Este artigo é extraído do livro Sob os nossos olhos.
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Os Serviços Secretos do exterior franceses (DGSE) militam pelo «ostracismo diplomático do regime sírio» e « uma ajuda substancial no plano militar às brigadas do Exército livre ». Para convencer a opinião pública francesa, fazem subir à ribalta Bassma Kodmani, a amante do seu antigo director, Jean-Claude Cousseran, tornada porta-voz da oposição síria em França. A sua irmã, Hala Kodmani difunde a propaganda da DGSE no quotidiano de esquerda « Libération ».

O Povo sírio pronuncia-se

Enquanto Bassma Kodmani, a porta-voz da «oposição síria» – e companheira do antigo director dos Serviços Secretos franceses Jean-Claude Cousseran – declarara que «o regime é incapaz de organizar uma eleição presidencial [e que] isto é bem a prova que é uma ditadura», um novo Código eleitoral é adoptado —conforme às normas ocidentais— e a eleição é convocada.

Até agora, o Presidente era nomeado pelo Partido Baath, depois validado por referendo. Pela primeira vez, ele será eleito por sufrágio universal directo. É pouco provável que a Coligação Nacional das Forças da Oposição e da Revolução apresente um candidato, não por causa da cláusula exigindo que os candidatos tenham habitado na Síria durante os últimos dez anos, mas porque os grupos armados são violentamente opostos à democracia. Segundo eles, tal como tem formulado a Confraria dos Irmãos Muçulmanos, «o Alcorão é a nossa Constituição» e qualquer escrutínio é ilegítimo. Não há, pois, dúvida que o candidato do regime será eleito. No entanto a sua legitimidade irá depender não da percentagem de sufrágios expressos em seu favor, mas do número destes votos e da sua representatividade em comparação com o total da população.

Para sabotar as eleições, tudo deve pois ser feito para impedir estes Sírios, os que o desejem, de nelas participar. Em 22 milhões de Sírios, menos de 2 milhões vivem nas « zonas libertadas » e, portanto, não participarão na votação. Outros 2 milhões estão refugiados na Jordânia, no Líbano, na Turquia e na Europa. A França consegue convencer os seus parceiros europeus a segui-la e a proibir a colocação de gabinetes de voto nos Consulados sírios, em violação da Convenção de Viena de 24 de Abril de 1963. Apresentada queixa por refugiados quanto a este abuso de poder [1], o Conselho de Estado declara-se incompetente para julgar. Enquanto, por seu lado, os «Amigos da Síria» denunciam uma «paródia de democracia» visando «prosseguir a ditadura».

A eleição opõe três candidatos: o comunista Maher el-Hajjar, o liberal Hassan al-Nouri e o baathista Bashar al-Assad. O Estado fornece aos candidatos os meios para realizar a sua campanha e garante a sua segurança. Os média dão-lhes cobertura. De facto, se os eleitores seguem com interesse as propostas de uns e de outros, al-Assad está numa situação comparável à de Gaulle em 1945. A escolha é, ou a de o apoiar para garantir a sobrevivência da República Árabe Síria, ou de não votar e se colocar do lado dos jiadistas.

Segundo a polícia libanesa, são mais de 100 000 os refugiados sírios a juntarem-se em volta da embaixada da Síria em Beirute para eleger o seu Presidente da República, apesar das fátuas da oposição e das pressões dos Ocidentais;

Antes que o escrutínio abra na Síria, os refugiados, que o desejem, são convidados a votar. A propaganda ocidental convenceu os Sírios que os refugiados são todos «oposicionistas ». Ora, a maioria, quando os interrogamos, assegura ter deixado a sua Pátria por causa dos combates e não «por causa da ditadura». A 28 e 29 de Maio de 2014, o escrutínio no Líbano, onde é permitido na embaixada, movimenta uma multidão de pelo menos 100.000 pessoas segundo a Segurança geral libanesa, o que bloqueia toda a capital. O Exército intervêm para dispersar o ajuntamento, mas surge gente vinda de toda a parte. Ultrapassada, a embaixada tem de prolongar o horário e, depois, até as datas para a votação. É uma bela surpresa para os Sírios da Síria e um choque para as chancelarias ocidentais [2].

No fim, apesar dos apelos ao boicote, vão às urnas 73,42% dos Sírios em idade de votar [3]. No terreno estão 360 média estrangeiros, e todas as embaixadas em funções em Damasco atestam o bom desenrolar da eleição. Bashar al-Assad obtém 10.319.723 votos, ou seja 88,7% dos sufrágios expressos e 65% da população em idade de voto. O candidato liberal, Hassan al-Nuri, obtém 500.279 votos e o candidato comunista, Maher el-Hajjar, 372.301 votos.

Durante esta campanha, a França e os seus aliados, empurrados por Jeffrey Feltman, tentaram fazer com que o Conselho de Segurança imponha a jurisdição do Tribunal Penal Internacional na guerra civil síria. É claro que o projecto de Resolução designava o conjunto de actores Sírios, tanto a República como os jiadistas, mas antecipava que a Procuradora, Fatou Bensouda, pudesse agir como o seu antecessor, Luis Moreno Ocampo, tinha feito na Líbia: cumprir as ordens da OTAN.

Este projecto de Resolução seguiu as acusações do relatório «César» e do escritório Carter-Ruck, bem como as do diário Le Monde, segundo o qual a «ditadura alauíta» viola sistematicamente as mulheres sunitas da Oposição. A jornalista do Le Monde, Annick Cojean, publica o testemunho de uma vítima que afirma : «Nós éramos violadas diariamente aos gritos : “Nós, alauítas, vamos arrasar-vos”» Cojean, presidente do Prémio Albert Londres, fora formada na Fundação Franco-Americana. Foi ela que publicou, um ano após a morte do Guia, Les proies : dans le harem de Kadhafi («As presas : no harém de Kadhafi») [4], um livro fantasioso que o acusa de ter violado inúmeras crianças, pretendendo justificar assim, a posteriori, e sem o menor indício de prova, a destruição da Líbia.

Mas após a triunfal eleição democrática de Bashar al-Assad, quem pode ainda crer na crueldade, nas torturas generalizadas e na «ditadura alauíta»? O projecto francês de Resolução é rejeitado pela Rússia e pela China que opõem o seu quarto veto.

A França é mantida à parte da formação do Daesh (E.I.) pelos Estados Unidos. Ela descobre com surpresa que este novo actor altera os seus planos. É um imenso exército terrestre super equipado. Aqui um campo de treino na fronteira israelita.

O Daesh e o Califado

Surge um conflito no seio da Alcaida. Os Sírios do Estado Islâmico no Iraque, que formaram a Frente para a Vitória (em árabe «Jabhat al-Nusra», dita «Al-Nusra»), entram em disputa com a casa-mãe quando os Iraquianos do Emirado se deslocam, eles também, para a Síria. Quando o conflito degenera em batalha declarada, a França e a Turquia apoiam os Sírios contra os Iraquianos. Ambos enviam munições à Al-Nusra, através do saco vazio que é o Exército Sírio Livre. No entanto, os combates entre as duas organizações não são generalizados. Por exemplo, na zona de Qalamoun (ou seja, na fronteira libanesa) são sempre os mesmos que assumem uma das duas bandeiras conforme a oportunidade.

Quando em Maio de 2014, a Turquia anuncia à França que ela participa junto com a Arábia Saudita, os Estados Unidos, Israel, a Jordânia, o Governo Regional curdo iraquiano, as Tribos sunitas e a Ordem dos Naqchbandis iraquianos, assim como a Noruega na preparação de uma vasta operação com o Emirado Islâmico no Iraque, a guerra interna pára.

Hillary Clinton e Barack Obama (então candidatos à presidência dos EUA) apresentaram o interesse estratégico da Confraria dos Irmãos Muçulmanos ao “think-tank” da OTAN, o Grupo de Bilderberg, em 2008, durante uma reunião no hotel Marriott de Chantilly (EUA).

A França coloca à disposição Forças Especiais e a multinacional Lafarge. Aqui é necessário fazer um breve recuo. Em Junho de 2008, a OTAN organizava a reunião anual do Grupo de Bilderberg [5], em Chantilly (Estados Unidos), na qual Hillary Clinton e Barack Obama se apresentaram aos participantes. Entre os 120 participantes estavam Basma Kodmani (a futura porta-voz da Coligação Nacional Síria) e Volker Perthes (o futuro assistente de Feltmann, na ONU, para a Síria). Durante um debate sobre a continuidade da política externa norte-americana, eles intervieram para apresentar a importância dos Irmãos Muçulmanos e do papel que estes podiam jogar na « democratização » do mundo árabe. Jean-Pierre Jouyet (o futuro secretário-geral do Eliseu), Manuel Valls (o futuro Primeiro-Ministro) e Bertrand Collomb (o patrão da Lafarge) estavam presentes ao lado de Henry R. Kravis (o futuro coordenador financeiro do Daesh-E.I. e mecenas de Emmanuel Macron).

Regressemos à nossa história. A Lafarge é a líder mundial das cimenteiras. A OTAN, —para quem ela já secretamente trabalhara em 1991— confia-lhe a construção dos bunkers dos jiadistas na Síria e a reconstrução da parte sunita do Iraque. Em troca, a Lafarge deixa a Aliança gerir as suas instalações nestes dois países, nomeadamente da fábrica de Jalibeh (na fronteira turca, a norte de Alepo). Durante dois anos, a multinacional fornece o material de construção para gigantescas fortificações subterrâneas que permitem aos jiadistas desafiar o Exército Árabe Sírio. A Lafarge é no momento dirigida pelo Norte-americano Eric Olsen, que integrou na companhia as fábricas dos Irmãos Sawiris e de Firas Tlass (o irmão do General Manas Tlass, que a França tinha pensado tornar no próximo Presidente sírio). As ligações entre a Lafarge e as Forças Especiais francesas são facilitadas pela amizade que liga Bertrand Collomb (agora o presidente honorário da multinacional) e o General Benoît Puga (que continua a ser o Chefe de Estado-Maior do Presidente Hollande).

A fábrica (usina-br) da Lafarge de Jalabiyeh produz 6 milhões de toneladas de cimento para construir numerosíssimas fortificações subterrâneas do Daesh. Simultaneamente ela abriga Forças Especiais da OTAN (França, Noruega, Reino Unido e EUA). Aqui, soldados do Daesh(E.I.) na fábrica.

Assim que o jornal “on-line” Zaman Al-Wasl publica elementos [6] mostrando que a Lafarge manda dinheiro ao Daesh(E.I.), o quotidiano Le Monde surge em socorro. Ele vai publicar a sua versão dos acontecimentos, garantindo que o que a multinacional pagava era petróleo para poder operar a sua fábrica. O que é falso, já que esta instalação funciona a carvão que continuava a ser fornecido a partir da Turquia. O Le Monde admite no entanto que, provavelmente sem se dar conta, a Lafarge construía as fortificações do Daesh, na medida em que admite que os 3 milhões de toneladas de cimento produzido anualmente eram destinadas às «zonas rebeldes».

A quantidade de cimento produzido pela Lafarge destinada ao Daesh(E.I.) —pelo menos 6 milhões de toneladas— é comparável à utilizada pelo Reich alemão, em 1916-17, para construir a linha Siegfried. Desde Julho de 2012, tratava-se não mais já de uma guerra de quarta geração, mascarada de revolução, mas, sim de uma clássica guerra de posições. Esta produção irá parar com a intervenção da Força Aérea russa, a única capaz de destruir estes bunkers. Nesta altura, a fábrica de Jalibeh será transformada em quartel-general das Forças especiais da OTAN (Estados Unidos, França, Noruega, Reino Unido).

À margem da manifestação « Je suis Charlie » de 11 de Janeiro de 2015, reuniram-se 56 chefes de Estado e de Governo numa rua adjacente ao cortejo e posaram alguns minutos perante as câmaras (câmeras-br) antes de regressar a casa. Com base nessas imagens, eles foram apresentados como líderes de uma manifestação à qual eles jamais se associaram.

Em 7 de Janeiro de 2015, dois indivíduos vestidos como comandos militares e reivindicando-se da Alcaida assassinam em Paris membros da redacção do semanário satírico Charlie-Hebdo, enquanto um terceiro reclamando-se do Daesh mata uma mulher-polícia e toma clientes de uma loja de conveniência como reféns. Como de costume desde o 11-de-Setembro, os terroristas semeiam atrás deles pistas permitindo a sua identificação, na ocorrência os documentos de identidade. O governo exagera a sua reacção e o país inteiro cede à estupefacção, depois ao medo. O Presidente Hollande e diversos chefes de Estado desfilam com mais de 1 milhão de Franceses ao grito de «Nós somos todos Charlie!». Entre eles, os principais aliados da França contra a Síria: Benjamin Netanyahu (Israel) e Ahmet Davutoğlu (Turquia), os quais apoiam publicamente os jiadistas.

Como eu contesto esta fantochada e numerosas pessoas recusam «ser Charlie», a directora de Informação da France2, Nathalie Saint-Criq, intervém no jornal televisivo para fustigar os “conspiracionistas” que é preciso «identificar, abordar, integrar ou reintegrar na comunidade nacional». Mais tarde, ficaremos a saber que os terroristas compraram as suas armas a um ex-mercenário trabalhando para a polícia [7] e o inquérito será interrompido pelo «segredo de Defesa» [8], que dois de entre eles foram treinados por um agente da DGSE [9], e que os chefes de Estado posaram à parte para os fotógrafos, mas jamais desfilaram em Paris. Pouco importa, o governo decretou o Estado de Emergência que é aprovado pelo Parlamento. Ele estende-se não só à França metropolitana mas também aos Departamentos e Territórios de além-mar. É renovado quatro vezes e prolonga-se até hoje, segundo o modelo do USA Patriot Act.

Renegando os compromissos de Alain Juppé para a criação de um Curdistão na Síria, o Presidente François Hollande recebe no Eliseu uma delegação de combatentes anti-Turcos do PKK.

Em aplicação do Tratado secreto Juppé/Davutoğlu de 2011, François Holland encara a criação de um «Curdistão» fora dos territórios curdos históricos, assim, organiza um encontro secreto no Eliseu, em 31 de Outubro de 2014, entre o seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdoğan e o co-presidente dos Curdos da Síria, Salih Muslim, ao qual ele promete a presidência do futuro Estado. Entretanto, logo no início de 2015, o outro co-presidente dos Curdos da Síria, Asya Abdullah, chega à vitória em Kobané e é incensada pelos Norte-americanos, Hollande recebe-a oficialmente, em 8 de Fevereiro de 2015, acompanhada por uma outra mulher, fardada como oficial.

O Comissário Patrick Calvar, director central do Renseignement intérieur (Serviços de Segurança Interna), confirma perante deputados ter identificado o Estado comanditário dos atentados de 13 de Novembro de 2015 (o Bataclan). Ele tudo fará para evitar nomeá-lo. Esta revelação será suprimida da acta oficial da sua audição.

Esta reviravolta de circunstâncias provoca a fúria de Erdogan que comandita os atentados de 13 de Novembro em Paris. No segundo andar do Bataclan, reféns são torturados e mutilados, outros decapitados. Cabisbaixo, François Hollande interdita a publicação desta informação que figurará no entanto num relatório parlamentar [10]. Patrick Calvar, o Director-geral da Contra-espionagem, confirmará perante uma Comissão parlamentar que os seus Serviços identificaram o Estado que deu a ordem. Fugindo das suas responsabilidades, o Presidente irá organizar lacrimejantes cerimónias de luto e irá persuadir os seus concidadãos que o terrorismo é uma praga inevitável. Institui uma medalha de «reconhecimento às vítimas do terrorismo» e indemnizará o «dano pela angústia de morte iminente» e mesmo o «dano por espera». Mas, não empreenderá nenhuma acção contra a Turquia. Essa irá comanditar um outro crime, cinco meses mais tarde, contra a Bélgica no aeroporto de Bruxelas-Zaventem e em frente à sede da Comissão Europeia, no preciso local onde o PKK acabava de se manifestar.

A imprensa britânica revela que Mohammed Abrini, o único soldado do Daesh(E.I.) que participou em ambos os atentados de Paris e de Bruxelas, é um informador dos Serviços Secretos de Sua Majestade (MI6).
Edição especial do Star (próximo do AKP) de 23 de Março de 2016 intitulado : « A serpente que a Bélgica alimentava no seu seio mordeu-a », fazendo referência ao discurso pronunciado pelo Presidente Erdogan, em 18 de Março.

Longe de mascarar a sua responsabilidade, Recep Tayyip Erdoğan pronuncia um discurso tonitruante, durante a cerimónia do 101º aniversário da batalha de Çanakkale («a batalha de Dardanelos»), ou seja, quatro dias antes dos atentados, contra a Bélgica [11]. Aí, ele acusa os Europeus de apoiar o PKK e anuncia o que se vai passar em Bruxelas. No dia a seguir ao atentado, a imprensa do AKP (Star, Akit, Internethaber) clama que os Europeus só tem o que merecem [12].

Para dar a impressão que está ao ataque contra o Daesh(EI), a França desloca o porta-aviões Charles De Gaulle, sucessivamente em Fevereiro/Março e em Novembro/Dezembro de 2015. Ele é escoltado por uma impressionante força-tarefa e equipado com 32 aparelhos (drones, helicópteros e aviões). Aquando da sua segunda missão, o Presidente Hollande vai a bordo e sublinha que o navio comandará um dispositivo internacional de envergadura. Na realidade, os Franceses foram integrados na Task Force 50 da USNavCent, quer dizer a frota do Comando Central dos EUA. Bom, a frota dos sessenta navios é comandada pelo Contra-almirante René-Jean Crignola, mas, este está colocado sob autoridade do comandante da Vª Frota, o Vice-almirante Kevin Donegan, ele próprio colocado sob as ordens do General Lloyd J. Austin III, comandante do CentCom. É, com efeito, uma regra absoluta do Império, o comando de operações aliadas recai sempre em oficiais norte-americanos, não sendo os Europeus mais do que auxiliares.

Em finais de 2015, a França envia o seu Primeiro-Ministro, Manuel Valls, recolher dinheiro fácil na Arábia Saudita. Fala-se de 3 mil milhões (bilhões-br) em encomendas para o Exército libanês e de 10 mil milhões de outros contratos. Mas os Sauditas estão furiosos com o acordo sobre o programa nuclear iraniano –-que os Franceses se tinham comprometido a sabotar--- e não apreciam nada as hesitações de Paris na Síria. Os Franceses demonstram não ser mais do que vassalos caros e ineficazes. A colheita será, pois, bem menor que o previsto e as «prendas» igualmente.

No início de 2016, os Franceses não piam quando François Holland nomeia Laurent Fabius Presidente do Conselho Constitucional. Contrastam nisso com os Iranianos. Estes recebem-no após a assinatura do acordo nuclear dos 5+1. Ele esperava forjar relações de negócio, embora tenha tentado sabotar o acordo durante anos a fio e ter confessado, durante um jantar, ter espiado em proveito de Israel, ao qual comunicava um relato das negociações à medida da sua evolução. Foi, por isso, recebido com as honras protocolares devidas à sua posição pelas autoridades, enquanto as associações revolucionárias se manifestavam à sua passagem, desde a sua chegada ao aeroporto até à sua partida. Elas brandiam cartazes lembrando a sua responsabilidade na morte de mais 2. 000 hemofílicos, em 1985-86, bem como o seu apoio à Alcaida, que «faz um belo trabalho» matando várias dezenas de milhares de Sírios.

Jean-Marc Ayrault substitui-o como Ministro dos Negócios Estrangeiros. Muito preocupado pelo fosso que se cava entre a França e a Alemanha, consagra a sua energia a evitar este divórcio. Ao agir assim, sacrifica o dossiê sírio e, após algumas semanas de hesitações, decide manter as posições dos seus predecessores, Juppé e Fabius.

Ayrault não mantêm nenhuma relação com o novo Primeiro-ministro, Manuel Valls e trata directamente com François Hollande. O Presidente decide tomar ele próprio em mãos a questão síria.

Se Ayrault é um apoiante moderado de Israel, Valls é muito mais duro sobre o assunto. Ele entra assim em conflito com o Presidente Hollande à propósito de trabalhos arqueológicos empreendidos por Telavive, em Jerusalém, em detrimento dos monumentos muçulmanos. Outrora empenhado na causa palestiniana, atribui a sua reviravolta ao seu casamento com a violonista franco-israelita Anne Gravoin.

Em Nice, um novo atentado faz 86 mortos e 484 feridos. O Presidente Hollande continua a mentir aos seus concidadãos para mascarar a sua responsabilidade. Os Franceses continuam sem compreender as consequências do que se faz em seu nome na Síria.

Durante o dia nacional, 14 de Julho de 2016, um individuo reclamando-se do Daesh(EI), Mohamed Lahouaiej-Blanco, esmaga com um camião transeuntes ao acaso no Passeio dos Ingleses, fazendo 86 mortos e 484 feridos. Muito embora jamais, em lado algum, alguém tenha conseguido matar e ferir tantas pessoas com um veículo, os investigadores asseguram que o homem não recebeu nenhuma formação particular e que agira sozinho. Ora, a sua família acabara de receber 100.000 euros, na Tunísia, sem que se procure saber quem pagou por este crime. Enquanto se está sob Estado de Emergência, acontece que o terrorista pôde agir tanto mais facilmente quando 60 gendarmes haviam sido deslocados de Nice para Avignon para garantir a segurança do Presidente Hollande que jantava com a sua amante e comediantes.

Em Paris, entretanto, comenta-se o avanço dos jiadistas na Síria salientando que o regime não controla, agora, mais que 20% do território e em breve vai cair. Na realidade, dois terços da Síria são um deserto que ninguém controla, nem a República, nem os jiadistas. O Presidente Al-Assad fez a escolha de defender a sua população mais do que o seu território. Pelo menos 8 milhões Sírios escolheram fugir dos jiadistas e de se refugiar nas cidades da República. Nenhum é conhecido por ter feito o caminho inverso: das zonas governamentais para as dos jiadistas.

Assim, François Hollande é tomado de fúria quando, em Fevereiro de 2015, fica a saber da viagem para Damasco de dois senadores, Jean-Pierre Vial (Les Républicains) e François Zocchetto (Centrista), e de dois deputados, Jacques Myard (Les Républicains) e Gérard Bapt (PS). Uma segunda viagem, em Setembro de 2015, leva de novo Gérard Bapt, acompanhado desta vez dos deputados Jérôme Lambert (PS) e Christian Hutin (Chevenementista). Depois uma terceira, em Março de 2016, reúne deputados (Les Républicains) em torno de Thierry Mariani, com Valérie Boyer, Nicolas Dhuicq, Denis Jacquat e Michel Voisin. E finalmente uma quarta, em janeiro de 2017, com os mesmos e Jean Lassalle (centrista). Todos, salvo Gérard Bapt, são recebidos pelo Presidente Al-Assad.

É que o socialista Bapt, veio também em negócios. Ele representa a Grande Loja da Aliança Maçónica Francesa (GLAMF) –-directamente dependente do Príncipe Edward, Duque de Kent---, uma cisão da Grande Loja Nacional Francesa (GLNF), criada por Alain Juillet (antigo chefe da Inteligência económica no Secretariado-Geral da Defesa nacional) por conta dos Britânicos. Ele encontra-se com homens de negócio e promete-lhes fazê-los sair da lista de sanções europeias a troco de avultados e sonantes subornos. Claro que ele não tem qualquer poder na matéria. É acompanhado por um outro escroque, Jérôme Toussaint, hoje em dia preso em França.

A terceira viagem põe em destaque a presença na Síria da associação SOS Cristãos do Oriente, que recruta principalmente entre a Frente Nacional. Se os seus voluntários se empenham graciosamente –-a suas próprias expensas---, a sua actividade em favor exclusivamente dos Cristãos ligados a Roma estabelece uma discriminação em relação aos Ortodoxos. Os milhões de euros recolhidos em França são desviados e jamais chegam à Síria. As autoridades religiosas locais começam a aborrecer-se quando estes Cristãos do Ocidente, renovando com o espírito das cruzadas, celebram uma missa nas ruínas do Krak dos Chevaliers, a imponente fortaleza em cruz do século XII. Os jovens ignoravam que à época, os Cristãos do Levante tinham defendido o seu país contra os invasores cruzados que eles equiparavam a conquistadores imperialistas.

Resumindo, enquanto a França mergulha no declínio, os seus líderes não conseguem formar uma frente anti-imperialista, portanto condição prévia indispensável para uma recuperação económica. Apenas algumas formações tomam posição contra esta guerra colonial: a Frente Nacional de Marine Le Pen, o Partido Cristão-Democrata de Jean-Frédéric Poisson, “Debout la France” de Nicolas Dupont-Aignan, a União Popular Republicana de François Asselineau, e o grupo dos Republicanos em torno de François Fillon, e a França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon.

Privada de informações do terreno depois do fecho da sua embaixada, incapaz de analisar a origem dos acontecimentos, embora buscando sempre fazer crer que ela é que os lança, a França não previu, como é evidente, o que se vai seguir.

(Continua …)

Tradução
Alva

Este livro está disponível em Francês, Espanhol, Russo, Inglês e Italiano em versão em papel.
Possui versão já traduzida em Língua Portuguesa (à atenção de possíveis Editores-NdT).

[1«Francia, culpable de prohibir la elección presidencial siria», por Damien Viguier, Red Voltaire , 19 de mayo de 2014.

[3«73,42 % de participación en la elección presidencial siria », Red Voltaire , 4 de junio de 2014.

[4Les Proies  : dans le harem de Kadhafi, Annick Cojean, Grasset (2012).

[5Aquilo que você não sabe sobre o Grupo Bilderberg”, Thierry Meyssan, Tradução David Lopes, Komsomolskaïa Pravda (Rússia) , Rede Voltaire, 29 de Abril de 2011.

[6Lafarge-Holcim e-mails”, Voltaire Network, March 24, 2017.

[7«Las armas de la masacre de Charlie-Hebdo fueron adquiridas a través de un ex combatiente croata», por Marijo Kavain, Slobodna Dalmacija (Croacia) , Red Voltaire , 15 de enero de 2016.

[9«Elementos del caso Coulibaly recuerdan el papel de la inteligencia francesa en 1999», por Thierry Meyssan, Alexis Kropotkine, Red Voltaire , 29 de mayo de 2015. «En relación con mi entrevista sobre el caso Hermant-Coulibaly», por Thierry Meyssan, Red Voltaire , 1ro de junio de 2015.

[10Rapport fait au nom de la Commission d’enquête parlementaire relative aux moyens mis en œuvre par l’État pour lutter contre le terrorisme depuis le 7 janvier 2015 (2 Vol.), sous la présidence de George Fenech, Assemblée nationale, 5 juillet 2016.

[11Erdoğan ameaça a União Europeia”, Recep Tayyip Erdoğan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 18 de Março de 2016.

[12Turquia reivindica o banho de sangue de Bruxelas”, Savvas Kalèndéridès, Tradução Alva, Rede Voltaire, 28 de Março de 2016.