John Kerry e o seu homólogo saudita, o ultra-reacionário príncipe Al-Faiçal.

A implementação do plano de paz para a Síria, negociado entre Russos e Norte- americanos, patina. Primeiro foi o atraso na confirmação da nova equipa de defesa dos EU pelo Senado. Depois, as declarações contraditórias, para não dizer incoerentes, do novo secretário de Estado, John Kerry.

Seja como for, dois elementos novos podem ser estabelecidos.

O activismo da Arábia Saudita e do Catar reforçou-se com o acordo aparente do departamento de Estado.

Aquando de uma conferência de imprensa comum com o seu homólogo saudita, John Kerry repetiu primeiro, por duas vezes, o seu empenho para uma «solução pacífica» na Síria. Mas dois minutos mais tarde, ele aprovou o envio pela Arábia saudita de armas à oposição síria «moderada». Kerry reiterou as suas contradições aquando da sua passagem pelo Catar.

Simbolicamente, a Arábia Saudita e o Catar fizeram atribuir à Coligação nacional síria o lugar da Síria na Liga árabe. Por outro lado, a seu pedido, a Liga autorizou os seus membros a armar os «rebeldes sírios». É impossível que certos membros da Liga tenham votado estas decisões sem se terem assegurado previamente da luz verde do Sr. Kerry.

No Direito internacional, o facto de se reivindicar ou de aprovar o envio unilateral de armas para grupos rebeldes, ao arrepio de uma resolução do Conselho de segurança, constituiu um crime. Se a Síria apresentasse uma queixa diante do Tribunal internacional de Justiça, ela obteria de uma penada uma condenação da Arábia Saudita, do Catar, dos Estados-Unidos, da Liga árabe e de quaisquer outros em virtude da jurisprudência «Nicarágua contra os EUA» (1984).

A iniciativa da Liga árabe priva de toda a credibilidade o representante especial do seu secretário geral, Lakhdar Brahimi. O velho diplomata não pode, mais, esperar jogar o papel de mediador já que ele representa de facto uma parte do conflito, a Coligação nacional síria, mesmo se aquela não ocupa ainda o lugar que lhe foi atribuído.

Os Israelitas multiplicaram os salamaleques para fazer esquecer a sua ingerência na campanha presidencial dos EU. Vindo a Washington para participar na conferência anual da AIPAC – (sigla em inglês para o Comité de Relações Públicas Israelo- Americano, NdT) , o general Ehud Barak multiplicou a lisonja às autoridades dos EU, assegurando que nunca como agora elas tinham estado tão próximas, (no sentido político - ver artigo no Voltairenet.org sobre E.Barak no AIPC, NdT),do Estado de Israel. Em relação ao Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, esse renunciou, pela primeira vez, à viagem e preferiu intervir por vídeo, para não ter de se encontrar cara- a-cara com os dirigentes que lhe iriam pedir contas – (referente ao apoio de Netanyahu a Mitt Romney). A tempestade foi assim desviada para uma questiúncula pessoal afim de não afectar as relações de Estado a Estado.

Ehud Barak foi recebido no Pentágono por Chuck Hagel, o seu homólogo dos EU, com o qual no passado tinha mantido boas relações. O Israelita conseguiu que a ajuda dos EU (cerca de 3 biliões de dólares anuais) não seja atingida pelas restrições orçamentais. Em contrapartida, ele cedeu sobre a Síria. No comunicado de imprensa do departamento da Defesa, está detalhado que as duas partes discutiram assuntos comuns de segurança «incluindo a necessidade para o regime sírio de manter o controlo sobre as armas químicas e biológicas no seu território; os líderes comprometeram-se a prosseguir a planificação das medidas de urgência para contrariar esta ameaça potencial».

Por outras palavras, Washington e Telavive não encaram mais uma «mudança de regime» em Damasco, e estão decididos a ajudar o exército árabe sírio a conservar o controlo das suas armas químicas e biológicas face aos ataques dos jihadistas.

Israel retira-se do conflito. Resultado: dois dias após este volte-face, descobria-se e desmantelava-se no litoral sírio um complexo sistema de comunicações e de observação electrónica israelita.

Definitivamente, os Estados-Unidos buscam desengajar-se, militarmente, a si próprios e ao seu alter ego israelita, enquanto encorajam os seus aliados do Golfe à escalada militar e ao bloqueio diplomático. É ainda muito cedo para saber se eles armam um jogo duplo e estendem uma armadilha à Rússia em detrimento do povo sírio, ou se empurram os seus aliados do Golfo para um impasse para melhor poder impor-lhes a solução que negociaram com Moscovo.

Tradução
Alva
Fonte
Al-Watan (Síria)