portanto, a retórica dos ocidentais sobre os acontecimentos, incluindo aqui a adesão da Crimeia à Federação da Rússia, e os levantamentos actuais no Leste e Sul da Ucrânia, é nula e desprovida de conteúdo.

Tradução
Alva

[1«Accord sur le règlement de la crise en Ukraine» (Fr-«Acordo sobre a resolução da crise na Ucrânia»-ndT), Horizons et débats (Suisse), Réseau Voltaire, 21 février 2014.

[2«La Fundación Carnegie para la paz internacional», Red Voltaire, 25 août 2004.

[3«Conversación entre la secretaria de Estado adjunta y el embajador de Estados Unidos en Ucrania», Oriental Review, Red Voltaire, 8 de febrero de 2014. «Revelada a Agenda Secreta de Ashton e Nuland», por Wayne Madsen, Rede Voltaire, Washington D.C. , 12 de Março de 2014

[4«Militares israelíes en Maidan», Red Voltaire, 3 de marzo de 2014.

[5«O novo Gladio na Ucrânia», de Manlio Dinucci, Rede Voltaire, 23 de março de 2014.

[6«Mercenarios U.S. colocados no Sul da Ucrania», e «Director da CIA em Kiev buscando seus mercenarios», Rede Voltaire, 5 de Março e 18 de Abril de 2014.